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Meu corpo ainda estava doendo um pouco. No meio daquela bagunça eu peguei uma bicicleta, quando pedalei senti uma mão me puxando pelo braço.

– Onde você tá indo?

– Eu queria comer.

– Volte rápido. — Senti os olhos de Cris queimando minhas costas enquanto ia pro posto.

– Oi Speed.

– Oi... Você tá bêbado?

– Talvez.

Comprei um suco de laranja e uma barrinha de cereal, e sentei no balcão enquanto o garoto me olhava.

– Você conhece o Cris, não conhece?

– Sim... Por que?

– Já beijou ele?

– Eu prefiro sangrar até a morte.

– Então você o conhece.

– Eu já disse que s–

– Não, você conhece ele, de verdade. Parece que você é a única pessoa que sabe quem ele é, tipo, na essência dele.

– Eu vou te falar uma coisa Martin, só uma vez, porque eu não quero problemas pra ninguém. Na primeira oportunidade que tiver, vai embora, fuja daqui, não olhe pra trás nem por um segundo... E se salve. — Vi seus olhos cheio de lágrimas e algumas escorrerem por seu rosto. Larguei as coisas que tinha na mão e o abracei. Ele estava tenso, mas deixou sua cabeça descansar em meu ombro, eu sentia que ele queria dizer alguma coisa, mas não disse.

– Speed, eu–

– Martin! Vambora, o Cris tava louco achando que você tinha desaparecido. — Amanda me puxa com ela pra fora, olhando pra trás vejo que ele me encarava pela janela de vidro.

Chegando de novo no meio de todos eles. Vi meio embaçado Peter com a feição de raiva indo na direção oposta, com uma machadinha na mão.

– Martin, você tem que ver o que o Cris fez pra gente!

– O que ele fez?

– Não, você tem que ver com os seus próprios olhos. — Ela parou de me puxar e paramos em frente a casa.

Cris estava falando com o vento de novo, mas parou no momento em que viu que tínhamos chegado. Ele veio até nós e pegou nas nossas mãos e nos levou até um canto mais afastado da casa.

Vimos flores, e tivemos a primeira experiência com sol laranja.

Os dias foram passando, parecia que ficávamos drogados o tempo inteiro, Cris insistia que logo pela manhã tomassemos vodka, e que em específico eu, Amanda e Dalia ficássemos na cabana com ele enquanto tivéssemos usando heroína.

Ele começou a se comportar como um animal com nós três. Uma vez durante uma caçada ele me pegou pelo braço e quis transar no meio da floresta, fiquei com marcas roxas nas pernas e na cintura por um bom tempo.
Em qualquer oportunidade que tinha ele pulava em nós como um animal. E algumas cenas começaram a ficar meio... Desconfortáveis.
Como ele pedir desculpas pelo "desejo da carne" com um terço na mão enquanto transava com a Amanda.

No meio da madrugada ela entrar correndo chorando no banheiro e trocar as roupas sujas de sangue.

Dalia ficar alerta o tempo todo como se tivesse com medo, aparentar estar frágil e quase não se juntar mais os outros por estar alta o tempo todo.

Conseguia fugir dele várias vezes, ele começou a me fazer sentir culpado por tudo que... Não parecia ter nada haver comigo. Mas eu achei que eu tava louco, e que eu tinha que me esforçar mais por estar lá. Quando eu fazia o que ele queria, ele até me dava mais abraços, e não me machucava tanto.

E fomos fazer uma excursão num rancho menor, mas ainda assim bonito e aconchegante.

Todos nós fomos andando no frio e descalço até lá.

Eu, Nill e Kai ficamos andando juntos, e nesse caminho até o rancho tinha um milharal que... Bom, tinha um espantalho.

– Meu Deus...

Éramos os últimos da nossa fila mal feita, quando bati o olho naquele espantalho paralisei onde estava. Senti aquele calafrio subir na espinha e não conseguia tirar meus olhos daquilo.

– Esse aqui é o nosso espantalho, feito pra espantar qualquer coisa que atrapalhe a plantação. Foi trocado ontem. Peter teve muito trabalho pra deixar tudo pronto. Vamos crianças, que como prometido ainda tenho uma surpresa pra vocês. — Apertei forte a mão de Nill e é claro que ele percebeu meu desespero.

Fomos andando até chegarmos no rancho. Sinceramente nem prestei atenção direito quando cheguei. Mas não tinha como notar os demais trailers que haviam estacionados lá. Mas não importava, fui correndo até um riacho mais distante e não tinha soltado a mão de Nill até então, que não parava de perguntar o que tinha acontecido comigo.

– Pelo amor de Deus, da pra você dizer alguma coisa?! Martin!

Subi minha mão pelo seu braço e invadi o espaço pessoal dele.

– Senta aí.

Sentamos na grama, ele me olhava enquanto eu lavava o rosto com a água gelada do rio.

– Muito, estranhamente, aquele espantalho que a gente acabou de ver, se parece muito com o garoto que eu vi duas vezes na conveniência.

– O que?

– Nill, mataram ele. Tem literalmente corvos indo lá agora comer pedaços dele. Eu... Eu achava que eu tava sendo louco de querer sair daqui sem motivo, mas um homicídio já é o suficiente... né?

– Você tem certeza que é ele?

– Ele tem até as mesmas roupas, e, uma semana atrás quando o Cris mandou a Amanda ir atrás de mim, eu vi o Peter na chuva indo lá.

– Qual era o nome dele?

– Speed. — Não é uma coisa muito fácil aceitar que tinha um corpo morto pendurado perto de você, então, Nill respirou fundo passando as mãos no rosto.

– Tá bom, eu acho que já deu desse lugar. Eu quero ir embora. — Ele levantou rápido, e eu também, entrei em sua frente pra não seguir com que ele queria fazer.

– Hey hey Nill, calma. Você acha que os outros vão acreditar que tem um garoto morto no milharal, que o Peter matou, e que eles nunca viram? Esquece, vão achar que a gente tá brincando.

– Tá... O que a gente faz? Eles pegaram nossos celulares, e todos eles estão no trailer no Peter. Não tem chance da gente entrar lá, ele sempre parece tá armado, e ele nunca sai de lá, não vai acontecer.

– Escuta, eu tenho uma câmera, uma polaroid e uma cânon t5i, eu vou ficar com a polaroid, você fica a Canon, a gente vai registrar tudo que possa ser usado contra ele.

– Ok...ok... — Nill olhava para longe. –Martin?

– Sim?

– Olha. – Me virei pra ver o que tava acontecendo... Não era possível.

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