Cinco - Duelo teórico

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A aparência do policial não era das melhores. Seus cabelos estavam embraçados e precisando de um novo corte, era possível ver pequenas mechas presas a testa por conta do suor. Sua barba não era feita a uma semana, mas não chamavam tanta atenção quanto o seu supercilio rasgado, por onde o sangue escapava com abundância. Melissa não sabia se sentia nojo ou pena do sargento.

Os olhos da garota ainda ardiam, e as sensações de enjoo ainda insistiam em brincar de ir e vir. Certamente a máscara não foi vestida a tempo de protege-la das bombas de gás. Uma sensação confusa tomava conta da garota naquele momento. Por um lado ela possuía o policial na mira, e com isso a oportunidade de descontar no mesmo, toda a selvageria que viu, ouviu, ou até mesmo sentiu nas mãos dos gorilas da PM. Porém, ela não queria se assemelhar a corja contra quem lutava.

Estava difícil respirar, quanto mais raciocinar. O visor da mascará estava embaçando, não era para acontecer isso. Era? Provavelmente ela esqueceu de abrir os filtros da mascará, isso explicaria tudo. Incluindo os enjoos e a ardência dos olhos. Não dava mais.

Tomada pelo impulso, e mais ainda por duvidar da competência do policial em descobrir sua identidade. Melissa simplesmente arrancou sua máscara, e para espanto de Batti, mostrou sua delicada face.

Foi então que ele pôde vê-la novamente. O mesmo rosto que vira na manifestação, um pouco corado pelo calor e pela corrida, e aqueles olhos perturbadoramente encantadores. Lindos e verdes, como uma esmeralda. Não. Eles são melhores que uma reles pedra verde, eles são vivos e hipnóticos. Mas ele não podia se iludir por sua aparência angelical, ela estava em posse de sua arma e sequer se preocupou em ocultar sua identidade. Para Batti, isso possuía um único significado. Era hora de tentar tomar o controle.

— Se você atirar em um policial, nunca mais terá liberdade em sua vida – o sargento rosnou para ela.

— Você fala como se isso fosse mudar alguma coisa – debochou a garota, surpreendendo a si mesma com a velocidade da resposta.

Com um simples gesto ela apontou para a escadaria e obrigou o policial a subir. Ele precisou obedecer, foi treinado para não reagir em situações como esta. A garota abraçou a posição de poder, compelindo o policial a subir a escadaria, com palavras duras, e em alguns momentos tocando no sargento com certa truculência.

Ao terminar de subir os degraus, o policial caminhou por um escuro e mal iluminado corredor. Batti pensou que viu um rato. Torceu para não ser, até porque era maior que um gato. Uma velha lâmpada fluorescente piscava de forma intermitente, dando ao local um aspecto de filme de terror, as salas estavam abandonadas, algumas com placas de aluga-se. Quando chegou a uma porta especifica, Melissa passou uma chave ao policial. Ele entendeu o que era para fazer, mas abriu a porta com grande desconfiança.

A medida que a porta ia se abrindo, seu interior foi se revelando uma sala simples, bagunçada com algumas cadeiras e bancos. O lugar provavelmente estava abandonado e já foi usado para algum tipo de reunião ou encontro de jovens. Ao fim da mesma, ainda era possível ver uma velha bandeira de algum tipo de agremiação estudantil. Provavelmente já extinta.

— Porque você não se senta – disse a garota em tom sarcástico.

— Tenho escolha?

— Tem, mas não vai gostar da outra opção – ela exibiu um sorriso de canto de lábio. Melissa não conseguia disfarçar a sensação de prazer que sentia, na posição de poder que se encontrava.

Sem opção, o sargento se sentou em uma cadeira metálica, dessas de armar, que estava abandonada quase no centro da sala. Melissa acionou um interruptor, e com um estalo, a velha e ineficiente lâmpada incandescente lançou seu fraco brilho amarelado, no centro da sala.

Cordão Negro - (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora