Capítulo IX

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— QUÊ?! Mas não foi você que disse que era prudente fingirmos por um tempo que não está acontecendo nada entre nós?! Como vou praticamente fugir com você pra Paris, Júlia? — perguntei atônita com a sua proposta.

— Eu sei, eu sei! Mas, olha, dei um tempo pra Anita tirar as coisas dela do meu apartamento e não quero ficar lá enquanto isso. Outra coisa, entro de férias hoje e sei que você não precisa voltar para o Brasil com tanta urgência. É o universo conspirando a nosso favor! E seria maravilhoso passarmos uns dias em Paris, só nós duas! Se você não for, vou ter que ir sozinha, porque preciso sair dessa cidade!

— Meu Deus, Júlia! Não sei o que pensar! E seus pais?! Eles vão ter certeza de nós...

— Um dia eles não vão ficar sabendo mesmo? — ela me interrompeu. — Se for agora ou depois tanto faz!

— Não sei... Isso é uma coisa tão impensada... Tão irresponsável! — disse me sentindo bem aflita. Estava em completa confusão mental.

— Meu amor, olha. — ela tocou em meu rosto outra vez. — Nós precisamos nos afastar disso tudo. Vai ser bom pra nós. E estaremos juntas! Não é isso que importa?

— É. Eu sei que seria maravilhoso nos afastar disso tudo! Mas não queria fazer mais nada precipitado, que, no fim, eu possa me arrepender...

— Então vamos fazer o seguinte: nós deixamos mensagens para eles contando tudo e dizendo que eu precisava sair da cidade urgentemente e que você, como uma boa madrinha... — ela deu um sorriso maroto, que me fez interrompê-la sem graça.

— Ai, Júlia, não fala assim...

— Você percebeu que eu estava muito aflita e resolveu vir comigo pra não me deixar sozinha.

— É, pode até ser uma boa... Apesar de eu achar que eles não vão acreditar muito nisso...

— Ah, dane-se! Pelo menos, nós ganharemos tempo e teremos um momento pra nós sem nos preocupar com ninguém.

Silenciei por alguns instantes, pensando sobre tudo isso e, enfim, respondi:

— Está certo! Eu vou com você! E seja o que Deus quiser...

Depois da primeira vez, já estava afeita a seguir meu coração e agir de acordo com minha vontade. Isso estava me trazendo uma sensação bem libertadora. Peguei um caderninho com o qual eu sempre andava na bolsa, tirei uma folha para ela e outra para mim e passamos a escrever as mensagens para Ana e Oscar. Enquanto escrevíamos, ela me lembrou:

— Não vai dizer para onde vamos, viu? Se eu conheço minha mãe, ela vai convencer meu pai a irem atrás de nós!

— Claro que não vou dizer, porque sei que ela faria isso com certeza! — eu dei um sorriso sem mostrar os dentes.

Após finalizarmos nossos bilhetes, peguei minha mala e, com a ajuda de Júlia, praticamente joguei tudo meu dentro dela com uma rapidez que não era do meu feitio, que demorava horas para arrumar uma mala pequena quando ia viajar. Assim que finalizei a arrumação desarrumada da minha mala, percebi que ela estava sem a dela e indaguei:

— E onde estão suas coisas?

— Dentro do meu carro. Vou deixar ele aqui e pedir para eles levarem para o meu apartamento depois.

Rapidamente ela desceu em busca da sua mala. Quando retornou deixamos os bilhetes em cima da mesa da sala de jantar. Minhas mãos não paravam de tremer e a adrenalina corria pelas minhas veias com força. Ela pôs a chave do seu carro em cima dos papéis e, sorrateiramente, saímos do apartamento. Na escuridão da madrugada silenciosa, pegamos um táxi na calçada do prédio em direção à estação de trem.

A AFILHADAOnde histórias criam vida. Descubra agora