capítulo único.

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Local: Deserto de Nevada.

Data: 12 /5 / 1888.

Loc. Específico : Vilarejo do Sul.


Três amigos andavam  pelo pequeno  deserto,buscando mais uma aventura ou mais um problema, como os moradores mais antigos do vilarejo chamavam as duas aventuras.
Eles buscavam a calmaria enquanto aguardavam o anoitecer para o início da festa de aniversário de fundação do vilarejo.


James Wuligan, torceu o lábio ao assistir a alimentação de um camaleão, estático e aéreo degustando na tranquilidade a pequena borboleta de asas azuis.

— Por Deus! Que repulsivo. — reclamou James retirando o chapéu tapando o rosto e enrugado o nariz.

— Você está parecendo a Enê. —August Maclary zombou rindo do seu amigo, chutando uma pedrinha olhando Enê, tentando arrancar uma flor de cacto mais alto que a mesma. —E você Enê, está se igualando a Carlita.

August, falou um pouco alto de mais a curta distância que os separava não necessitava elevar a tonalidade de sua voz. Enê por sua vez virou o rosto com brusquidão cortando sua bochecha com um espinho do cacto ao qual tentava arrancar a flor vermelha iguais aos seus cabelos.

Ela reclamou de dor, levando a mão ao local do corte sentindo o sangue deslizar por suas bochecha. Ela levou os dedos até o local, mas desistiu no processo, pois  o ferimento ardia de forma agonizante.

— Enê, você está bem? —James foi o primeiro a aproximou-se, preocupado retirando um lenço branco de dentro do bolso da camisa, limpando o sangue do corte da amiga que sorriu rubra que logo abaixou seu olhar.

A cena fez com que August revisasse os olhos com tamanha bobagem. Ele sabia que Enê nutria sentimentos pelo cego do James, o qual nunca parecia notar os sinais óbvios que a garota expressava.

— Sim... —respondeu Enê, muito baixo e tímida provocando mais uma reação repulsiva de August que retirou a língua para fora como se estivesse tomado o xarope mais pungente da sua vida. —Acho melhor voltarmos.

James afastou-se após limpar o ferimento da amiga, sentando numa pedra grande olhando o horizonte aéreo. O rapaz poderia estar na Inglaterra aproveitando a temporada de verão tentando arranjar uma moça de boa família para desposar, mas estava ali, no meio do deserto esperando ter alguma ideia persuasiva o suficiente para convencer seu pai a custear sua viagem.

—Não! Hoje eu faço questão de atravessar a fronteira. — August falou em forma de desafio, olhando para os amigos.

Enê sorriu concordância, ela era uma mulher graciosa, mas valente e de espírito indomável. Muitas vezes se mostrava ser uma jovem desengonçada e indefesa na presença de James.

James, torceu o rosto, não acreditando nas palavras de August, ele deveria ter perdido o juízo. Quem se atreveria a chegar na fronteira sem proteção ou armado? August era tão imprudente e irresponsável, talvez sua sanidade se perdeu com o tempo.

— Eu não acho uma boa ideia. —falou James tentando apelar pela lógica e coerência, prevendo um possível grande desastre.

James não queria e nem deveria estar metido em confusão, não seria bom para a família ter o nome manchado desse jeito. Logo ele o filho do xerife, estar sendo acusado de quebrar as regras e atravessar a fronteira sem autorização.

—Não devemos fazer isso. Existe uma lei e devemos cumpri-la e ser o exemplo. —Declarou James recebendo apenas um bufar de reprodução de seus amigos.

— Desde quando nós nos baseamos na sua opinião para decidirmos as coisas? –  August desafiou olhando nos olhos claros de James aproximando muito o rosto da cara do outro.

—Parem vocês os dois! —Cortou Enê usando sua força massiva afastou os dois para cada lado. Os sacos de farinha os quais ela os carrega desde cedo por ser filha do padeiro do vilarejo onde morava a ajudaram a conseguir tamanha força. —Venha James. Nada de ruim ira acontecer. Ninguém nos verá. Seremos cautelosos!

—Esse fogo de rebeldia que você carrega, por vezes me assusta. – confessou James olhando a pedra que antes estava o camaleão, suspirando derrotado. —Tudo bem, mas se algo der errado, não digam que não avisei!

— Deixa de ser pessimista. —Comentou August já alguns passos adiante, pronto para mais uma infração na sua lista de coisas que não devem ser feitas. Escrita por sua querida mãe.

Os amigos andaram em silêncio até a fronteira. Hora ou outra Enê tentava iniciar uma conversa com James, mas sempre recebia uma resposta rápida que a fez desistir desapontada.
Aproximavam-se da fronteira com Grand Wood, o vilarejo que controla todo o fluxo de ouro do condado. Só as pessoas de elite, mafiosos e corruptos viviam  naquele vilarejo eram políticos e mafiosos, tal qual o xerife Blake Ellingston. Ele frequentemente era impiedoso com seus inimigos e forasteiros, e que ele era o proprietário do alcouce, existente ali.

James, sentiu a espinha esfriar quando chegou a fronteira, atravessando ela.
O completo oposto de August e Enê os quais esboçavam sorrisos traquinas. Em seguida iniciaram uma correria distanciando-se da fronteira. Eles ignoravam os gritos histéricos de James que parecia um ganso desequilibrado.

O som estridente de um tiro cortando o ar fizeram os dois amigos pararem de correr olhando assustados para uma pequena colina onde dois homens montados em cavalos castanhos os olhavam.

Augusto, deu um misto entre sorriso e aflição, pegando o pulso de Enê, voltando a correr o mais rápido que conseguia a arrastando pela área. Só que dessa vez voltando para casa. James correrá como nunca correu antes, suas pernas não parou e nem diminuiu a velocidade. Ele estava terrivelmente assustado.

August teve a imensa vontade de rir, mas antes  de qualquer coisa, deveria se livrar daqueles dois homens nos cavalos que se  aproximavam vertiginosamente dos dois amigos que corriam o mais rápido que podiam.

Soltando o pulso de Enê, ganhando atrito pulando a pequena secar que separava os vilarejos, parando para ajudar Enê no mesmo ato. Ela carregava as saias pesadas cheias de babados do vestido tentando passar sem danificar um dos seus poucos vestidos de qualidade, usados muito em festas.
Ela olhou a expressão assombrada de August sabendo que o pior, já ocorreu. Ele por vez deu passos para trás com medo, Enê negou com a cabeça, foi fácil pular o pequeno cercado da fronteira com a ajuda de Agust e James, porém agora o vestido atrapalhava mais que ajudava. Agust  suava frio assistindo horrorizado a captura de Enê.

Ela era levada a força, pelos homens.

Enê gritava por ajuda lutando para libertar-se dos apertos daqueles homens. Sua voz falhava enquanto gritava por seus amigos, chorando prevendo o futuro cruel que a aguardava.

Com lágrimas nos olhos e o coração apertado, por ter desapontado sua família ela chorava enquanto era transportada pelas ruas amarrada como um animal. Olhando para o chão evitando os olhares das pessoas que a olhavam com pena.

Ela não queria a pena de ninguém!

Fungou, parando de andar sentindo as lágrimas escorrerem de seus olhos e caindo no solo árido, forçada pela corda que atava suas mãos a continuar a caminhada.
Ela ouvia desesperada as histórias contadas pelos homens que a capturaram, eles riam contentes com as atrocidades a qual pronunciavam em alto e bom tom, para quem quisesse ouvir os relatos abomináveis proporcionados por um único homem.

— Chegamos, prisioneira. —Pronunciou uma voz rouca sobre o cavalo.

Ela imaginava se estava nos portões do inferno, aqueles portões de ferro fundido e levemente enferrujado, assemelhava-se a serpentes as quais picavam cada alma condenada que se atreviam a por os pés ali. Sentiu todo seu corpo congelar em meio ao calor de Nevada. Sua garganta secou junto da aceleração anormal de sua respiração, mas o ar não entrava em seus pulmões. —Vamos!

Uma voz em um tom impaciente,  puxando a corda fazendo-a cair de joelhos rasgando o vestido vermelho, assim como seus cabelos. Sentiu vontade de chorar ao encarar aquele homem com cheiro de suor e roupas sujas, contudo aquilo acarretaria risadas e humilhações as quais não as queria ouvir, segurou o choro piscando vezes sem conta para não derramar uma lágrima sequer. Medo e arrependimento a assolaram por completo a esmagando.

Era arrastada pelos corredores da mansão de aspecto sombrio. Enê olhava com muita atenção os caminhos por onde passavam, tinha uma ótima memória isso ajudaria depois. Se tiver sorte, conseguiria fugir naquela noite ainda. Por vezes cruzavam com algumas criadas as quais carregavam objetos mais pesados que elas pudessem carregar, aquele com certeza era a área de serviço, do qual os serviçais operavam.

Notou que estavam rodando por diversos corredores, tentando nublar e a confundir,a sorte ou não é que conseguiram, agora se via perdida sem saber absolutamente nada do seu futuro.
Uma porta range ao ser destrancada e aberta, olhou assustada dentro daquela cómodo onde somente havia uma cama de feno espalhado por cima das tábuas da cama simulando um colchão.

Entrou de cabeça erguida na sua nova moradia, olhando o sol pela janela com grades de ferro e vidro sujo.

James e August viriam a libertar, sabia disso. Tinha fé naquilo, pois aquele será o gesto perfeito para James demostrar seu amor por si. Depois desse martírio ele pedirá sua mão em casamento e viveriam felizes para sempre. Parecia um conto de fadas, entrando era seu sonho. E ninguém tiraria isso dela.

A garota lembrava do sorriso encantador de James toda vez que levava seus olhos na direção do sol. Era reconfortante.

Sua esperança foi morrendo vendo as horas passarem e o dia ser substituído pela noite, estava faminta e exaurida pelo fato de ter ficado em pé horas consecutivas.

Ela virou o rosto assustada ao ouvir um  ranger das dobradiças enferrujadas, seus olhos se arregalaram ao ter em sua frente um homem negro que adentrou no local analisando-a de cima a baixo. Seu corpo estava estático pelo medo, contudo foi impossível não olhar nos olhos escuros à sua frente. Eles pareciam muito infelizes e solitários, a escuridão que predominava em todo ser do abominável xerife Blake Ellingston, era sepulcral, porém, também havia algo que oscilava lá no fundo daqueles olhos que que parecia a escuridão de uma noite sem estrelas.
Enê levantou o queixo em sinal de superioridade, algo que realmente irritou o homem que deu alguns passos em sua direção a ficando de frente para ela. A respiração dele tocava suas bochechas fazendo suas mãos e pernas tremerem, isso apenas incentivou a continuar. Ele tocou os braços dela subindo até o rosto.

Um estrondo muito distante foi ouvido, quase no mesmo instante que Blake encurtou a distância de Enê com um fogo e selvagem exalando de seus dedos que subiram por onde ele havia tocado.

A luz da lua era a única luz que entrava pela minúscula janela que apenas ratos eram capazes de passar.
Ele parecia a própria escuridão e ela o fogo que aquecia aquele cómodo frio. Por mais que a mente negasse o coração gritava e acelerava. Era quase que impossível não notar o amor existente naquele beijo onde numa arena duelavam o fogo e a escuridão.

O beijo foi levado a diante e aprofundado, pois havia uma estranha necessidade de querer desvendar cada segredo escondidos no ser de cada um.
Ódio conflitava com a selvageria, buscando ganhar um guerra onde somente o amor é que vence.

Fogo e EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora