T W I N F L A M E S

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O vento batia no rosto de Safira enquanto ela observava Calum cantar uma música qualquer que tocava na rádio do carro, os guiando para o primeiro destino do dia. Ela podia perceber que ele estava nervoso por algum motivo, a forma como ele pressionava o volante em suas mãos e a falta de contato visual entre eles deixava isso claro, mas ela preferiu não pressioná-lo para dizer o que estava acontecendo.

A verdade é que Cohen estava gostando de passar o tempo com Calum na cidade, mais do que ela imaginou que gostaria. As coisas pareciam ter mudado bastante desde o ensino médio, Hood estava mais responsável, ela não podia negar isso, mesmo que sua personalidade não tenha mudado tanto e que ela pudesse lê-lo como seu livro favorito na biblioteca. Ela também gostava da forma como ele nunca havia mudado o jeito de tratá-la, como se ainda fossem dois adolescentes competindo pelo título de melhor aluno do colégio.

A única coisa que ela não tinha certeza era se seus sentimentos também haviam mudado como os dela e a verdade era que nem ao menos ele tinha certeza disso ainda. Calum havia passado a ter certos sonhos com Safira, de não se sentir confortável em começar a tomar seu café da manhã sem que ela estivesse presente e, principalmente, de esperar ansioso pelos finais de semana em que levaria-a para conhecer algum lugar novo.

— Hoje seremos só nós dois. — Calum quebrou o silêncio, estacionando. — Na verdade esse era um lugar que costumavámos vir quando estávamos nos formando.

— Percebi que reconhecia a estrada. — Cohen sorriu fraco, saindo do carro assim que ele estacionou. — A cachoeira.

— Exato, meu lugar favorito. — Ele saiu atrás dela, indo ao seu lado. — Pronta para a trilha?

— Já te disse que esportes não são meu forte, mas se insiste. — Brincou, andando na frente.

Caminharam cerca de dez minutos na pequena trilha que trazia tantas memórias de volta para a jovem, desde o seu primeiro beijo até mesmo as festas que faziam escondido de seus pais. Aquela cachoeira sempre foi o lugar favorito de todos os jovens da cidade, pelo menos antes do Country Club ser inaugurado, agora, como Hood costumava dizer, havia se tornado seu paraíso particular e o local onde sempre fugia quando precisava passar um tempo sozinho.

Assim que chegaram no local Safira soltou um suspiro aliviado, não havia mudado nada. A água continuava cristalina, as pedras com os nomes de seus amigos escritos pareciam ter parado no tempo e a única coisa que a fazia perceber os três anos que haviam se passado era o silêncio.

— Bem-vinda ao meu paraíso. — Hood sorriu. — E como esse deve ser seu último final de semana aqui antes de voltar, ainda vamos passar em um lugar antes de ir para a sua casa.

— Seria o seu favorito? — Ela sorriu se aproximando da água. — Lembro sobre você me dizer algo assim.

— Sim, em partes. — Ele deu de ombros. — Esse é o último lugar da lista, mas decidi colocar o mais especial para mim em último. — Calum tirou a camisa deixando-a junto com a mochila no chão. — Como em um show de mágica.

— Previsível, porém adorável. — Safira provocou. — Já vai entrar na água?

— Eu não vou sozinho.

O grito de Safira foi acompanhado por suas gargalhadas ao sentir Hood a colocar em suas costas, pulando no pequeno riacho. A água gelada a fez prender sua respiração, mas ela não demorou para se acostumar com a temperatura e começar uma guerra de água com o moreno que se divertia com a situação.

Era como se todos os problemas e angústias desaparecessem naquele momento, como se a água cristalina que caia em suas costas lavassem todas as coisas ruins que os atormentavam e levassem-as para longe. O mundo não existia lá for mais, eram apenas os dois, Calum e Safira, deixando com que qualquer intriga e diferença que haviam criado entre sí desaparecessem.

As horas pareceram ter se passado em segundos e logo a dupla já estava deitada às margens do riacho, olhando para os formatos das nuvens que surgiam no céu, Safira enrolada em sua toalha e Calum apenas deixando com que o sol secasse o resto de seu corpo.

— Sei que o dia não acabou, mas acho que você ganhou a aposta. — Safira disse, chamado a atenção de Calum. — Essa cidade realmente é um bom lugar.

— Melhor que Nova Iorque? — Se virou para ela, vendo-a rir.

— Eu teria que te mostrar Nova Iorque para tomarmos uma decisão juntos. — Sorriu fraco. — Você me ajudou bastante nessas semanas, cowboy, me fez até lembrar uma das histórias que a mamãe contava.

— Se quiser me contar, gosto de histórias. — Ele ajeitou o cabelo dela, que assentiu.

— Bem, minha mãe sempre acreditou que existem diversos tipos de conexões entre as pessoas. — Safira começou a falar, ainda sem tirar os olhos do céu. — A clássica história das almas gêmeas, duas pessoas que de alguma forma se completam como dois universos feitos para estarem juntos e, bem... — Suspirou. — Chamas gêmeas.

— Chamas gêmeas? — Calum levantou uma de suas sobrancelhas. — Nome engraçado.

— Sim, então... — Cohen continuou. — Chamas gêmeas muitas vezes são confundidas com almas gêmeas e, em alguns casos raros, podem acabar evoluindo para isso mesmo que sejam relações um tanto quanto complicadas de se manter. — Ela finalmente se virou para ele. — São pessoas que você entende como ninguém, que você consegue ler como seu livro favorito e que te ajudam a evoluir tanto espiritualmente quanto emocionalmente.

— Soa familiar. — Hood sorriu fraco, vendo-a assentir.

— Essas pessoas te ajudam a entender o que você realmente quer e precisa. — Ela segurou no rosto dele, acariciando sua bochecha. — O que pode fazer com que as coisas sejam um pouco... assustadoras.

Os dois não haviam percebido o quanto haviam se aproximado, só notando isso quando suas respirações se misturaram tornando-se uma só.

— Mas a questão é que eu não tenho medo. — Os olhos de Safira se desviaram para os lábios do rapaz. — Não quando eu estou com você.

Calum não pensou duas vezes antes de juntar sua boca na da jovem, que fechou os olhos retribuindo o tão esperado beijo. As mãos quentes e fortes do moreno desceram para sua cintura, puxando-a para seu colo e fazendo com que seus corpos ficassem ainda mais próximos. Se sentiam como se milhares de borboletas brincassem em seus estômagos, tendo todos sete sentidos ainda mais aguçados na tentativa de recordar aquele momento que lhes proporcionou tanta euforia.

A intensidade do beijo foi capaz de tirar o fôlego dos dois, que só conseguiram se afastar quando ouviram o barulho de um trovão a distância. Se encararam por alguns segundos, tentando compreender o que havia acabado de acontecer, mas sabiam que no fundo era melhor não entender.

— Bem... Temos um último lugar para ir, não é, cowboy?

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