Prólogo

1 0 0
                                    

   Henry estava contente essa manhã, muito contente para uma segunda-feira, seu irmão mais novo tinha percebido, ainda assim nada abalava o sorriso do mais velho que dirigia o carro esporte com a janela aberta — os cabelos loiros batidos mal se mexiam ao vento, os olhos azuis focavam o tráfego que parara o trânsito um pouco mais a frente —, Alexander no banco de trás se atentava ao som de notícias que tocava no rádio, atrapalhando a sequência de músicas do irmão. Mas nem as notícias de Nova York foram capazes de tirar o sorriso do rosto de Henry.

— Acho que vai adorar de verdade, não tem como não gostar. — No banco da frente o loiro puxou um assunto, tentando não ouvir muito sobre as condições do tempo narradas — Eles têm uma torta incrível, vai te deixar até de melhor humor.

— Meu humor está ótimo Henry. Só não entendo porquê acordar mais cedo para desviar o caminho do trabalho. — A voz tinha um algo a mais, um ar de reclamação, talvez seja o tom exato. Alex não tinha dormido nada aquela noite e ainda assim lá estava ele fazendo uma pequena vontade do irmão.

— Para tomar café, ora! O dia só começa com café. — O loiro olhou por cima do ombro por um instante a tempo de ver o irmão resmungar mais uma vez. No momento seguinte estava fazendo a baliza e estacionando na frente de um tímido Café.

"Para tomar café, ora" — Foi isso que Alexander repetiu de maneira irônica, mesmo que sutil, antes de saltar do carro ao ver sua porta aberta pelo mais alto.

  Como o conhecedor do lugar, Henry foi na frente. Ajeitou o terno e a gravata, abriu a porta e ouviu a sineta, passou os olhos pelo estabelecimento e viu Rebecca no balcão. Umideceu os lábios e lhe deu um sorriso, caminhando até a mesa com duas cadeiras e vista pra janela. Um minuto depois, lá estava a ruiva ao seu lado, o bloco de notas em uma mão e o lápis na outra.

— Bom dia, Henry. Recomendando nosso serviço? — A menina deu um sorriso aberto, como se o Café fosse dela e espiou a companhia do cliente assíduo. — O que vão querer hoje?

— Dois do mesmo de sempre, por favor Becca. Aliás, Alex, essa é Rebecca e Becca, esse é meu irmão mais novo, Alexander.

"Um prazer" — Disseram juntos os que estavam sendo apresentados e em seguida sorriram sem graça, ensaiados.

— Já trago os pedidos.

   A ruiva saiu e o loiro acompanhou com o olhar seus passos antes de se voltar para a janela, como se sempre fizesse aquilo e na verdade, fazia.

— Acho que sei o motivo de você vir tão longe. — Alex ergueu uma de suas sombrancelhas grossas e deu um sorriso lateral. Diferente de seu irmão, tinha os cabelos pretos e longos, até a nuca, o que dava um certo ar de vilão a sua aparência. — Becca, não é?

   Henry repetiu o sinal do irmão, mas ao invés de uma, ergueu duas sombrancelhas, o olhar que passava mostrava como não esperava ouvir aquele tipo de acusação, mas antes de poder se defender o sino da porta soou com força e um homem afetado entrou no recinto puxando todos os olhares para si. Todos no ambiente silenciaram e quando o homem se sentou tentaram continuar suas conversas normalmente, mas de alguma forma não pareciam mais interessantes. Henry tinha esquecido do comentário do irmão e Alex mexia o bolso em busca do celular, tinha uma nova mensagem.

— Henry, preciso atender uma ligação. Volto antes do café chegar.

   Dito isso se ergueu e começou a caminhar na direção da porta, olhando o celular, no mesmo instante que Rebecca saiu da cozinha com duas bandejas equilibradas cuidadosamente e o homem afetado se ergueu de onde estava. Tudo durou apenas um minuto, mas causou toda uma situação. O homem agarrou o braço da garçonete com força e a fez recuar desequilibrando o pedido e chocando suas costas com a de Alexander, esse por sua vez se virou para ver o que estava acontecendo e recebeu um jato de café quente na altura do tórax, molhando a camisa social limpa e seu celular, que aquela altura não parava de tocar. O homem ainda apertava o braço da atendente quando ela fechou sua boca, estava tão assustada com a situação que encarava o cliente pasma, mas logo em seguida empurrou o homem que todo o Café descobriu se chamar Logan.

— Que merda você está fazendo no meu trabalho, eu já disse que não quero mais ver você! — Ela gritou, visivelmente desesperada e passou a mão no pulso que a poucos minutos o homem agarrara. — Vai embora Logan, ou eu chamo a polícia.

   Não precisou. O homem a encarou com ódio e em seguida correu para a porta enquanto todo o estabelecimento parecia descongelar. Henry se aproximou de Rebecca e do irmão que tentava de toda forma ligar o celular.

— Era importante — Murmurou o mais novo

— Você está bem, Becca?

   Não estava, seus olhos eram vidrados e ameaçavam jorrar. Ainda assim fez que sim com a cabeça e puxou do balcão guardanapos, pedindo licença para inutilmente limpar o café da camiseta e celular de Alexander.

— Me desculpe, desculpe por isso. — Secava o aparelho com cuidado enquanto mantinha a cabeça baixa, mas ergueu o olhar para o balcão e limpou a voz antes de falar. — Amy, por favor, prepare novos pedidos a eles, por minha conta. Me desculpe outra vez.

   Implorava com os olhos escondendo o nervosismo, mas Alex se virou e saiu mesmo sem o telefone, ignorando toda a súplica para esperar no carro. Henry por sua vez sustentou o olhar desolado de Becca e a ajudou a unir as bandejas no chão, mesmo com ela afirmando que já limparia e que ele não precisava se preocupar.

— Desculpa estragar a primeira vez de seu irmão... Espero que a torta o ajude a esquecer. — A mulher passou uma mecha dos cabelos para atrás da orelha e tentou sorrir. Deu um passo a frente e recolheu os pedidos para a viagem, trazidos pela colega, e os estendeu a Henry. — Aqui está, não me deve nada.

   Entregou também o celular do outro, mas Henry mexeu a cabeça negativamente antes de concluir.

— Vou pagar por ambos os pedidos, você não teve culpa... Foi aquele louco. E sobre Alex, ele pode comprar um novo celular, não se preocupe. Se cuida Becca, obrigado.

   A ruiva lhe sorriu mais agradecida e voltou a suas tarefas enquanto Henry voltava para o carro. Não estava assim mais tão sorridente, nenhum dos três estava.

Café & ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora