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Dixie

No meio da madrugada converso com Noah por chamada de vídeo, saiu do quarto quando sinto vontade de beber água e vou até a cozinha ainda na ligação. Abro a geladeira e riu de uma das histórias que o Noah conta sobre um dos meninos que jogava com ele no time de futebol durante o high school. A luz da geladeira dói minha vista e faz eu franzir o canto dos meus olhos. Escuto uma respiração ofegante e um soluço vindo da sala, é quando olho para o lado e vejo Addison no escuro, sentada no sofá cinza. Ela olha rápido para mim, parecia estar chorando e logo desvia o olhar na tentativa de eu não perceber o que está acontecendo.

- Eii, depois nos falamos. - Falo para Noah.

- Certo, beijos. - Ele sorri e depois faz um biquinho, eu rio e sinto minhas bochechas corarem. 

- Beijo! - Desligo a ligação e coloca o celular no bolso da minha calça moletom cinza. - O que faz acordada a essa hora? - Pergunto para a Addison.

- Não consigo dormir. - Ela diz e desbloqueia seu celular, talvez queira evitar eu perguntar o por quê dela estar chorando no escuro a essa hora da madrugada. Vejo ela disfarçadamente limpar a lágrimas, ela se levanta do sofá e senta em um dos bancos da ilha da cozinha. Encho um copo com água e aproxima para perto dela na bancada.

- Obrigada. - Ela curva o canto da boca em um sorriso fraco. Sento na bancada, bebo a água que coloquei no meu copo e ficamos em um silêncio profundo e em um clima estranho. - Então... você e o Beck? - Respiro profundamente. Ela tinha que falar de relacionamento? Era o único assunto que tinha? Esse é o nosso ponto fraco, foi o gatilho para todas as nossas brigas e eu não quero entrar nesse assunto.

- Nós nos aproximamos depois que eu e Griffin terminamos, ele me apoiou em uma fase que eu precisava de um ombro amigo e é isso que nós dois somos, apenas amigos. - Pulo da bancada e guardo a garrafa de água de volta na geladeira, apoio meus cotovelos na bancada e inclino minha coluna para frente. Agora posso ver seu rosto com mais clareza, seus olhos estão cheios de lágrimas mais uma vez e seu rosto não está sem nenhuma maquiagem. - Não precisa se preocupar, nosso relacionamento é falso, não só a amizade mas tudo isso de casalzinho é apenas mais um farsa e mais um trabalho para mim, e eu pretendo cumprir ele. - Dou a volta ao redor da ilha da cozinha e me aproximo em passos lentos da Addison, vejo uma lágrima derramar do seu rosto e uma das gotículas cair no chão. - Acho que isso não vai ser difícil para nós duas, - Coloco a mão no seu rosto e limpo suas lágrimas, sua pele é quente e ela fecha os olhos com meu toque, mais uma lágrima é derramada e meus olhos marejam. - até porque foi a falsidade que acabou com nossa amizade, não foi? - Deposito um beijo na sua bochecha e me afasto dela, olho para o lado e hesito quando vejo minha irmã de braços cruzados me encarando, ela franze o cenho e seu olhar é de reprovação. Minhas bochechas ficam vermelhas de vergonha por ela ter presenciado essas palavras saindo da minha boca. Me esbarro no seu ombro quando passo por ela e ando pelo corredor. Entro no meu quarto e fecho a porta, sento no chão e abraço minhas pernas contra o meu corpo, choro em silêncio como eu costumo fazer a muito tempo, não preciso que ninguém veja ou ouça a minha fraqueza.

Dói ter que conviver com ela, dói ter que ficar próximo a ela, ter que dividir o mesmo ar que ela e ter que fingir tudo isso. Alguns podem me dizer que o que acabei de fazer é errado, que estou pegando muito pesado com ela, mas... é melhor assim. Talvez nos poupe de uma dor maior quando tudo isso acabar.

*

Quando acordo vejo minha casa vazia, sem meu pai ou minha mãe em uma ligação importante, sem produção para gravar vídeo para o YouTube e sem a mimada da minha irmã gravando tiktok. A casa está em silêncio e isso me dá um alívio, isso é difícil de acontecer e quando acontece costuma ser o melhor dia da minha semana. Tomo meu banho na banheira e troco de roupa para ir para a Hype House, só aí lembro que a casa está muito vazia, tipo MUITO vazia. Era para a Addison estar aqui e ela não está, o que me faz pensar que ela deve ter ido embora depois que falei aquelas coisas a ela. Sinto uma dor no peito, mas balanço a cabeça em negação, tentando não pensar nela ou não sentir pena dela. Só que o fato dela estar chorando sozinha no escuro, faz meu coração doer e uma curiosidade surgir. Eu não conheço mais ela e ela não me conhece mais, três meses sem conviver muito uma com a outra é o suficiente para nos tornarmos pessoas diferentes, com novos problemas e novos... transtornos.

Love To Hate Me - DixisonOnde histórias criam vida. Descubra agora