Senti-me deixado de lado como todo mundo...
Os últimos dias foram estranhos, fico me lembrando de que quando tinha por volta de cinco ou seis anos, minha tia se suicidou e ninguém pode fazer nada pra ajudar.
Hoje completam mais de 10 anos que ela se foi, mas mesmo assim não consigo me conformar.
Desço as escadas e encontro minha mãe procurando algo em uma gaveta.
- Bom dia mãe.
Digo enquanto observo ela encontrar os botões que procurava.
- Bom dia meu amor, você está doente? Está com uma cara estranha.
Ela pergunta enquanto parece medir minha temperatura com as mãos.
- Eu estou bem, só um pouco cansado.
Após me analisar por mais alguns segundos e ver que não terá a chance de dizer que estou doente porque passo o dia inteiro no celular, ela volta a costurar uma blusa antiga.
Fico observando sua expressão que logo volta a ficar séria como quase sempre, ela insiste em dizer que está bem, mas sei que o dia de hoje mexe com o psicológico dela. Elas eram muito próximas e eu sei que ela ainda se culpa pelo que aconteceu.
- Mãe?
Chamo-a quando percebo que por um segundo ela se distrai com a máquina de costura e quase se machuca.
- Ah, estou tão distraída hoje.
Ela senta e leva a mão na cabeça, percebo que isso significa que sua cabeça está doendo de novo, o que anda ocorrendo muito de um tempo pra cá. Então vou à cozinha e pego um remédio e um copo de água pra ela.
- É melhor a senhora descansar um pouco.
Digo ao entregar para ela.
- Eu vou ficar bem, não se preocupe.
Sento em uma poltrona ao seu lado, e decido perguntar:
- Como você se sente em relação a isso?
Ela me olha confusa.
- Do que você está falando?
- Por passar por esse tipo de perda. Não se passam coisas na sua cabeça como: "Eu poderia ter feito alguma coisa?".
- Sim. A princípio você fica com raiva e meio brava com eles e consigo mesmo. E esse sentimento de culpa é muito... Muito estranho.
Quando você se machuca por baixo da superfície, como águas revoltas ficando geladas, bem... O tempo pode curar, mas este não irá.
Percebo que ela precisa de espaço e volto para o meu quarto.
Eu te odeio, eu te odeio, eu te odeio... Era o que eu costumava pensar quando era mais novo, mas eu não entendia e estava apenas brincando.
Cada momento nosso como quando íamos à praia só eu ela e minha mãe e nos divertíamos tanto, eu comecei a substituir, porque agora eles se foram.
Tudo que eu escuto são as palavras que eu preciso dizer.
Deparo-me com nossa foto juntos grudada na parede e começo a me perguntar:
- Então... Antes que você vá, havia algo que eu poderia ter dito para fazer seu coração bater melhor? Se eu ao menos eu te conhecesse mais um pouco, poderia ter amenizado o clima. Havia algo que eu poderia dizer para fazer tudo parar de doer? Me mata como sua mente pode fazer você se sentir tão inútil...
Minha mãe entra no quarto e me abraça forte, mas continuamos a olhar aquela foto.
- Nunca houve o momento perfeito, sempre que ela ligava, foi indo pouco a pouco até que não houvesse mais nada. Eu comecei a substituir cada momento nosso, mas agora tudo que consigo pensar é em ver esse olhar em seu rosto.
Minha mãe dizia soluçando as palavras. Um tempo depois ela sai e volta a terminar o que estava fazendo.
Pego um caderno e uma caneta e começo a escrever algumas coisas que vem em minha cabeça.
Fico pensando em como nós enquanto vivos, não somos capazes de entender as razões de alguém cometer suicídio, simplesmente não podemos. Se ao menos fossemos capazes de entender as dores uns dos outros, talvez fosse mais fácil, mas nunca percebemos enquanto uma pessoa morre por dentro, até vermos um certificado de óbito.
Não sei quais foram às razões que levaram minha tia a cometer tal ato, mas me sinto culpado de não ter percebido nada, queria mesmo poder ter ajudado.
Então antes de você ir, eu posso fazer algo para fazer tudo parar de doer?
☆《NOTAS DA AUTORA》☆
Na primeira vez que ouvi essa música, senti que ela despertava um sentimento diferente em mim, como também imagino acontecer com outras pessoas.
Pela batida dramática e o refrão: "so, before you go" já conseguimos imaginar que essa pessoa passou por alguma perda e sente algum tipo de arrependimento em relação a isso, mas depois de ouvir mais vezes e ler a letra da música, imaginei que fosse inspirada em algum casal que está prestes a se separar, após viver uma intensa história de amor. E em diversas interpretações que podem ser feitas, essa certamente é a mais comum, por estar sempre presente em músicas e romances.
Mas quando fui dar uma pesquisada sobre o significado e a origem dessa música, descobri que havia outra interpretação por trás da letra. Lewis explicou: "A música meio que vem de um lugar... é sobre suicídio e não é necessariamente sobre o ato em si obviamente, mas sobre as pessoas depois que isso acontece, as consequências disso e sobre as pessoas se culpando ou começando a pensar: "O que eu poderia ter feito para ajudar essa pessoa? Esse tipo de coisa"
E continuou explicando que a irmã de sua mãe havia tirado a própria vida quando ele era mais jovem.
Por isso resolvi retratar essa música assim, baseada em uma história real porém com alguns diálogos inventados.
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Por trás das músicas
FanfictionSempre que eu estou escutando uma música acabo criando uma fic enorme em que a letra da música representa alguma parte da minha vida ou de qualquer outra pessoa que eu crie na minha cabeça, por isso acabo ficando triste do nada com coisas que nunca...