Para minha mãe, que me apoia e se apegou aos personagens tanto quanto eu.
Tropeço pela terceira vez em um galho solto pelo chão, embolando meus pés nos tecidos do vestido, sentindo meu corpo balançar para frente e eu força-lo para trás. Consigo evitar uma queda, novamente. Mal sou capaz de levantar meus pés e dar passos firmes, quanto mais andar no passo apressado de Arin, que anda mais a frente, cortando galhos e folhas com sua espada para abrir caminho de forma graciosa. Eu deixei toda minha graça no Palácio.
Olho para trás por extinto e vislumbro apenas troncos de árvores altos e um lagarto que entorta a cabeça para mim, me desafiando a continuar a olha-lo. Ugh! Estamos andando por horas! Horas suficientes para estarmos bem afastados do Palácio e para os mosquitos começarem a devorar qualquer pedaço de pele livre em meu corpo, ou seja, meu pescoço e meu rosto. O vestido serviu para algo, afinal. Mas é ridículo! Tão ridículo que chega a ser cômico: atravessar uma floresta e passar dias caminhando com um vestido que pesa mais do que eu! Há! É claro que isso só aconteceria comigo!
O arco em minha mão começa a pesar novamente. Matei um homem. Matei um homem. Feri outro. De propósito. Arin tinha ordenado que eu não pensasse nisso quando comecei a hiperventilar minutos depois que entramos na Floresta, minutos depois que eu havia matado um homem. E eu estava me concentrando nos sapatos machucando meus pés, nos malditos mosquitos mordendo minha pele e em meus próprios passos, mas a quem quero enganar? Matei um homem. Sinto minha garganta se fechar, como se eu estivesse sendo enforcada e solto um gritinho agudo e esganiçado. É suficiente para Arin parar de andar e virar para trás. Droga.
Ele me pega com os olhos arregalados repletos de lágrimas e uma careta de choque e temor, beirando o desespero. Arin percebe o que está acontecendo e balança a cabeça devagar, negando, de um lado para o outro. É legal que ele esteja querendo que eu mantenha a calma e nem está fazendo piadas, mas não posso. Não posso encarar como algo normal. Não posso simplesmente fingir que eu não atirei uma flecha diretamente no peito de um homem, e depois no ombro do outro porque quis. Porque ele ia machucar Theo, pelos céus, ele ia mata-lo! Oh não.
Não sei o que aconteceu com minha família. Se mamãe está bem e segura ou se um dos malditos serasianos a pegou. Não sei se meu pai quis ser corajoso e pegou uma espada e foi a luta, mesmo estando anos longe de combate. Não faço a mínima ideia de onde Lucy estava no momento do ataque, se ela está bem, se foi ferida. Abandonei Theo! O homem que eu amo. Tudo por uma causa que só é minha a poucas semanas. O que eu fiz? O que eu fiz?
Solto o arco no chão. O barulho é oco, como uma caixinha de madeira caindo, e é abafado pelas folhas secas na terra. Levo minhas mãos a minha cabeça e começo a puxar os grampos do cabelo, com força, sentindo as lágrimas escorrerem por minhas bochechas. Hyacinth, Hyacinth, o que você fez?
— Princesa, vamos, respire... — Só quando escuto a voz de Arin reparo que estava segurando a respiração e solto o ar devagar, sentindo meus ombros pararem de tremer tanto.
Jogos os grampos dourados no chão. Arin desvia os olhos do meu rosto para o chão e não diz nada, apenas começa a cobrir os grampos com as folhas secas. Meu cabelo cai solto e me sinto, um pouquinho, aliviada. Mas ainda estou chorando, ainda tenho um nó na garganta.
— Matei um homem. — É como um soco no estômago dizer em voz alta. Torna real.
Arin levanta do chão segurando meu arco com a mão esquerda e a espada com a direita. Ele franze o cenho e estreita os olhos para mim.
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Espinhos negros
General FictionHyacinth fugiu do Palácio no dia do Casamento. Deixou para trás tudo que havia acreditado durante toda vida. Deixou seu coração. Deixou Hyacinth Ptolius naquele lugar. Agora ela era Helena Clarke, herdeira do Trono de Viridia, e iria lutar por ele...