Expresso de Hogwarts

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Quando chegou ao quarto da filha, Hermione encontrou a garota gargalhando ao lado do pai. Balançou a cabeça conformada e feliz. Somente Ron conseguia fazer Rose dar aquelas risadas tão espontâneas. Provavelmente ele estava contando, ao seu jeito, uma das muitas aventuras vividas em Hogwarts.

— Onda está aquela menina preocupada em não se atrasar para o embarque no Expresso de Hogwarts? –ela perguntou divertida.

— Que horas são, mãe? Vou perder o trem? – a garota entrou em pânico.

— Calma, ainda temos tempo. Seu irmão já levantou e está tomando café. Quando ele terminar, podemos sair sem pressa de casa – Hermione fez um sinal para o marido, que deixou o quarto por um instante.

Ron colocou o rosto no batente da porta e anunciou que tinha um presente para Rose. Quando ele entrou no cômodo trazendo a gaiola dourada com uma coruja cinzenta, Rose deu um grito de felicidade e correu até o pai.

— É uma fêmea? – perguntou e, quando o pai assentiu com a cabeça, prosseguiu: - Então vai se chamar Atena, a deusa da sabedoria.

— Que bom, filha, que Atena possa inspirar você a se dedicar muito ao estudo - a mãe não perderia aquela oportunidade de lembrar qual devia ser o principal objetivo de Rose em Hogwarts.

— Alto lá! Compramos essa coruja não foi para que ela vigie se Rose vai ou não estudar. Mas para ela nos mandar muitas cartas com notícias – Ron protestou.

Estavam todos prontos. Hugo, agora bem desperto, voltara a ter o bom humor característico. "Por que você não vai com a camisa do Chuddley Cannons? Esse uniforme é muito feio. Eu jamais usaria isso", o garoto implicou com a irmã.

O percurso da casa até a Estação King's Cross seria num automóvel. O casal Granger-Weasley considerava importante que os filhos adquirissem a cultura e os hábitos trouxas, por isso Ron tirara a carteira de motorista. Fez isso por Hermione, que não gostava de voar de vassoura. Mas os sogros também ficaram felizes, já que consideravam o carro um meio de transporte mais seguro para os netos.

Durante todo o trajeto, o pai e os filhos se divertiram muito, falando de quadribol e dos Chudley Cannons. Era impressionante ver como Ron havia doutrinado Rose e Hugo, que sabiam o nome de cada jogador do time. Hermione, que não gostava muito daqueles assuntos, também se impacientava com a distração do marido ao volante.

Com certa dificuldade, já que não era fácil para um bruxo abrir mão da magia, Ron conseguiu estacionar próximo à estação. Faltavam quarenta minutos para o trem partir, mas Rose achava que estavam atrasados e por isso caminhava apressada na frente, sendo acompanhada de perto por Hugo. Os pais andavam com calma, abraçados, conversando em voz baixa.

— Como você está, Amor? – Ron conhecia muito bem a esposa e sabia que ela se sentia triste e apreensiva. – Você sabe que Rose vai ficar bem, não sabe?

— Eu sei, Ron, mas é tão difícil... Ainda ontem ela era minha garotinha, que vivia me seguindo pela casa e tagarelando. Agora só poderemos acompanhá-la à distância. Preciso acreditar que tudo que ensinamos a ela vai ajudá-la a tomar as melhores decisões – Hermione não conseguiu evitar uma lágrima.

— E você duvida disso, Mione? Nossa filha sempre recebeu muito amor e é uma garota fantástica. Com certeza vai saber sempre se guiar por esses valores que já possui e fazer as escolhas certas – Ron abraçou Hermione com mais força e a beijou na testa.

— A casa vai ficar tão vazia sem ela. Agora não vou ter ninguém para me encher de perguntas sobre as aulas de Hogwarts e os mais diferentes tipos de feitiços e poções – Hermione falou enquanto secava uma lágrima.

— Não se preocupe que vou ocupar o seu tempo. Não vejo a hora do Hugo ir também para Hogwarts e assim ter você novamente todinha para mim – Ron virou o rosto da esposa e prendeu os lábios dela num beijo enérgico.

Não era a intenção de Ron parar no meio da estação, mas a esposa desacelerou os passos para se dedicar àquele beijo. Os 19 anos que os separavam do fim da Segunda Guerra Bruxa haviam feito a paixão dos dois aumentar ainda mais.

— Vocês vão ficar namorando? Não quero me atrasar! – Rose falou de um jeito autoritário, interrompendo o beijo dos pais.

— Sem problema, Rosinha. Vamos deixar para namorar quando voltarmos para casa – o pai respondeu, dando uma piscadela para a esposa. – Não sei de quem ela herdou esse jeito mandão.

— Também não sei – ela deu um meio sorriso. - Mas vamos nos apressar para Rose não ficar ainda mais nervosa.

Hermione envolveu a mão do marido e pediu que andassem mais rápido. Ela sorriu. Ainda tinha em sua boca o sabor do beijo apaixonado. Não sabia explicar por que, mas, sempre que estava ao lado de Ron, sentia-se feliz. Ele estava certo. Tudo ficaria bem. Haviam preparado a filha para aquele momento.

O ruivo tentava esconder suas apreensões com a partida da filha para não deixar Hermione ainda mais preocupada. Mas, ao olhar para a esposa, experimentou uma súbita alegria. Encontrara a mulher perfeita para ele. Sentia-se completamente realizado ao lado dela e sua maior missão, agora sabia, era fazê-la feliz. Rose e, logo depois, Hugo alcançariam todos os seus sonhos, tinha certeza. Hogwarts era apenas o começo. 


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 Ilustração: Marta

De Volta à Plataforma 9 ¾ - 19 anos depoisOnde histórias criam vida. Descubra agora