Home is where the heart is

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Ainda no mesmo dia,

Celine pov.

Logo após McCartney se despedir e sair correndo da loja, passei a mão na bochecha, e caminhei até o caixa onde Lizzie me encarava com um sorriso bobo no rosto. Mesmo sendo dois anos mais velha que eu, ela parecia muito mais menina que eu. Ela tinha os cabelos cacheados como molinhas, olhos grandes e pretos e um humor adorável. Ela é minha amiga desde que me entendo por gente, somos muitos unidas, mesmo que nós duas sejamos os completos opostos. Ela é totalmente positiva, brincalhona, feliz e romântica, enquanto eu sou mais séria, talvez até negativa às vezes, e deixei de acreditar nessa coisa de amor faz tempo. E é por isso que Lizzie riu tanto quando viu que eu trouxe Paul até a May's Records, ela tem plena certeza de que somos um casal.

- Eu vi o beijinho que aquele garoto te deu, hein? Então, como foi o encontro?

- Foi normal. Nada demais. E você não viu nada.

- Claro que vi! Você não vai iludir o rapaz, não é? 

- Óbvio que não, meus interesses com ele agora são puramente profissionais. 

- Até ontem não eram.

- Ora Lizzie! Você, mais que ninguém sabe por qual motivo não acredito mais no amor. Sai com Paul  porque ele me pareceu uma pessoa muito gentil e legal, o que se mostrou verdade hoje. E ainda por cima, conseguimos nossos primeiros clientes. Pense na nossa gravadora Lizzie. Estamos quase lá.

- Ora, gravadora, pare de desconversar! Admita ao menos que o achou bonito. Eu te conheço, Celi, e ele é um pitelzinho! 

- Ah, até que ele não é nada mal. 

- Claro que não é! Mas o que ele tem a ver com a gravadora? - ela diz enquanto dá a volta pelo balcão e caminha até minha direção para me ajudar a desempacotar alguns discos novos.

- Bem, se lembra que há alguns meses Amélie disse que o Cavern tinha uma banda nova? Esse garoto, o Paul, é o baixista e vocalista de apoio dessa tal banda. 

-  Me lembro sim. Parece legal. E o que eles tocam? Que eu saiba, o dono do Cavern só deixa tocarem jazz, e Paul não me parece o tipo de cara que toca jazz, com aquele topete e todo aquele couro...

- E ele não toca. Ele e os amigos tocam rock mesmo. E tocam bem, eu até disse à ele que se você e seu pai aprovarem, podemos gravar um ep deles.

- É uma ótima ideia! Por mim já está aprovada, mas não sabia que rockeiros te atraiam... - ela diz me olhando com "aquela" cara.

- E não me atraem, Lizzie, não mais. Agora vamos, me ajude a terminar logo isso, pois já já é hora de fechar a loja.

Após mais ou menos uma meia hora desempacotando mais e mais discos, terminamos de organizá-los e pudemos finalmente fechar a loja. Lizzie disse que o movimento foi até bom hoje, mas nada muito extraordinário. Pegamos nossas coisas e subimos para o andar de cima, onde morávamos. 

Eu moro com Lizzie nesse apartamento desde os meus onze anos. Desde quando perdi minha mãe para um acidente e meu pai para o suicídio. A família May acolheu à mim e à Amélie, e como os irmãos de Lizzie tinham se mudado para os EUA, o apartamento ficou vago e eu e Liz viemos para cá. Amélie não veio morar com a gente logo de início; resolveu se mudar para a grande Londres para fazer faculdade de medicina. Por sermos  jovens demais para morarmos sozinhas, uma prima de Liz veio ficar conosco, para cuidar de nós. Agora que Mélie voltou, ela voltou a morar em Bristol, sua cidade natal. Era uma pessoa legal, eu gostava dela.

O apartamento era grande e espaçoso. De algum jeito, Lizzie conseguiu deixar a decoração com um pouco de cada uma de nós; era aconchegante e passava a sensação que um bom lar deve passar. Eu amava morar ali, com aquelas pessoas. Abrimos a porta do apartamento e Mélie não estava lá. Eu achei que ela ainda estivesse em plantão até que senti o cheiro de cigarro vindo da varanda. Pedi para Lizzie trancar a porta e caminhei em direção a onde eu sabia que minha irmã mais velha estava.

- Dia difícil, Mélie?

- Um dos piores, estou acabada...

- O que aconteceu? - perguntei, me sentando numa cadeira ao seu lado. Era uma noite normal em Liverpool. Ventava um pouco e estava frio, o céu nublado indicava que uma madrugada chuvosa viria por ai. Amélie usava o mesmo vestido que usou para ir trabalhar, não havia se trocado ainda. Fumava seu cigarro olhando vagamente para algum ponto da cidade.

Amélie fuma desde que nossos pais morreram, acho que para aliviar toda a tensão e tristeza que ela sentiu naquela época. Antes de ela ir para a faculdade, a eu de onze anos a fez prometer que ela pararia de fumar. Assim, pelos 6 longos anos em que ela esteve em Londres, eu mandei uma carta todo o mês a lembrando de não voltar a fumar. E ela respondia todo o mês, dizendo que não havia voltado. Mas como todo ser humano tem recaídas, Amélie voltou a fumar. Agora, ela só fuma quando algo muito ruim acontece. Então, o cheiro de cigarro pra mim e para Lizzie se tornou um sinônimo de preocupação.

- Você se lembra do Patt, Celi?

- Patrick Norman? Seu primeiro namorado? O que houve com ele?

- Ele sofreu um acidente hoje. Ele consertava a fachada de uma loja quando esta caiu em cima dele. Chegou já sem vida no hospital onde eu trabalho e meu superior me mandou atestar a morte. Não consegui mais trabalhar depois disso, expliquei para meu superior, ele entendeu e me deixou voltar mais cedo, já que eu tirei plantão ontem.

- Amélie, eu... sinto muito.

- É. Eu também...

Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que Amélie resolve apagar seu cigarro. Ela se vira para mim e pergunta:

- E o encontro com aquele rapaz, o Paul...?

- McCartney.

- É, McCartney. E então, como foi?

Eu dei um suspiro. Não sei por que elas se preocupam tanto com minha vida amorosa. Mas percebi também que Amélie estava tentando mudar de assunto, então resolvi falar.

- Foi normal. Fomos ao Cherry's, tomamos milkshakes, e eu o trouxe para conhecer a May's Records e Lizzie. Ele é um cara legal, mas não há nada demais entre nós.

- Entendo. Como você o conheceu mesmo?

- Lembra que eu fui no Cavern na terça a noite com uma amiga? Então, o Paul é o baixista da banda que estava tocando lá naquela noite.

- Como você aceitou sair com ele se não gosta de rockeiros?

- Eu achei que ele seria uma pessoa legal, e eu estava certa. E a Lizzie me perguntou a mesma coisa.

- E ele toca bem? É bonito?

- A banda em si é muito boa, eu e Lizzie até estamos pensando na possibilidade de gravar um single deles. Quem sabe um ep. E o Paul, bem, ele não é nada mal. Mas você não acha que já está ficando frio demais para ficarmos aqui fora? Além do mais, Lizzie deve estar precisando de ajuda com o jantar.

- Frio, sei... Você está é querendo mudar de assunto. Mas tudo bem, Celi, vamos entrar.

Ela pegou o cinzeiro que estava na mesinha entre nós, se levantou, abriu a porta da varanda e entrou. Eu dei uma última olhada no céu de Liverpool, suspirei fundo, me lembrando de tudo o que havia acontecido neste dia e entrei também.

....


TERCEIRO CAPÍTULO GUYS!

Me desculpem pela demora para soltar esse, eu tive que reescrevê-lo pelo menos umas três vezes até ele ficar de um jeito que me agradasse. Mas tá ai! Eu espero muito que vocês gostem! É pequeno, mas de coração <3

(ah, e me perdoem qualquer erro ortigráfigo ai viu?)

And I Love HerOnde histórias criam vida. Descubra agora