CAP 3

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Maria C.M. Ferri

Ele me encarou por longos segundos, me analisando e eu me perguntava o que estava se passando na cabeça dele naquele momento. Fui surpreendida quando ele me puxou para dentro e me apertou em um forte abraço como fazia quando eu era criança.

— Você está tão grande. — Ele disse olhando para mim e sorrindo, parece que ele gostou de me ver, vamos ver se vai gostar de saber que eu vim para morar e não para passar férias. -

— É, eu cresci. — Sorri sem jeito -

— Helena. — Ele disse surpreso e com um brilho nos olhos e eu arriscaria dizer até que um sorriso queria se formar em seu rosto. -

— Ricardo. — Minha mãe disse e sorriu de lado — Você parece bem. — Ela disse, parecendo desconfortável. Os dois pareciam desconfortáveis -

— Você está bela como sempre, melhor até. — Disse e sorriu, ele estava muito, muito nervoso — Vamos! — Ele disse chamando a minha mãe para dentro e pegando a mochila da minha mão. — Por que não avisou que viria? — Perguntou para mim ao fechar a porta e nós três caminhamos para dentro da casa e para minha surpresa muitas coisas estavam mudadas por dentro ou eu só não me lembrava. -

— Você está chateado? — Perguntei. -

— O quê? Claro que não, jamais ficaria chateado por ver minha preciosidade, é só que você poderia não ter me encontrado em casa, sabe como é o trabalho. — Disse e a essa altura estávamos na cozinha. -

— Entendi, mas você gostava de surpresas. — Disse tirando a mochila das minhas costas e colocando em uma cadeira ao meu lado e me sentando em outra, apoiando minhas mãos na mesa. Minha mãe me olhou feio, aposto que era por eu ter ocupado propositalmente a cadeira ao meu lado, fazendo com que se ela quisesse se sentar, teria que ser ao lado do meu pai. -

— Eu ainda gosto. — Disse sorrindo para mim e olhando rapidamente para minha mãe e indo até a geladeira. — Está com fome? — Perguntou e eu concordei com a cabeça -

— Sempre. — Dissemos juntos e rimos -

— E como foi a viagem? — Ele perguntou enquanto tirava uma pizza da geladeira e colocava num microondas razoavelmente grande. -

— Foi boa, não é mãe? — Perguntei e ela balançou a cabeça em afirmativo. -

— Vejo que você ainda come besteiras — Minha mãe disse pela primeira vez desde que entrou em casa e meu pai concordou sorrindo e tirando um refrigerante da geladeira e colocando na mesa, junto com dois copos de vidro vazios e um com suco natural de maracujá e ela sorriu para ele -

Meu pai era um homem com os seus 43 anos, alguns poucos fios brancos já eram bem visíveis no topo da sua cabeça onde a maioria eram fios pretos. Os fios brancos não eram sinal de velhice do meu caro Ricardo Ferri e sim de estresse por conta do trabalho e principalmente por trabalhar sozinho no banco, agora que o meu avô se aposentou. E mesmo assim ele não deixa de se meter nas decisões do meu pai, o meu avô age como se o meu pai fosse um incompetente, não capacitado para o trabalho, mas eu discordo. O meu pai é excelente em tudo que faz. Nunca entendi porquê ele sempre agiu assim com o meu pai, parece até que tem algum rancor ou ressentimento dele.

— E como vai a escola? — Ele perguntou tirando a pizza do microondas e colocando na mesa. -

— Na verdade parada, já que eu estou de férias. — Disse e ele voltou com pratos e talheres e se sentou na mesa eu servi nossos refrigerantes e um pedaço da pizza. -

— Você veio para passar as férias? — Ele perguntou e comeu um pedaço da pizza. -

— Essa era a idéia no começo, mas na verdade eu vim para morar. — Disse tranquila e ele quase se engasgou com o refrigerante, olhou para minha mãe e depois para mim — Você não gostou da idéia? — Perguntei insegura -

Aquela que eu nunca imagineiOnde histórias criam vida. Descubra agora