Ben estava maior. Não em questão de altura. Teve uma época em que eu era mais alta do que ele, mas já faz uns três anos que ele me passou e muito. Ele já tinha dezoito anos agora, mas nunca comprava vinho para mim quando eu pedia.
Não que eu pedisse.
Ben estava mais largo, isso sim. Sentado ao meu lado no trem, seus ombros estavam maiores e me empurravam um pouco para a janela, o que teria me incomodado se não servissem tão bem para eu apoiar a cabeça e dormir. Para quem tinha começado a viagem com a música no volume máximo, eu mal conseguia distinguir qual era quando acordei.
Demorei um tempo para conseguir parar de piscar e me acostumar com a luminosidade da cabine do trem. Ben me observava, segurando um livro com a capa e tudo que já tinha lido dobrados para trás. Me deu uma pontada de dor no peito só de ver.
— É necessário maltratar seu livro desse jeito? — perguntei, sem qualquer expectativa de resposta. Era por isso que eu nunca deixava que ele chegasse perto das minhas estantes. Só a ideia de marcar a lombada já era uma tragédia para mim.
— Sabia que você vai abaixando o volume enquanto dorme?
— Sabia — respondi, me levantando e me esticando como conseguia.
Tínhamos reservado uma cabine inteira do trem para nós e mais uma para levar nossas malas. A viagem de avião até a capital de Vitória tinha durado pouco mais de duas horas, mas ainda tínhamos outras cinco no trilho. Teria sido mais fácil e rápido ir direto a Belforte de avião, mas Ben tinha medo de altura e, apesar de que nunca iria insistir em passar o menor tempo possível no ar, eu sabia que ele tinha ficado aliviado quando sugeri o trem. Minha desculpa foi que poderíamos ver mais do nosso país durante a viagem, que seria uma aventura, que a jornada era a parte mais importante, alguma coisa desse tipo. Era bem legal mesmo, mas tinha que confessar que já estava cansada o bastante para só querer chegar na escola e dormir.
Portia estava no outro canto da cabine, longe da luz do sol. Estudava um livro grande demais para ser indicado para quem ainda tinha um ano em escola preparatória antes da faculdade. Ela levantou o rosto como por impulso e seus olhos não subiram além da altura da minha saia.
Tinha uma razão para isso. Eu vestia a saia mais maravilhosa já inventada pela humanidade! Ela era cinza meio roxo, mas escura, com brilhos e glitter pequenos e tão intensos, que parecia que era metalizada! Ainda tinha pregas e era curta, mais de um palmo acima do meu joelho quando eu usava com a cintura alta, como hoje. Toda vez que olhava para baixo, me dava vontade de girar e fazê-la levantar um pouco, além de que já tinha postado uma foto e três stories no Instagram para mostrar o brilho dela!
Não, eu não tinha criado a saia mais maravilhosa já inventada pela humanidade, mas queria ter!
— Vocês estão pensando em se trocar antes de a gente chegar lá? — Portia quis saber, falando com nós dois, mas claramente direcionando sua pergunta para mim.
Ben teria que se trocar para se passar por guarda da escola, tinha um uniforme novo para vestir. Só não consegui imaginar por que eu teria que me trocar.
— Não, escolhi essa roupa exatamente porque queria vestir algo especial e aproveitar que faz bem mais frio em Belforte — respondi, sem conseguir esconder tão bem que estava na defensiva.
Desviei meus olhos para a janela e me deixei observar as fazendas que dava para ver dali.
— Em fevereiro, não é frio em lugar nenhum — Ben comentou.
— E na Sibéria? — Virei meu rosto para ele, que sorriu.
— Talvez na Sibéria — admitiu.
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A Princesa Escondida (amostra)
Ficção AdolescenteNova versão do sucesso de leituras no Wattpad, agora repaginado e ainda mais apaixonante! Laura Machado traz uma história de romance e realeza, repleta de aventura e emoções! À primeira vista, Elisa Pariseau é uma garota normal. Como todos os jovens...