Acordo com meu despertador irritante. Fico mais um pouco na cama pensando em que eu tenho que fazer ainda antes de ir para a escola. Enfim levanto e vou ao banheiro tomar meu banho, hoje eu me sinto estranho. Saio do banho e olho a hora, percebo que estou um pouco atrasado corro pro meu quarto e me visto rapidamente, pego uma maçã em cima da mesa e saio apressado para não perder o ônibus, espero uns 5 minutos e enfim o ele aparece. Entro, esta lotado e só há um lugar vazio, ao lado do garoto que ficou me encarando, penso seriamente em ficar ali de pé ate a escola, mas acho que todos ali iam perceber que eu não queria sentar ao lado dele, então concluo em ir pro assento vago. Quando sento, fico constrangido por um tempo pensando que ele pode estar me observando de novo, é como sentar ao lado do inimigo. Mas olho para o lado e percebo que ele esta olhando vagamente para a janela, como se tivesse olhando para o infinito. Penso em falar com ele, mas isso não faz parte de mim.
- Oi - ele falou
Paro por um tempo pensando se eu vou responder
- Oi - saiu involuntário
A voz dele era grossa, de um tom ríspido, dava um pouco de medo, fiquei pensando durante a estrada toda do porque ele tenha falado comigo. Chego à escola, saio quase correndo do ônibus para não deixar que ele me acompanhe, acho que estou com medo dele. Entro na sala de aula, a primeira aula de hoje é física, eu gosto. Passado uns quarenta minutos o professor explicou algo sobre ótica, não sei, não prestei muita atenção.
- Agora vou fazer duplas para responder uma atividade - diz o professor
Todos ali na sala ficaram com uma cara triste, pois gostavam de escolher a dupla, eu fiquei normal, afinal se o professor não escolhesse acho que ninguém me escolheria.
- Ana com Carol, hum... André com Bianca... - Ele da uma breve pausa - Bernardo com... - outra pausa, isso me deixou ansioso - Bernardo com Matheus.
Não reconheço o nome, acho que não estuda aqui. "O professor deve ter se confundido" logo penso. De repente alguém toca no meu ombro, olho para o lado e percebo que é o garoto estranho.
- Você é o Bernardo? - diz ele, faço que sim com a cabeça - Então, sou o Matheus, acho que você é minha dupla.
- Certo - respondo friamente
"Oh meu Deus" penso, ele olha para mim como se soubesse o que eu pensei, fico um pouco envergonhado, acho que corei. Ele puxa a cadeira dele e fica comigo na minha carteira, com ele perto assim percebo seu físico, é perfeito, já eu sou um magrela. Ele cheira bem. O professor passa de carteira em carteira entregando a atividade. Enfim recebemos a nossa, olho para a folha leio algumas questões e entrego para ele.
- Não sei de nada - falo para ele, me sentindo um idiota.
Ele olha para a folha e responde:
- Deixa comigo.
Ele não me olhou com cara feia, apenas sorriu e começou a ler e responder as questões. Deito-me um pouco sobre a carteira, meus olhos estão pesados, pisco o olho por um longo tempo, quando enfim foco minha visão, todos estão olhando para mim e o Matheus esta lá na frente, só a cadeira vazia ao meu lado, sinto um frio subir dos pés ate a cabeça.
- O que foi gente? - eu pergunto.
Mas ninguém parece ouvir, todos continuam olhando para mim menos o Matheus. Então sinto alguém cutucar meu ombro.
- Bernardo, a aula já acabou - é o Matheus.
Percebo então que tem saliva escorrendo da minha boca e que estava dormindo, mas como um sonho pode ser tão real? Então limpo a saliva envergonhado, e saio da sala. Matheus esta me acompanhando.
