A sementinha

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         Após alguns dias de arrumação, a casa finalmente ficou pronta para os moradores se arrumarem. No dia dezoito de novembro de 2001, Miriam estava assistindo televisão atentamente.
      O céu estava nublado e a garotinha estava sentada em um tapete enquanto comia um pedaço de bolo e falava sozinha com a televisão.
       O pai dela, Renato, era um contador e trabalhava no quarto que ficava ao lado esquerdo do corredor do andar de cima. O cômodo possuía paredes cinzas e era em formato quadrado, em cada extremidade possuía uma escrivaninha velha e de madeira escura. Os pais já planejavam que as garotas iriam precisar delas. Entre as escrivaninhas haviam estantes repletas de livros: Gabriela tinha interesse de mudar de profissão.
        "Oi, amor!" Disse Gabriela com um sorriso no rosto enquanto estava apoiada na porta do cômodo. "Eu estive pensando... Por que a gente não vai ao culto hoje?" Perguntou Gabriela pensativa.
       "Eu até iria, mas você acha que a Miriam vai parar quieta?" Perguntou Renato enquanto ria. Ele estava sentado na cadeira da escrivaninha, vestindo um conjunto de moletom roxo com listras brancas.
        "Ah! O que custa tentar, ?" Disse Gabriela enquanto ria.
       "Mãe, hoje o episódio das Meninas superpoderosas foi incrível!" Disse Miriam enquanto gritava e corria pela casa.
      "Ela está vestida com a fantasia da Docinho?" Perguntou Renato enquanto ria.
       "Sim, ela está." Acrescentou Gabriela. "Ela não aceita que parece mais com a Lindinha."
       "A Lindinha é muito chata!" Gritou Miriam. A garota estava no quarto dos pais pulando na cama, mas prestava a atenção no que a mãe dela falava no corredor.
        "Ei, Miriam, pare de pular na cama!" Ordenou Gabriela aos berros. Ela foi diretamente para o outro cômodo.
    O relógio marcava às 14:40 e, às 16 horas, a família decidiu se arrumar para o culto:
        "Filha, vamos sair hoje." Disse Gabriela enquanto estava dentro do closet do quarto das meninas. A mulher estava escolhendo a roupa que iria vestir a filha menor.
       "Sair? Por que eu ia querer sair? Vai passar o meu programa na televisão, eu esperei a semana inteira!" Disse Miriam enquanto batia os pés no chão.
       "Nós vamos louvar o papai do céu." Disse Gabriela ao agachar e ficar em uma altura mais próxima de sua filha. "A gente precisa que ele continue nos abençoando."
        "Mas... Mamãe... Você não disse que Ele está em qualquer lugar?" Disse Miriam curiosa.
        "Filha, mas domingo é o dia que nós passamos maior tempo cuidando da nossa relação com Deus. É como se fosse uma sementinha a nossa relação com o Senhor." Disse Gabriela calmamente. "A sementinha precisa ser colocada em um lugar fértil que, no caso, é o nosso coração. A sementinha precisa de cuidados para poder crescer, então nós a damos muita atenção."
       "E quando vira uma árvore? Acabou a nossa relação?" Perguntou Miriam ao franzir as sobrancelhas.
         "Quando vira uma árvore quer dizer que nossa a relação criou raízes, mas, se a árvore for derrubada... Ela não poderá nascer de novo como era antes, ela irá demorar muito. É por isso que devemos ir a Igreja, nós devemos cuidar da nossa relação."     Disse Gabriela ao abraçar Miriam.
        "Entendi, mamãe. Então eu quero ir a Igreja. Não quero abandonar o Papai do céu." Disse Miriam com um sorriso.
        "Então vamos vestir a roupinha." Disse Gabriela ao levantar e estender a mão para a filha. "Eu vou te levar para o banheiro."
       A delicada mãe leva a garotinha para a banheira, abre a torneira, começa encher de água, tira as roupas da menininha enquanto conversa com ela.
       "Filha." Disse Gabriela serenamente. "Nunca deixe nenhum adulto além da mamãe tocar em seu corpinho, tudo bem? Eu sempre vou te tocar com intensão de cuidar de você, já os outros adultos, não." Falou com um sorriso.
        "Tudo bem, mamãe, nós já conversamos sobre isso." Miriam respondeu com um sorriso.
       "Não confie em ninguém, nem no papai. Se algum adulto fizer algo que te incomode, não guarde segredo, conte para mim." Disse Gabriela seriamente.
         "Sim, mamãe." Respondeu Miriam enquanto balançava a cabeça.    Depois desse gesto, ela se movimentou em direção de sua banheira.
       Miriam se acomodou na banheira, onde teve os cabelos lavados pelas mãos macias de sua mãe, além de brincar um pouco. Ela gostava muito da hora do banho. Seguidamente, a mãe da menininha a vestiu com um vestidinho azul e florido.
        A pequena Miriam estava pronta para ir a Igreja, quando entrou no quarto de sua mãe, que estava se olhando de frente para o espelho de parede enquanto colocava uns brincos em suas orelhas.
       "Eu gostaria de usar uns também." Disse Miriam enquanto admirava a sua jovem mãe.
      "Quando você tiver idade, quem sabe. Você é muito menininha para isso." Respondeu com um sorriso no rosto.
        "Olá, meninas." Disse Renato ao invadir o quarto e perceber as duas conversando. "Estão prontas?" Perguntou sorrindo. Ele estava com os cabelos para trás penteados com gel, enquanto vestia um blusão social vermelho, uma calça preta e calçava uns sapatos marrons.
         "Eu já preparei a bolsinha da Carol." Disse Gabriela ao apontar para a bolsinha amarela de ursinho, aqueles utensílios que as mães de recém nascidos utilizam.
         "Tudo bem." Renato falou alegremente.
          "Eu com fome." Reclamou Miriam.
          "Vou preparar um nesquik para você." Renato disse à sua filha de oito anos.
         Os dois desceram às escadas e, em seguida, senhora Gabriela os acompanhou com a recém nascida nos braços.
        Os quatro saíram de casa. Eles foram em direção a garagem pequena da casa, local em que o seu automóvel branco estava estacionado. Manualmente, Renato abriu as portas dos passageiros. O bebê foi nos braços da mãe, esta estava com o cinto de segurança abdominal, ele sentou na cadeira do motorista e a filha mais velha na cadeirinha do banco de trás.
          Após uma pequena distância de, aproximadamente, 540 metros, Renato estacionou o carro em uma calçada e a sua família desceu em seguida. Eles foram em direção ao templo religioso, que era um ambiente de paredes claras e enormes cujas colunas eram de mármore e este possuía uma enorme entrada.
          "Eu não sabia que essa igreja era tão grande." Disse Renato boquiaberto. "Nunca havia ouvido falar sobre ela."
          "É bem curioso isso." Respondeu Gabriela. "Acho melhor irmos."
        Então a família seguiu o percurso, Gabriela segurava o bebê enquanto Renato andava ao lado dela e Miriam estava cantarolando na frente de seus pais como se estivesse guiando o caminho deles.
          "Olá!" Disse uma senhora simpática de cabelos cacheados, pele negra e olhos azuis. Ela vestia um vestido longo preto e de mangas longas. "Sejam bem-vindos. Vocês são novos por aqui?" Perguntou com um sorriso no rosto. "Eu sou a Pastora Fernanda." Apresentou-se.
          "Eu sou o Renato." Disse o patriarca com um sorriso e ao estender a mão direita para cumprimentá-la.
          "Olá, senhor Renato. Vi que você tem uma bela família. Que benção!" Pastora Fernanda disse sorrindo enquanto olhava para Miriam.
          "Eu me chamo Gabriela e sou a mãe de duas meninas." Disse com um sorriso no rosto enquanto estava um pouco atrapalhada com um bebê nos braços.
          "E eu me chamo Miriam!" Miriam gritou empolgada.
          "Que legal!" Disse Pastora Fernanda. "Sejam muito bem vindos! Sintam-se à vontade no culto de hoje."
           "Obrigado!" Respondeu Renato.
        "Os senhores podem deixar Miriam comigo. Nos fundos da igreja nós temos um espaço para as crianças brincarem sob minha supervisão." Sugeriu Pastora Fernanda com um sorriso. "Faz parte do nosso Ministério Infantil."
         "Que legal!" Disse Gabriela com um sorriso.
          "Posso ir, mamãe?" Perguntou Miriam empolgada.
         "Pode sim." Respondeu Gabriela sorrindo.
          Depois disso, Miriam foi acompanhar Pastora Fernanda imeditamente. Ela deu a mão a mulher e a seguiu pelos fundos da Igreja.
          Em seguida, os pais de Carol foram sentar-se nos bancos e assistiram aos cultos. Porém, quando o relógio marcou 16:40, faltando apenas 20 minutos para o culto acabar, Carolina começou a chorar.
          Então senhora Gabriela precisou ir para fora da igreja acalma-la, o que não incomodou as pessoas que ali estavam, pois todos haviam achado a neném muito adorável.
        "Muito obrigado por ter vindo." Disse Pastor José. Ele vestia um terno preto acompanhado por uma gravata vermelha, enquanto calçava um sapato preto fechado.
         "Finalmente vi o senhor!" Disse Gabriela com um sorriso no rosto enquanto amamentava. "Meu marido já deve estar por vir junto de Miriam."
         "Sim, sim." Disse Pastor José com um sorriso. "Posso contar com a sua presença mais vezes?" Perguntou gentilmente.
          "Quando puder, ? Sou mãe de duas crianças pequenas." Gabriela falou com um tom brincalhão.
            "Quando essa pequenininha crescer vai ter bastante espaço para ela aqui." Disse Pastor José enquanto balbuciava para a bebê que estava sendo segurada por sua mãe.
           Em seguida, Renato chega segurando Miriam pela mão. Ele se despede de Pastor José com um aperto de mão e segue para dentro de seu automóvel com sua esposa e suas filhas. Havia sido um dia agradável.

TRAÍDA PELA CONFIANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora