Prólogo

2.5K 337 79
                                    

Brilha brilha estrelinha.

As estrelas mais brilhantes eram as que mais haviam histórias tristes para contar. Explosões, combustões e um amontoado de reações químicas para irromper em vibrações inimagináveis.

Eram as mais sofridas. No entanto, as que mais chamavam atenção nas noites escuras. Mas será que dariam a devida importância para o motivo de todo esplendor?

Eu, porém, acredito que não, querido Neith.

As pessoas não se agraciam com a dor. O brilho é o único objeto de toda admiração, nada além disso importa, desde que brilhem no céu a fim de exibir sua luminosidade exorbitante.

De: Seu planeta favorito.

Prólogo

"Geralmente, quando uma estrela massiva e intensa morre, há a sua explosão e apagamento definitivo, se tornando, parcialmente, uma supernova. Porém, quando essa mesma estrela ultrapassa a massa e intensidade de qualquer outra, em sua morte, ao invés de se apagar definitivamente, ela se expande e se torna um buraco negro, sugando tudo o que há em sua volta de maneira catastrófica."

Solstício de verão. O grande dia.

George Loeb era uma grande figura por trás dos telões, prepotente, robusta e cheia de si. Os olhos verde musgo brilhavam com aquele charme que só ele tinha, o terno roxo contrastando com o tom vermelho de seu cabelo metodicamente arrumado.

Atrás dele, ampliado para que toda a plateia de cientistas pudesse ver, o grande troféu de ouro de melhor pesquisa astronômica do ano era encaminhado lentamente até seus braços.

— Ai, meu Deus — minha melhor amiga, Samantha, sussurrou em meu ouvido, os olhos brilhando enquanto assistia a tão esperada premiação.

Todos nós havíamos nos empenhado muito por aquele momento, e ver aquilo de perto era quase como pisar na Lua. Parecia inacreditável.

— Tenho sorte por estar aqui e poder compartilhar essa vitória maravilhosa com todos vocês... — ele bradou, de maneira grandiosa. — Sei como é o sonho de todo cientista conquistar esse prêmio, e que qualquer astrofísico daria tudo para estar no meu lugar. Mas, bem, essa grande conquista não é para qualquer um, não é mesmo?

E sorriu, com aqueles dentes alinhados e brancos além da conta, fazendo com que também a plateia inteira sorrisse por sua fala discursada.

— Antes de tudo, venho manifestar minha tamanha gratidão. Primeiramente a mim, aos meus sonhos e minhas batalhas, ao meu laboratório e todas as ferramentas de última geração que foram utilizadas para que essa pesquisa desse certo e, é claro, não poderia deixar de agradecer a minha maior ajudante...

— Ah, minha nossa, Vênus, ele vai mencionar você! — Sam sorriu, dando um cutucão em minha costela. Meu estômago se revirando dentro de mim.

Ajeitei meu cabelo, aprumando os cachos e alinhando meu vestido, preparada para o que estava prestes a acontecer. Sabia que assim que ele citasse meu nome minha vida mudaria completamente.

Eu tinha nascido para aquilo, certamente. Mesmo assim, estava uma pilha de nervos.

— O grande amor da minha vida...

Aquilo estava mesmo acontecendo.

— Ele vai mencionar você! Isso é tão romântico... — ela soltou outro murmúrio extasiado.

Ele diria o meu nome e então a atenção de todos se voltaria a mim. Todas as centenas de câmeras que estavam direcionadas a ele, caminhariam até meu rosto corado e eu sorriria como havia ensaiado em frente ao espelho uma centena de vezes. Nem acreditava que aquilo estava prestes a acontecer.

— Ash...

O quê? Esse não é meu nome.

Nos entreolhamos boquiabertas, sem entender. Todos estavam vidrados no homem barbudo, de nariz pontiagudo, à nossa frente, que parecia emotivo. Ele não poderia estar falando sério.

— Ash? Quem diabos é Ash? — Sam questionou tão confusa quanto eu.

O câmera man, que até então se atentava a dar um belo zoom em George Loeb durante sua pausa emocionante, redirecionou sua máquina para outro local, em especial, a uma loira no meio da plateia, olhos verdes, corpo escultural e bem, uau, uma gigantesca comissão de frente.

Cacete, aquela era... — Ashley Bostian — Loeb retomou, emocionado. As luzes indo em direção a loira de seios avantajados e vestido tubinho. Ela sorria com seus dentes brancos, os cílios batendo incessantemente prestes a levantar voo. Completamente deslumbrante.

— Ashley Bostian? A aluna do quarto período? — minha amiga bravejou, enquanto eu, em minha mais pura decência, estava em estado de choque, totalmente paralisada com a cena em minha frente.

Ah, meu Deus. Eu me sentia uma completa fraude.

— É algum tipo de pegadinha? Me diz que vocês combinaram esse show de horrores, que ele vai sorrir e dizer que está brincando e que isso é somente uma piada de mau gosto — ela tagarelou em pleno desespero, então, vendo meu estado catatônico, chamou minha atenção, apertando meu braço, e me chacoalhou como um boneco. — Vênus, diz alguma coisa!

— Não. Não é uma brincadeira. — Engoli em seco, sentindo a voz se embargar no meio da frase insuportavelmente difícil de dizer.

Respirei fundo, trêmula. Estava em pânico. Vermelha, nervosa e em pleno surto.

Ele não faria aquilo comigo, não seria capaz de tamanha crueldade. Não é?

— Obrigado por ter acompanhado de perto todos os meus incessantes estudos para que isso desse certo. Você acreditou em mim desde o início, esse prêmio não seria nada sem você! — ele continuou, solene. Os espectadores vibrando enquanto uma grande taça era levada até suas mãos pálidas, os olhos do homem vidrados na loira que sorria alegremente no meio da multidão.

Sentia que faltava ar em meus pulmões. E, embora soubesse o que estava acontecendo, não fazia ideia de como ou por que acontecia. Ele me amava, tinha dito isso com todas as letras.

Como as coisas poderiam mudar tão rapidamente?

Antes que eu pudesse presenciar a pior cena de toda a minha vida, Samantha se lançou à minha frente me abraçando, tentando de alguma forma me proteger do que estava por vir.

Era como se formasse uma barreira contra o próprio inferno.

Aquilo era dolorosamente vergonhoso, mas é claro que, por mais inacreditável que viesse a parecer, não era o bastante.

O salão irrompeu em aplausos barulhentos enquanto sentia minha respiração acelerar cada vez mais. A única voz ruidosa, que ouvi por trás de toda a balbúrdia, foram palavras que jamais em toda a minha existência eu poderia esquecer.

— Estrela, você quer se casar comigo?

Meu coração nunca esteve mais pesado do que naquele instante. Contudo, ainda que estivesse confusa, tive certeza de duas coisas:

Uma: Eu era um fracasso.

Duas: As coisas mudariam após o primeiro dia de solstício de verão.

Verão de Vênus (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora