Conto 1: Adrenalina

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Autora: AlineBulla
User: OutLineNovels

O homem robusto atravessou as grandes portas da mansão agitado, sua camisa branca com metade dos botões abertos revelavam o peito definido, a calça social torneava as coxas masculinas de forma com que seus movimentos fossem hipnotizantes.
Ele subiu as escadas pulando dois degraus de cada vez, a juba escura chicoteava atrás de si, os olhos também negros demonstravam medo e preocupação, quando chegou ao topo, arfou alto, e, um pouco temente terminou de abrir a porta carmim no final do corredor.
— Não. Não. Não. — lhe faltava fôlego.
Ele jogou-se sobre o corpo feminino desacordado, a jovem vestia um longo vestido de noiva, deitada de forma poética sobre a cama.
Morta. Estava morta.
Alçou o corpo da mulher de encontro ao seu, abraçando-a. As lágrimas inundaram suas pálpebras, mas não escorreram. Fazendo leves movimentos de afago nos cabelos ondulados, puxou o ar em ânsias. Na cômoda branca, ao lado da cabeceira da cama, jazia vazio um recipiente de calmantes.
...
— Porra ruiva, cacete. Para de assistir essa bosta. Estamos no meio de um assalto. — a figura mascarada passou correndo por ela, pouco antes de atirar no pequeno televisor.
— Cacete! Era agora que ia ter o enterro de sua amada. E nossa, ele ta putamente gostoso todo de preto. — arfou em troca. Girando o revolver automático prata no dedo e indo em direção a Nolan, que no momento estava em cima do balcão segurando uma 12mm de dois canos.
Reféns deitados no chão com as mãos na cabeça, outro mascarado jogou um grande saco de dinheiro em direção a Siena, que pegou com certa dificuldade.
Nolan pulou do balcão agarrando outro daqueles sacos, e saiu na frente, acompanhado pelo amigo, que carregava mais dois.
— Anda porra, 30 segundos. — gritou. Gesticulando para a saída.
Siena permanecia na porta aguardando os dois por fim passarem, quando notou o guardinha sacando sua arma.
O som de tiro ecoou pelo banco, a arma rolou direto para o chão com o indicador do guarda, que caiu de joelhos. Siena apontou direto para a testa calva do velho, mas foi barrada por Nolan.
— Sem mortes. Porra, você prometeu. — ela abaixou a arma obediente e saiu com os três.
“ADRENALINA” Era a palavra ideal para o significado da vida de Siena. Criada em um lar instável, optou pelo caminho mais fácil. Tomar a si pela força.
Pularam para dentro do Audi a3 sedan – roubado. Um quarto mascarado dirigia, costurando por entre os carros, a escuta em sua orelha dizia os caminhos mais acessíveis, a direção a seguir.
“Entre na próxima a direita. Evite a alameda 354 tem uma barricada policial lá. Depressa para a linha do trem, um helicóptero está a caminho.”
Na linha do trem, um segundo carro os esperavam, dessa vez um Jeep renegade branco, o audi foi desovado, os vários sacos de grana, mais que depressa foram jogados no porta malas do Jeep, os quatro entraram. E as mascaras retiradas.
A loira pisou fundo até estarem em segurança sobre a balsa alugada.
— Esse roubo foi fodidamente perfeito. — disse Nolan com os cabelos loiros arrepiados, jogando as mãos atrás da cabeça, abrindo sorriso de orelha a orelha.
Siena coçou a pistola em sua cintura, ignorando Nolan extasiado a seu lado no banco de trás.
— Você é uma verdadeira pilota de fuga, meu amor. — Gustav beijou os lábios da loira, que deu um sorriso arrebatador em troca.
— O que vai fazer com sua parte da grana? — perguntou Iara para o namorado.
Gustav tombou a cabeça, pensativo. Mas antes que pudesse responder, Nolan o interrompeu.
— Vou pra Las Vegas, seus putos. Jogar, beber e quem sabe me casar pela quinta vez com uma doida de lá.
— Jiosep te ensinou bem. Que inutilidade. Queima tudo. — A loira rebateu.
— Dinheeeiro é feito para gastaaar. Pelo menos aproveito melhor do que você com suas dúzias de sapatos. Nem tem pé pra usar tudo aquilo.
— Chega vocês dois. — disse Gustav. — Se estiver certo, a quantidade de grana que levamos hoje, da pra ir pra Las vegas, comprar sapatos e até um barquinho para diversão.
De todos, Gustav era o mais sensato. Ele tinha uma pequena imobiliária que usava para lavar todo aquele dinheiro. E todos sabiam, que ele não era uma pessoa para brincadeiras. Ele poderia ser bem incisivo quando queria.
— Siena? E você? Tá ai quietinha. — Iara olhou-a pelo retrovisor.
— Se contar, vou ter que matar vocês. TODOS. — Nolan mostrou a língua para ela, e riu em seguida.
— Ela vai comprar mais daqueles DVDs, livros, álbuns de figurinha e fotos do fã clube idiota dela. — Nolan a provocou.
Ela só o olhou mortalmente, pois, se comprasse seria repetido, ela já tinha coisas demais dele, só não o tinha.
Em segurança entraram em um velho armazém, perto da marina, seu ponto de encontro. O carro parou ao lado daqueles outros, que pertenciam aos integrantes da equipe. Dois homens de cabelos brancos vieram recebê-los, o de cabelos longos, um policial aposentado, e um mais novo que tinha um tapa olho negro, resultado do estilhaço causado pela explosão de uma bomba, quando serviu obrigatoriamente ao exército.
— Rou Rou Rou, o que o papai noel trouxe de presente para nós? — Kassar dizia chegando próximo ao carro. Enquanto os quatro integrantes saltavam de seu interior. — Espero que ele tenha sido generoso.
— Olhe por si mesmo. — disse o Gustav abrindo o porta malas.
O único olho saudável do homem, instrutor de campo, o que organizava os assaltos, brilhou, como os olhos de uma criança que ganha seu tão esperado presente.
— Vou ter grande prazer de contar toda essa maravilha. Ótimo trabalho garotos.
Jiosep encostou-se na bancada, sendo abordado por Nolan carregando dois sacos de dinheiro.
— Aí velhote, vai ganhar grana fácil de novo.
— Vai nessa, seu pentelho. Sem mim vocês nunca conseguiriam hackear a central da polícia. — riu bagunçando o cabelo do loiro. — Agora se manda, que quero minha bufunfa no meu bolso ainda hoje.
Kassar e os meninos se divertiam com as quatro maquinas que trabalhavam incessantemente contando as cédulas. Enquanto que Siena permanecia em seu fusca 1977 rosa com detalhes de zebra, limpando em baixo da unha com seu canivete com a rádio sintonizada no noticiário.
— Estão falando de nós? — perguntou Iara ao encostar-se no carro a seu lado.
— Estão!
— Isso é bom. — sorriu. — Mas, sério agora Siena, eu te conheço a muitas primaveras, até demais para o meu gosto, para saber que você está tramando algo.
— Você ainda tem o contato daquele estilista famoso? Aquele engomadinho que te arrumava cocaína e com o qual você transava.
— Quem, o Sebastian?
— Tem outros? — sorriu provocativa.
— Devo ter. Por que quer falar com ele?
— Vai ter um baile de máscaras dos famosos, para lançarem o filme “I hate Valentine’s day” e eu quero entrar nele.
— Não me diga que ele estará lá?
Siena meneou a cabeça em um simples afirmativa.
— Você é completamente louca. — riu.
— Coé Iara, vai me ajudar ou não? Sei que aquele engomadinho tem acesso, ele foi um dos estilistas dos atores desse filme.
— Vou ver o que posso fazer... Mas espero que não use para o mal.
— Olha quem tá falando! — sorriu diabólica, soltando o cabelo ruivo em seguida. — É claro que vou usar para o mal.
— Amiga, sua louca. —     Iara cruzou os braços. — Vai rolar sequestro, grana de resgate e tudo? Tô aqui para o que der e vier.
— Primeira hipótese a resposta é sim, mas a segunda, não.
— Como? Ele é tipo, o dobro do seu tamanho.
— Deixa, que com isso eu me viro.
Gustav chegou até as garotas carregando uma mochila escolar. Interrompendo a conversa das duas.
— Toma Siena, tem quase duzentas mil doletas ai, vê se não gasta tudo de uma vez só.
— Fica tranquilo querido. — ela jogou a mochila no banco de trás e entrou em seu fusca. Sendo a primeira a vazar dali.
Faltavam apenas quatro dias para o baile de máscaras, ela sabia que seria quase impossível conseguir uma entrada, mas, pela chance de poder tocar nele, de respirar o mesmo ar que ele, ela entraria nem que fosse escondida. Mas entrar pelas portas da frente, pisando no tapete vermelho, e, ficar de cara a cara, no mesmo patamar que ele, ah, isso seria divino.
Iara lhe passou o contato, e aproveitou para dar um remember, de quebra, conseguiu a entrada também.  A loira era eficiente.
A entrada era essencial, mas como o próprio titulo da festa já deixava explicita, era um baile de máscaras, nada de cara-crachá. Nada de apresentar identidade. Até porquê, a magia da festa era essa.
O vestido, escolhido a dedo, um vermelho sangue com uma pequena cauda, demarcando bem a cintura, o que acentuava mais ainda suas curvas, os medianos peitos grudados, criando uma leve fenda sexy. Junto da máscara que cobria-lhe metade do rosto.
Decidiu que alugaria uma limusine com um nome falso. E a partir dali tramou seu plano. Que julgava infalível. A parte mais difícil seria tirar Ethan por vontade própria e colocá-lo em sua limusine. O resto seria fácil. Acreditava.
Siena tinha fama de mulher decidida, que não vacilava frente aos desafios, que sabia muito bem impor seus desejos. O problema, é que ela costumava ser drástica demais, levava a sério demais seus gostos. E quando decidiu que queria seu ídolo, o homem cujo qual era fã desde a adolescência, cujo colecionava recortes de revistas, jornais e pôsteres. O homem que a fazia sonhar em meio ao desastre que era sua vida, ela não mediria esforços para consegui-lo. 
Ela o conheceu em um show de talentos, que passava em um canal local. Ethan Gray era apenas dois anos mais velho, e, a vida de ator e modelo do moreno deslanchou a partir daquele dia. Assim como o amor platônico de Siena. Costuma dizer que foi amor a primeira vista. Infelizmente, para seu desgosto, apenas a vista dela.
Sua vida criminosa já se revelava desde a infância. Cujo acometia pequenos furtos, nem a caixinha de donativos da igreja foi poupada. Costumava culpar a negligência da mãe alcoólatra, e o abandono do pai. Sua mãe, apesar dos anos, ainda tentava se livrar do álcool. Estava internada em uma casa de repouso, da qual Siena mandava um cheque todo mês.
Dentre todos os vícios que Siena poderia ter, drogas ou álcool, seu vício, era aquele moreno, o homem que apaixonou-se aos quatorze anos. Que foi nutrido por longos nove anos, e que, finalmente, iria poder saciar seu desejo. Como se tivesse ficado em abstinência todo esse tempo.
A vida criminosa deixou de ser uma necessidade e passou a ser um prazeroso hobby após sua primeira e única prisão. Por ser réu de primeiro grau, passou pouco tempo atrás das grades. E nelas acabou por conhecer sua parceira de crimes e melhor amiga. Iara. Foi a partir da loira que conheceu a sua “família” do crime, com isso, a grana investida e que recebiam de volta era maior, a aventura era melhor. A adrenalina a movia.
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O motorista lhe abriu a porta da limusine negra para enfim Siena pisar no longo e lustroso tapete vermelho. A máscara lhe garantia o anonimato. Ela sabia que ninguém a pediria para retirar. Andou pelo tapete, muitos curiosos e fotógrafos lhe bateram flash’s, ela notava o cochicho. Eles não faziam idéia de quem se tratava. Poderia ser uma famosa ou não. Mas lá estava ela, passando em rede nacional, atravessando o tapete vermelho.
Ela tremeu ao chegar às grandes portas brancas e trabalhadas, quase vacilou ao entregar sua entrada. Rezou internamente para que não notassem nada de errado. Mas a entrada era verdadeira e correspondeu ao leitor de código de barras. Então lhe colocaram uma pulseira de identificação, e, finalmente lhe foi aberta a porta.
O ambiente era altamente luxuoso, todo trabalhado no gesso e mármore. O salão era enorme e já havia muitas pessoas em seu interior. Todas também mascaradas. Havia orquídeas brancas decorando todo lado a qual ela olhava, a música tocava constante, uma boa batida, garçons andando para cima e para baixo servindo Uísque e champagne, além também, de alguns canapés. A iluminação não era alta, mas havia vários feixes de luz dançando por toda sua extensão. Ela sabia que o baile não havia começado. Mas que não tardaria a começar. Seus olhos correram pelas pessoas máscaradas, a procura dele.
Aos poucos começou a se enturmar, tomou algumas taças de champagne, e quando quase desanimava em encontrá-lo. Ela finalmente o viu. Mesmo de máscara que também lhe cobria boa parte do rosto, seu cabelo negro arrepiado o denunciava. Sua rota de aproximação ela já havia traçado anteriormente mentalmente. E como uma peça de teatro ela a executou.
— Óh. Desculpe-me. — virou-se de encontro ao homem. Foi um esbarrão proposital, mas ele não precisava saber disso.
— Tudo bem. — respondeu portando um sorriso de canto. A garota tremeu na hora, ela não poderia sair de seu personagem. Notou dos buracos da máscara do homem, as belas orbes negras correrem por seu corpo. — Eu a conheço?
— Talvez. — sorriu de volta. — Mas essa é a intenção dessa noite não é?
— Não acho muito justo. Você de certo já sabe quem eu sou. — ele balançou a cabeça em negativa, bem humorado. — Poderia me dar uma pista.
— Você precisará merecer tirar essa máscara. — sorriu de volta. A sua esperança era que todas as revistas de fofocas e juvenis que já leu falando dos gostos de Ethan fossem verdadeiras. — Certo Ethan Gray?
Ela notou os lábios do moreno vacilando. Ele fez uma breve pausa, e movimentou minimamente a mão, como se quisesse tocá-la. Mas conteve-se.
— Certo... — antes que ele dissesse mais algo ela o cortou.
— Espero lhe ver novamente essa noite. — retirou-se, deixando-o perdido.
Mal sabia ele, que ela mesmo dançando, sabia exatamente cada passo que ele deu, quantas vezes ele foi até o banheiro. Quantos copos de Uísque ele já havia tomado. Em certa parte do baile, quando a música romântica começou a tocar e ela sentiu uma mão lhe tomando a cintura e lhe puxando para dança, ela soube que as revistas de fofoca estavam mais que certas.
Ethan Gray era o tipo macho alfa, ele gostava de ser desafiado e via aquilo como algo a ser conquistado. Mal sabia o coitado que estava caindo feito um patinho nos feitiços da garota.
— Estou tentando reconhecê-la pelo seu cheiro. — ele disse no ouvido da jovem, enquanto dançavam perigosamente perto demais.
— A quem lembrou? — perguntou de volta.
— Não quem, mas sim o quê. Tens cheiro de cereja. — o lábio dele tocou levemente a orelha dela.

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