Cap. 3

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Ainda que meu estômago roncasse de fome ver a carinha entristecida de Stef por ainda estar faminta me fez negar metade de minha comida.

- Estou satisfeita, pode comer o resto. O senhor Maxuel forneceu café hoje. - Menti. Papai pareceu ter percebido, pois mais uma vez vi a tristeza presente em seus olhos. Stef por sua vez tinha os olhinhos brilhando.

- Obrigada Lores. - Ela disse.

Para evitar que todos a mesa ouvissem o ronco do meu estômago, me levantei e lavei algumas vasilhas que estavam ali e em seguida os desejei boa noite. Beijei o rosto de cada um e subi para o meu quarto. Apesar de nossa pouca condição, a casa era uma das únicas coisas de valor que tínhamos, era toda composta por madeira e uma pintura magnífica, mesmo que já estivesse velha. Contava com dois andares e móveis medianos, não era nada mal. Havia sido uma herança que meus avós deixaram para o meu pai, algo no qual éramos extremamente gratos.

Joguei meu corpo cansado sob a cama enquanto refletia sobre tudo. Talvez uma garota de dezessete anos devesse ter um pouco menos de preocupação, mas esse não era o meu caso. Me apressei em dormir, logo pela manhã teria aulas de matemática, filosofia e ciências. Minhas aulas não eram constantes, pois papai não tinha dinheiro para pagar por toda uma semana, portanto, a senhorita Lise, minha professora vinha às terças, quintas e sextas, e já me era o suficiente.

Senti meus olhos pesarem e nem sequer vi, quando adormeci.

Acordei com leves rajadas de sol adentrando a minha janela, a luz estava tão forte que meus olhos arderam de início. Olhei ao redor, Maya e Stef estavam dormindo feito dois anjos, desejei ficar ali e fazê-las companhia, mas ouvi a campainha ecoar. Calcei minhas pantufas e após jogar o roupão por cima da minha camisola desci os degraus correndo. O café já estava servido a mesa, papai antes de sair para o trabalho sempre o fazia e deixava lá para que assim que acordássemos já encontrássemos tudo pronto. Sorri. Suas atitudes fofas sempre me deixavam emotiva. A campainha tocou mais uma vez, e só então me lembrei o porquê de eu estar de pé. Não havia me dado o trabalho de me vestir formalmente, a senhorita Lise já estava acostumada com isso.

- Olá senhorita. Preparada? - Um sorriso doce de abriu para mim.

Fiz que sim com a cabeça e indiquei para que ela entrasse.

- Entre. - Eu retribui o sorriso amigável.

Nos direcionamos a sala, e lá, ela iniciou seus ensinamentos. Mesmo que as vezes achasse um pouco chato sabia que era necessário e amava com todas as forças adquirir conhecimento.

Quando as aulas acabaram, eu, May e Stef tomamos café juntas, um pedaço de pão partilhado para três e um pouco de café, era tudo que tínhamos, mas o suficiente para eu me manter de pé durante o dia.

- Bom trabalho. - Elas disseram em uníssono.

Antes de seguir o meu caminho, contemplei a imagem a minha frente. Stef estava abraçada a May e ambas me olhavam com admiração. May nunca havia tido vontade de estudar, e nem de trabalhar, esperava desposar um bom marido e para ela já era o suficiente, mas sempre fizera questão de frisar o tanto que sentia orgulho de mim e de minhas escolhas. Por uma fração de segundos pude ver a mesma coisa nos olhos de Stef e aquilo me encheu de felicidade. Acenei e caminhei em passos lentos para a floricultura enquanto mantinha a visão abaixada para o meu livro.

O senhor Maxuel me esperava na porta, seu cenho estava franzido. Semicerrei os dentes e sorri tentando disfarçar minha preocupação, ele não era um homem carrancudo, então porquê estava?

- Bom dia senhor.

- Senhorita Caster, precisamos conversar.

Abracei forte o meu livro, algo me dizia que sua notícia não seria nada boa. Fui atrás dele e me sentei no banco que me fora indicado.

- Os impostos aumentaram demasiadamente, sinto informar que terei que dispensa-la.

Senti meu coração apertar, quem iria ajudar papai com as contas? Sozinho ele não iria conseguir. Senti meu sangue gelar e provavelmente meu rosto estava sem cor alguma.

- Seu trabalho me ajudou muito, se as coisas melhorarem, prometo que a chamarei novamente. Eu sinto muito.

Ele abriu um sorriso confortante.

- Obrigada pela oportunidade. - Forcei um sorriso enquanto a saliva mal descia.

Me levantei tirando uma ruga imaginária de meu vestido.

- Passar bem, senhor Maxuel.

- Até breve, senhorita.

Abri a imensa porta de vidro que dava acesso à rua e comecei a caminhar sem um rumo certo enquanto tentava pensar em como contaria para a minha familia sobre essa maldita notícia, papai ficaria arrasado. Em um impulso, resolvi ir até a casa dos Steve, bati a porta e quem me recebeu foi a mãe de Bash.

- Senhorita Loren. - Ela me abraçou gentilmente.

- Olá senhora Steve. - Eu retribui o abraço, era o que eu precisava.

- Entre. - Ela me deu passagem.

As gêmeas estavam sentadas no sofá enquanto ouviam no rádio sobre a seleção, senti uma vontade de revirar os olhos, mas me segurei.

- Olá Nathany, Elisa ...

Elas se viraram para mim com uma certa rapidez, me cumprimentaram e novamente voltaram a atenção ao rádio.

- Elas estão fissuradas com a seleção. Você se inscreveu?

Balancei a cabeça em negativa.

- Acho que não é muito a minha cara. - Eu sorri de lado.

Bash deve ter ouvido minha voz, pois desceu como um furacão.

- Loren. - Seus olhos brilhavam transmitindo a alegria que sentira em me ver ali. - eu também senti -

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