Oi, pessoa, tudo bem? ♥ Antes de começar, seja bem-vinde, e ah!, eu queria avisar que esse conto talvez tenha sido assim moderadamente inspirado em acontecimentos reais, então, por favor, seja gentil com as personagens. Agradeço muito por passar por aqui e tenha uma boa leitura :)
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Brasil, São Paulo, 23 de julho de 2019
Um raio de luz safado atravessa a pequena fresta da minha porta, dando um pouco de claridade cegante ao restante do escuribreu do meu quarto. Bufo. Não consigo dormir com luz. Não consigo. Me viro para trás e vejo o horário no celular. Cedo demais. Abro uma caixinha na minha mesa de cabeceira, pegando uma máscara. A coloco em volta dos olhos e me ajeito várias vezes na cama, minhas costas doídas e pernas inquietas não satisfeitas em quase nenhuma posição por muito tempo. Eventualmente, consigo voltar a dormir.
Acordo novamente. Talvez tenha sido espontaneamente dessa vez ou algum dos sons que minha família fez. De qualquer forma, me sinto descansada, ou pelo menos não morrendo de sono. Tiro a máscara e olho o horário. Okay, está decente. Tiro o celular da tomada e a primeira coisa que faço é checar o WhatsApp. Então, olhando as mensagens, lembro que hoje é domingo, dia da parada! A parada! Algumes migues do meu grupinho queer estão meio surtando, rio lendo suas mensagens. Um sorriso contido, mas pleno, se abre no meu rosto em meio à rabugice. Fico animada para me vestir cheia de mensagens subliminares sem que meus pais percebam. Não é nem como se eles soubessem as cores das bandeiras do arromantismo e da assexualidade, afinal, ou como se soubessem que essas orientações existem, na verdade. São orientações muito desconhecidas.
Eu moro em São Paulo, mas nunca fui para a parada. E não pretendo ir tão cedo, me mantenho o máximo possível longe de uma quantidade enorme de gente em um só lugar sempre que dá, acho que nem preciso falar de como é a experiência de metrô e ônibus no pico. Mesmo assim, desde que me descobri queer, me sinto animada com a parada todo ano e se vestir com orgulho é sempre divertido e acalentador.
Mas eu claramente ainda enrolo muito na minha cama antes de levantar e fazer isso.
Estou no meu quarto, conversando com um amigo de como seria legal se ano que vem nós e nosses amigues fizéssemos um rolê durante a parada pra comer ou algo assim, quando o telefone toca. Poucos minutos depois, meu pai abre a porta e diz que meu tio Carlos está chamando a gente para ir na parada com ele. Ah, não, meu Deus! Fico meio nervosa. Eu meio que queria ir na parada, mas só se ela fosse vazia, bem mais vazia, e definitivamente não dentro do armário, com a minha família que eu amo demais, mas que, por conversas anteriores que tive com elus, muito possivelmente acha o "Q+" desnecessário. Mentira, não todo mundo. Talvez só meu pai e meu irmão..., talvez a minha mãe... He. Minha tia é mais tranquila e minha prima foi a única pessoa da família pra qual eu tive a coragem de sair do armário. Já meu tio e meu primo, eu já não sei.
- Mãe, você sabe que eu fico desconfortável com gente demais... – tento dizer. Mas, no fim, ela me convence.
Meu irmão não veio, o que é um certo alívio. Estamos eu, meus pais, minha tia Denise, tio Carlos, minha prima Amanda e meu primo Omar. Duas famílias tradicionais brasileiras e eu, que também faço parte de uma das famílias tradicionais brasileiras, mas, é... Acho que deu pra entender. Estamos na ponta da Paulista mais próxima ao metrô Brigadeiro, andando em frente. Meus pais em algum momento se divergem da gente, mas estou nervosa demais para prestar atenção no que era que iriam fazer. Não tem quase ninguém ali além de nós, umas pessoas esparsas e um montante absurdo de lixo, a parada a está altura do caminho está na Angélica e estou aliviada por isso. Bom, menos pelo montante de lixo. Como as pessoas não percebem o quanto isso é... nojento? Ugh. Parece que transformaram a parada no rio tietê, só que com glitter. Sério, queride, joga a porra do lixo no lixo. Depois as pessoas não acreditam quando estimativas indicam que vamos ser extintos nesse século. Tento ignorar isso e prestar atenção na conversa:
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Só queria uma parada parada
Historia CortaNesse pequeno conto vergonhoso de humor, Samantha só queria aproveitar seu dia de orgulho em paz, mas quando vê está sendo arrastada para a parada LGBTQ+ pela sua família para a qual ela ainda não saiu do armário. *A capa é de minha autoria, você po...