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Hettie o viu de longe, Miles estava sentado no chão úmido, semi-escondido atrás de uma árvore, a cabeça enterrada entre os joelhos e os braços em volta das pernas. Não parecia nada bem, Hettie se aproximou cautelosa, pois não queria assustar o garoto.

-Você está bem? - Perguntou ela no tom mais calmo que conseguiu.

-Não. - Respondeu Miles com a voz trêmula. 

-E eu posso ajudar de algum jeito? - Insisti a garota.

-Só… me dá um minuto. - Miles respirava pesadamente.

-Você está tremendo. Está com frio?

-Não. 

-O que é então? - Hettie nunca desistia. Miles levanta a cabeça e olha pela primeira vez para a garota.

-Sabe quando você toma uma decisão importante, mas então você se arrepende amargamente e daí não pode mais voltar atrás? - Ele faz uma pequena pausa, mas não espera a resposta. - Pois é, foi esse o caso.

-Hum, e qual foi essa decisão?

Miles se voltou para a garota com um olhar que dizia "não é da sua conta". Mas Hettie sorriu em resposta e se agachou ao lado de Miles.

-Você estava tendo um ataque de pânico não é? Já vi muitos por aqui, aprendi que o melhor jeito de ajudar e tirando o foco daquilo que a pessoa tem medo. Falar sobre o que te assusta também ajuda. E então, é alguma fobia?

O fato era que Miles realmente estava melhor, havia parado de tremer e seu coração e respiração estavam, agora, em um ritmo normal. Ao menos ela parecia saber do que estava falando.

-Necrofobia, medo de cadáveres e coisas associadas a morte. 

-Tipo, qualquer coisa do submundo?

-É.

Hettie soltou um risinho.

-O que veio fazer no Esquecidos do Submundo então? Morrer de medo? Literalmente.

-Muito engraçado "hahaha". - Disse ele num tom sarcástico, Miles estava muito sério.

-Não se irrite, você sabe que essa situação é bastante irônica e engraçada!

-Eu faço terapia, achei que já estava preparado para controlar meu medo de cadáveres, só que eu não estou. Eu só queria superar esse medo idiota e poder ir visitar o tumulo do meu pai. 

Miles sentia culpa e raiva de si mesmo. Seu pai havia morrido há cerca de dois meses e por conta da sua necrofobia ele não conseguiu, nem mesmo, ir ao velório. Foi quando decidiu procurar ajuda profissional, Miles estava indo bem nas sessões e por isso achou que poderia encarar o tão famigerado Parque dos Esquecidos do Submundo. Mas foi carga demais para seu psicológico, com cada passo que dava, esbarrava em lápides, crânios, esqueletos e as demais decorações típicas de halloween. Em dado momento, perdeu todo o seu autocontrole.

-Eu vou embora, tentar chegar aos portões sem molhar as calças. - Disse Miles por fim, suspirou se levantando, limpou a terra da parte de trás da calça jeans com as mãos. - Obrigado por ao menos tentar ajudar. - Disse ele para Hettie, que se levantou também.

-Você tem certeza? Bem, você já está aqui né? Você só terá outra chance ano que vem.

-Você viu o estado que fiquei só por cruzar com  uma criança fantasiada de morte!? Não tem como superar meu medo aqui.

-Não se você estiver sozinho. Eu posso te ajudar, se você deixar. Tenho certa experiência com este parque, estou aqui todos os anos.

Hettie sorriu convidativa e Miles não conseguiu dizer não, mesmo com o coração apertado e a mão suada pelo temor do que viria pela frente. Ele sentia que devia isso ao seu pai, ao menos uma visita.

-Tudo bem então. - Miles se dá por vencido. Hettie exibe um grande sorriso triunfante. 

-Me chamo Hettie, bem-vindo ao Parque Esquecidos do Submundo!

-Miles. Não sei se "bem-vindo" é a palavra correta. 

-Não seja medroso. Vamos começar só andando por aí. - Hettie puxou Miles pela mão, fazendo-o se mover, a mão dela era quente e acolhedora enquanto a dele estava fria e úmida do suor nervoso. - Por acaso teria mais alguma coisa que você tem medo?

-Nada muito grave. - Respondeu ele.

-Ótimo! Vamos começar o tour. 

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(Palavras: 664)

Parque Esquecidos do SubmundoOnde histórias criam vida. Descubra agora