dia quatro.

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Wondering if I dodged a bullet or just lost the love of my life

Meu estômago embrulhou e minhas pernas ficaram bambas, por um momento pensei que fosse desmaiar já que a dor de cabeça havia voltado de maneira excruciante. Me forcei a sair dali o mais silenciosamente possível, meus olhos não desgrudava da cena que se desenrolava a minha frente por mais que quisesse desviar minha atenção deles.

Agora entendia seu recuo e a maneira que Rafa parecia fugir de mim quando estávamos no quarto, de como ela desviou do meu beijo. Comecei a me sentir incapaz de pensar direito, tudo que rondava minha mente era a imagem dos dois abraçados, aquilo me fez tropeçar algumas vezes antes de chegar na sala.

O som de vibração me tirou do estado de dormência que me encontrava, era o meu celular vibrando em cima da mesinha de centro, o nome de Bruna estava na tela junto de sua foto, por mais que me sentisse mal, rejeitei a ligação, colocando o celular no bolso da calça de pijama que usava. Queria ir embora o mais rápido possível, o pijama que Rafa vestiu em mim deveria ser um impedimento, já que era grande demais para o meu corpo denunciando que era de seu uso.

Não me importei com minhas vestimentas, e aproveitei o momento de distração dos dois para sair do apartamento, meus olhos se encontravam direcionados para o celular procurando o aplicativo para pedir um carro. Bastou colocar meus pés no corredor para que meu corpo esbarrasse em outra pessoa, quase nos derrubando no chão, afastei-me pedindo mil desculpas até olhar para quem estava a minha frente e encontrar Dona Genilda.

"Manu!" a mais velha exclamou, parecendo surpresa em me encontrar, encolhi os ombros fechando a porta do apartamento e a puxando para o corredor. "Rafa me contou que você não estava bem, o que aconteceu?"

"Preciso ir pra casa." murmurei abraçando meu corpo, o tecido do pijama era fino demais para me proteger do frio. Dona Genilda me observou por alguns segundos, parecendo pensar no que fazer, até que segurou minha mão na dela e me guiou até o elevador.

"Esse é o pijama favorito da Rafa." ela disse soltando uma risadinha, já eu sorrir por ela ignorar qualquer coisa que poderia ter acontecido e só estar disposta a me ajudar. Quando o elevador chegou, ela me puxou gentilmente para dentro, me abraçando pelos ombros em seguida. "Sua irmã tá em casa? Não quero deixar você sozinha."

"Não preciso de babá." rebati de maneira ácida, mas logo me arrependi, não fazia sentindo descontar minhas frustrações em quem nem sabia da história completa. Dona Genilda não pareceu se abalar com meu tom, já que continuou com o braço sobre meu ombro, me abraçando carinhosamente. "Desculpa."

"Não tem problema, sei como é difícil depois que acorda." ela sorriu me puxando para fora do elevador ao chegarmos no estacionamento, por um momento fiquei confusa sobre o que ela poderia estar falando, até lembrar da minha bebedeira sem freios. "Ficarei com você caso ela não esteja em casa, mesmo não precisando de babá, não quero que fique sozinha."

Permaneci em silêncio, me sentindo mal de retribuir sua gentileza com uma fala grosseira, ela estava me tratando com todo o cuidado do mundo mas mesmo assim ainda conseguia ver um resquício de chateação em seu olhar, porém sabia que nada tinha a ver com minha fala. Dona Genilda era uma das minha maiores apoiadoras em relação ao alcoolismo, a mesma já tinha passado por uma situação parecia e me entendia como ninguém, mas era fácil notar como ela ficava mal quando eu bebia e jogava a contagem dos meus dias sóbrios para o ar.

Entramos em seu carro ainda em silêncio, não era de todo desconfortável, mas não ter nada para ocupar a mente começava a me fazer lembrar da cena que presenciei, de como as mãos de Rafa agarravam a blusa de Caon. A lembrança trouxe minha dor de cabeça de volta, quase como um aviso físico para parar de pensar naquilo, resmunguei ao teimar de pensar nos dois e constatar que só pioraria meu estado.

Cinco Dias [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora