illicit affairs

It's born from just one single glance...

JEON JUNGKOOK

A primeira vez que o vi foi em uma cafeteria, eu estava apressado para pegar meu café e ir para biblioteca estudar, afinal a cada minuto que se passava o vestibular estava mais próximo e eu queria finalmente entrar em uma boa universidade, esse era meu sonho e eu não havia desistido mesmo com todas as tentativas fracassadas.

Enquanto eu aguardava meu pedido ser preparado, acabei pousando minha visão na figura de um homem que escrevia quase que compulsivamente em sua agenda de couro, ele estava muito concentrado, o cenho franzido tornava a cerne bonita extremamente séria, eventualmente ele amassava os lábios gordinhos um contra o outro e riscava uma palavra aqui e ali. Eu sempre fui um garoto muito curioso, então, não podia deixar de imaginar qual história ele estava criando naquelas páginas.

Acredito que não fui muito discreto no tempo que levei o avaliando, pois ele suspirou e fechou sua agenda, direcionando o seu olhar sério para mim:

— Você gosta? — Ele questionou observando-me. Seus olhos eram pequenos e repuxados, como os de um felino, e eu me senti intimidado, automaticamente me arrependi de em algum momento ter dirigido meu olhar a ele. Eu estava confuso sobre o que ele estava implicando com aquela pergunta. — De ler. — Ele completou entendendo minha confusão e apontou para agenda.

— Ah... Sim. — Suspirei aliviado, mas não sei exatamente do quê. Ter a atenção daquele homem tão sério e bonito me olhando deixava-me constrangido de uma forma incomum. — Eu... Eu acabei ficando distraído por ver você escrevendo, porque eu quero ser escritor e não conseguia parar de pensar sobre o que você está criando, estou estudando para passar no vestibular de letras.

Seu olhar se suavizou e suas bochechas se espalharam em um sorriso contido, como se ele estivesse ao mesmo tempo feliz e constrangido que alguém se interessasse pelo que ele fazia.

— Eu estava sim escrevendo uma história, mas não é nada sério, é mais por hobby. — O homem esclareceu diminuindo o sorrisinho e eu estava preparando-me para questionar qual era a história por trás, se ele se sentia confortável em me contar o enredo ou era pessoal demais, porém fui interrompido por um sonoro "Jeon Jungkook" sendo chamado indicando que meu pedido estava pronto. Desculpei-me rapidamente e peguei meu café para viagem, era uma pena que eu não poderia continuar conversando com ele.

Quando eu estava passando pelo escritor e acenando em despedida, fui interrompido por uma pergunta que mudaria tudo dali em diante:

— Você não quer dividir essa torta comigo? Podemos continuar o que estávamos conversando e, cá entre nós, essa torta de limão é muito boa. — Ele sorriu constrangido e eu pude notar suas bochechas corando, assim como notei o anel dourado brilhando em seu anelar quando ele apoiou a bochecha no punho. No entanto, nenhuma dessas coisas, nem mesmo o vestibular iminente, me fizeram dizer não, por algum motivo, eu sentia que não conseguiria negar essa proposta e muito menos ele.

Essa foi a primeira vez que não consegui dizer um "não" a Park Jimin e infelizmente não foi a última.

{...}

Aquela tarde foi a primeira de muitas. Jimin era um escritor formidável, ele me mostrou um conto de autoria própria e passamos o dia inteiro discutindo literatura. Naquele momento, pareceu natural trocar nossos números de telefone, assim como mais tarde também pareceu natural marcar encontros semanais naquela cafeteria reservada.

Toda semana minha rotina repetia-se da seguinte forma: quatro dias eram focados nos estudos para o vestibular e às quartas-feiras eu me encontrava com Park Jimin para retirar dúvidas na nossa cafeteria. Ele se propôs a me ajudar com literatura e português assim que me confidenciou ser um professor particular, Jimin havia se formado em letras e feito especialização há pouco tempo, por isso não possuía um emprego firme, seu sonho era ministrar aulas na universidade, mas antes ele precisava consolidar seu nome como professor.