Docinho

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Londres, 10 de outubro, 8:00 pm.

      Já era a terceira troca de roupa. Voltava a fitar o espelho, ansioso, com outro tom de preto. Dessa vez adicionou alguns acessórios: brincos pontudos como presas contornavam a cartilagem da sua orelha direita; na esquerda um piercing na helix descia uma pequena corrente até seu segundo furo; no primeiro, um alargador em formato de presa. Todos dourados e vermelhos. Katsuki apreendeu a condicionar o corpo para suportar qualquer tipo de joia, inclusive os colares com crucifixos, mas hoje não estava a fim de pagar de bom samaritano.

     Deu leves tapinhas no tronco e se aprumou para o espelho. Vestia uma cropped por baixo de um blazer longo, calças de cintura alta que realçava sua bunda, e sapatos oxford, todas as peças no mesmo tom sombrio de preto, apenas os acessórios e os olhos de Katsuki reluziam diante do look. Pegou o celular com as unhas longas e pontudas (também pintadas de preto) e conferiu o horário: 8:32 pm. Não queria chegar cedo ao encontro, mas já não tinha mais o que arrumar, estava perfeito e com tempo de sobra — um tédio.

     Shinsou abriu a porta do quarto e assoviou.

     — Não te vejo assim desde o dia que se alimentou do baile inteiro de tango. — Os olhos roxos contornavam os detalhes do look de Katsuki. — Adorei tudo, principalmente os brincos.

     — Obrigado. — Katsuki disse para o espelho, passando os dedos pelas orelhas, sem encostar nos brincos.

     — Você quer uma carona? A casa do Kaminari fica perto do Kirf.

     — Não precisa. Não vamos no Kirf, ele sugeriu um lugar novo no Hampshead.

     — No bairro dos lobisomens?

     — Os lobisomens tomaram o Hampshead? — Katsuki franziu o cenho.

     — Sim, acho que o objetivo é o norte de Londres como te falei... Mas faz pouco tempo... — Shinsou levou os dedos ao queixo — Não deve estar repleto de lobisomens ainda. De qualquer forma tome cuidado e arranque a cabeça do primeiro que mexer com você. — Shinsou fez um gesto convidativo com a mão e foi até a cozinha.

     Katsuki o seguiu. As luzes da cozinha-sala estavam acessas e duas taças de vinho tinto ocupavam a mesa de centro.

     — Vamos brindar! — Shinsou pegou as taças e entregou uma a Katsuki; levantou sua taça como se fosse iniciar um discurso: — Um brinde ao fim da era de bundas no sofá e outro ao início da era de bundas saudáveis e cheias de porra.

     O tim-tim das taças ecoou junto das gargalhadas dos vampiros, e então as entornaram.

     — Você não presta mesmo, não é? — Katsuki pousou a taça, agora vazia, na mesa.

     — Claro que presto, dou os melhores conselhos para o meu melhor amigo. — Shinsou aprumou os ombros, orgulhoso. — Pode admitir que se não fosse por mim, você ainda estaria naquele sofá — apontou para a sala com as unhas pintadas de roxo.

     — Tudo bem, você tem razão...

     — Olha o horário! — Interrompeu Shinsou ao conferir o relógio de pulso. — Você vai se atrasar, é melhor pegar a moto!

     — Caralho. — Sentiu uma onda de ansiedade quebrar pela sua barriga e espalhar pelo tronco como uma onda desmanchando na praia.

     Balançou a cabeça, se despediu de Shinsou e bateu a porta atrás de si. No estacionamento sua moto demoníaca parecia sorrir saudosa. Montou na moto e passou a presa pelo lugar onde, nas motos mundanas, o contato aguardaria as chaves. As motos demoníacas funcionavam apenas com a energia da noite, as digitais dos vampiros eram o suficiente para liga-las. O motor roncou alto e Katsuki sentiu seu corpo reverberar, quase tinha se esquecido de como isso é prazeroso. Arrancou a moto e, sorrindo, partiu para o endereço do Hunters Moon que havia checado no mapa do celular.

Blooder | KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora