Eu sou bom com palavras, escritas não faladas. Meu melhor amigo é o papel e a caneta, sim, parece solitário, mas não é tão sozinho estar só.
De longe vi, no corredor da escola, uma garota, acho que novata ou nunca tinha a notado antes, mas agora eu notava e ela era linda, com feições angelicais, cabelo loiro e corpo perfeito. Fui pra sala e sentei-me na minha carteira, logo depois o Matheus chegou e se sentou perto de mim.
- Oi - ele me surpreendeu com sua voz forte e rouca.
- Oi Bê
- Ressaca ainda?
- Não, já passou e você?
- Nem tive, você ficou muito louco cara, foi muito divertido - ele fala sorridente.
- Foi mesmo, apesar de eu não lembrar muita coisa.
- Então devíamos repetir, e não beba tanto dessa vez - ele fala rindo.
- Sim, vamos.
Eu não queria repetir, na verdade, só fui por o Gab e pelo Bernardo, mas se eles quisessem ir novamente eu iria, foi divertido e eu não tenho como negar isso.
O professor de historia chega na sala e traz consigo uma garota, não uma garotas mas A garota. Quando ela se vira e vejo o rosto dela percebo que conheço ela de algum lugar, ah sim, claro que conheço. Penso mais um pouco e me lembro dela da balada. Uma grande coincidência em um mundo tão grande, mas no fundo eu queria que ela estivesse ali.
- Bom dia pessoal, essa é a Alice, ela é nova aqui então a tratem bem.
- Ninguém falou isso quando eu entrei aqui - brinca o Bernardo em um cochicho.
Eu rio por educação porque nem prestei atenção nas palavras dele, só prestei atenção na beleza dela e acho que ela estava olhando pra mim, ou talvez seja apenas minha imaginação girando ao meu favor, pelo menos uma vez.
Ela senta próxima a mim, da ate pra sentir o seu cheiro, que é ótimo. Ela me olhou, mas dessa vez eu tenho certeza, seus olhos são verdes, verdes como um campo florido em plena primavera. Eu poderia passar horas falando da sua beleza e da profundidade dos seus olhos, mas sou me resumir e apenas falar que ela é perfeita.
No ultimo intervalo eu não tenho mais paciência pra ficar na escola, então decido matar as ultimas aulas. Pego meus cadernos e saio correndo sem nem me despedir do Bernardo que a essa hora eu nem saberia onde ele esta mesmo. Me apresso para chegar no portão ainda aberto, de repente eu esbarro com alguém e todos os meus cadernos e os dela estão no chão, percebo que é ela, sim a Alice. De imediato fico totalmente sem graça, e acho que ela também. Nos dois começamos a recolher nossos materiais do chão.
- Ah, desculpa - falo envergonhado, nem saberia que um dia teria coragem de falar com ela e dessa vez fui meio que forçado a fazer isso.
- Besteira, seu nome é? - ela fala parecendo não se importar de eu ter esbarrado nela.
- Bernardo. Alice, certo?
- Sim. Acho que peguei você tentando matar aula - ela fala quase que sorrindo.
- Acho que pegou mesmo... Mas e você? Tá fazendo o que fora da sala? - pergunto no tom mais divertido que consigo.
Ela começa a rir e responde:
- Então, ia matar aula também - sorrimos um para o outro e começamos a rir e sair da escola - Minha casa é por aqui e a sua? - ela diz apontando para o lado oposto da minha casa.
- Ah, não, é por ali - falo meio tristonho - Então, até mais.
- Até - ela sorri e sai andando.
Já no meu quarto, cansado, percebo que minha casa é longe da escola a pé. Ligo meu computador e checo todas as minhas redes sociais. Escuto um carro parando na frente da minha casa e olho pela janela, é minha mãe. Depois de algum tempo eu desço pra cumprimentar ela.
- Oi mãe - falo meio sem graça.
- Oi filho, a escola já acabou? - ela pergunta com uma cara confusa enquanto nos desentrelaçamos do abraço.
- Sim, aula livre - repondo, com medo de ela perceber que era mentira.
- Tá bom, vai que horas? - respondo querendo parecer tranquilo quanto aquilo.
- As vinte horas tenho que estar no aeroporto, você me leva?
- Mas eu não tenho carteira de motorista ainda mãe - ela havia me ensinado a dirigir um ano antes, quando eu estava de férias e ela também.
- Mas ninguém sabe, bobão - ela reponde e me beija na bochecha.
- Eu levo então, quer ajuda com as malas? - pergunto.
- Só na hora de levar para o carro.
- Certo, vou dormir um pouco, quando tiver na hora de te levar você me acorda, tá?
- Bê, você só dorme, parece um morto - ela reponde rindo - tá bom, meu bem, vá lá.
Subo as escadas e durmo. Acordo horas depois atordoado com o sonho que tivera, sonhei que nasciam penas nas minhas costas e eu tentava tirar, mas elas nasciam novamente. Passei as mãos nas costas para checar e estava tudo bem. Minha mãe entra no quarto e fala:
- Ah, já ia te acordar, vamos?
- Vamos.
Levando, ponho um tênis e carrego todas as suas quatro malas pesadas para o carro.
- Nossa mãe, ta levando o seu guarda roupa todo? - pergunto quando ela entra no carro.
- Não tem nem a metade o do que eu preciso ai, filho - ela responde sorrindo.
Liguei o carro e fui em direção ao aeroporto. Na hora de nos despedimos nos abraçamos e ela falou:
- Cuidado na vida, ta? A empregada vai lá uma vez por semana para arrumar tudo, deixei um cartão de crédito e dinheiro na sua carteira.
- Como você pegou minha carteira? - pergunto indignando.
- Sou sua mãe, oras - ela reponde rindo, ela fazia muito isso - tchau filho, ate mais.
- Tchau mãe, ate.