➺ 𝑷𝒓𝒊𝒎𝒆𝒊𝒓𝒐 𝒂𝒕𝒂𝒒𝒖𝒆

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Cacos de vidro estavam espalhados por todo lado, vestígios da enorme vidraçaria que continha o retrato de toda a família Simpson, agora não passavam de estilhaços. A luz brilhante da lua cheia irradiava o local, que agora parecia mais um campo de batalha.

Meu corpo não me respondia. A cena dos guardas circulando sem parar, lutando contra homens que vestiam uma máscara preta que nos permitia ver apenas os seus olhos, dava uma sensação tenebrosa. Quem queriam aqueles rostos?

Blake estava parado ao meu lado, me puxando pelo braço, gritando alguma coisa na qual não dei importância.

E ao avistar Derek no meio daquele tumulto, com todos os convidados sendo arrancados dali, com dois guardas armados puxando o rei em uma fração de segundos, eu senti medo.

Porque Derek não era do tipo que se sentia ameaçado por ninguém. E aquilo sim era assustador, porque eu tinha certeza de que ele sabia exatamente quem eram os homens de preto.

E foi por esse motivo que eu gritei, sem evitar:

— Pai! 

E mesmo em meio aos gritos, ele me ouviu, e seu olhar veio de encontro ao meu como num ato de desespero.

— Tirem ele daqui, AGORA! - Ele gritou, ainda com os olhos fitados aos meus.

E em menos de cinco segundos, três guardas me arrastaram junto a meu irmão, não me dando a chance de dizer uma palavra sequer.

Eles não estavam de bom humor, pelo modo bruto, porém respeitoso nos arrastaram até o final dos corredores. Eles apertaram uma pedra na parede e uma espécie de "passagem" foi aberta.

Como em 22 anos eu nunca soube que tinha uma passagem secreta?

Havia uma escada enorme, que descia em direção a um lugar complemente escuro e desconhecido.

Os guardas acenderam um lampião, e nos conduziram escada a baixo depressa.

— Por que você ficou parado chamando o nosso pai? Você poderia ter morrido Bradley! Bem no dia do seu aniversário! - Blake anuncia indignado ao meu lado.

— Não me surpreendo com mais nada que aconteça nesse dia. - Reviro os olhos.

De repente, avistamos um velho quadro de um dos nossos antepassados, coberta de teias de aranha e que pela baixa luminosidade do local a tornava assustadora. 

Eu e Blake gritamos no mesmo instante.

— Ok... Por essa você não esperava. — disse Blake com a mão em seu peito.

— É, você tem razão. - Suspiro. — Eu estou cansado de tantas surpresas em um dia só.

Blake sorriu meio sem graça, e logo em seguida os guardas que nos conduziam abriu outra porta e adentramos numa espécie de sala. E ali havias mais portas. 

— Com licença, altezas. - Um dos guardas fez uma breve reverencia antes de se referir a nós. — Creio que nunca houve a necessidade de usarmos essas passagem e suponho que não saibam exatamente para que sirvam. Mas com acontecimentos como esses, vocês terão refúgio e segurança aqui. Há quartos, enfermaria e suprimentos suficientes caso for preciso a permanência por mais de dois dias. 

— Terá espaço para todo mundo? Digo, me referindo aos que trabalham aqui. - Blake pergunta, me olhando de relance.

— Sim, não se preocupe. Existem passagens por todo castelo, desde a cozinha a todos os quartos, alteza. Caso precisem de algo, estaremos a disposição de vocês. 

Ele faz outra reverencia e nos deixa sozinhos.

— Quem diria que tudo isso iria acontecer... É pedir muito um pouquinho de paz agora, Blake? - Perguntei fazendo biquinho e caminhando até um dos acentos. 

— Acho que não, ainda é seu aniversário então você tem o direito de pedir o que quiser. 

Aos poucos a sala foi ficando cheia mas completamente silenciosa, ninguém ousava dizer uma única palavra. Uns optaram por entrar nos quartos e ter um pouco de privacidade, e eu estava prestes a fazer o mesmo mas mudei de ideia e me sentei ao lado de James.

— Err, oi James. - Chamei sua atenção.

— Olá Simpson. - Sorriu e logo fez careta. Uma enfermeira fazia curativo em seu rosto. 

— Está tudo bem com você e sua família, huh? 

— Tudo sob controle, cara. Obrigado. Apesar do cortezinho, está tudo bem. - Deu uma olhada ao redor e voltou a me encarar. — Não faço ideia porque isso tenha acontecido no seu aniversário, mas pode ter certeza que aí coisa tem, Brad. Eu não possuo conhecimento que deve ter, muito menos um cargo a nível do meu pai, mas saiba que deve estar preparado para o estiver a vir. 

— Esse é o problema, James. - Exclamei, cansado. — Desde pequeno fui criado para isso e cada dia que passa, está ficando tão... tão obvio, claro que eu vou assumir. Mas eu não confio o bastante em mim ao ponto de bater no peito e dizer: "eu vou ser o melhor rei que Ilyria já teve" mas de alguma forma ou outra eu preciso. 

— Você tá brincando comigo, só pode. - Ele riu. — Bradley, te criaram e te ensinaram para isso. Você é o escolhido...

— E se eu não conseguir ser bom o bastante, e-e se eu acabar fazendo uma má escolha e por tudo a perder!? 

Enterrei meu rosto entre as mãos e sinto a mão de James pousar sobre minhas costas em um ato de apoio e conforto. 

— Um rei não governa sozinho, ele tem apoio de todos. Até eu que tenho uma noção tão, mais tão prévia do que é uma reunião importante, se discute tudo que for preciso. Você não vai estar sozinho, você vai ter apoio de muita gente e principalmente da sua noiva.

— Acho que eu precisava ouvir isso. - Sorri de lado, suspirando. — Obrigado pelo apoio e quando eu puder nomear o meu mais próximo concelheiro, será você sem pensar duas vezes. - Pisquei um olho e o abraço logo em seguida. 

— Ah, não precisa, Simpson. - Ele bagunça meu cabelo. — É o mínimo que faço e já exerço essa função de concelheiro a muuito tempo, hein? Agora vá se deitar, você merece descansar um pouco. 

Me despeço de James e me certifico se todos ali estavam bem ou se precisavam de algo antes me retirar e tentar dormir um pouco, mas não seria tão difícil, pois o cansaço já dava grandes indícios depois de tanto ignora-lo. 

◈◈◈

Sonhava com misto de tudo que havia acontecido. Estava posicionado ao altar a espera da noiva, mas antes que ao menos pudesse vê-la entrar as vidraças da catedral se quebravam, gritos e mais gritos ecoavam pelo local, todos corriam menos eu. Via tudo que acontecia diante dos meus olhos mas não conseguia sair do lugar, era desesperador. Pessoas vestidas de preto entravam e saiam e meus pés continuavam colados ao chão. Um desses homens se aproxima de mim e olha bem dentro dos meus olhos e diz algo que entendi, mas que de alguma forma me marcou. 

— Alteza, bom dia. Me desculpe acorda-lo mas já pode voltar para o castelo. 

Desperto ainda com o sonho, que parecia mais um pesadelo, em mente e apenas concordo.

— Bom... dia. Ah, certo. Obrigado, Chloe. - Sorri com uma certa dificuldade e esfrego meus olhos.

Não era possível ter nenhuma noção de tempo estando ali, mas já deveria ser outro dia. Finalmente. 

— Ah, mais uma coisa. Seu pai pediu que avisasse que assim que terminar sua refeição, o fosse encontrar em seu escritório. - Ela sorriu, se reverenciou e saiu do quarto.

Ainda sonolento, pego o terno que havia jogado no canto da cama e logo trato de fazer o trajeto pelos tuneis de volta até o castelo. 

𝑇𝑖𝑚𝑒 𝑖𝑠 𝑛𝑜𝑡 𝑜𝑛 𝑦𝑜𝑢𝑟 𝑠𝑖𝑑𝑒 | hiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora