Lua de Sangue

Capítulo 1

Aquele que tem medo do desconhecido está destinado a viver no sofrimento do que lhe é familiar...

Essa era uma frase bastante utilizada por minha mãe. Ela passou a proferir essas palavras quando eu escutei, pela primeira vez, comentários onde falavam que eu era uma criança fraca e não conseguiria seguir minha vida sem a ajuda de alguém realmente capaz. Quando se é criança você acredita em tudo que ouve, e ouvir tais palavras com apenas 6 anos me proporcionou um medo inexplicável do desconhecido. Pensar em fazer algo novo sozinha me dava calafrios, e até hoje dá. Porém, naquela época essa sensação não era tão presente pois minha mãe sempre estava ao meu lado para me encorajar.
Queria poder dizer o mesmo agora, mas infelizmente o destino não foi generoso com a minha mãe...

- Já está acordada? - me assusto com uma voz aguda dentro do cômodo. Estava tão perdida em pensamentos que não notei a presença de Sahni no quarto. - você acabou de completar dezoito e já está tão responsável que não precisa mais da ajuda de sua amidrinha pra te acordar. - Sahni se afasta da porta e segui em minha direção.

Falho ao tentar segurar o sorriso.

- Feliz aniversário!!! - a morena encostou sua pele gelada em minha bochecha, oferecendo-me um abraço.

As fadas são pequenas mas podem mudar de tamanho a hora que desejarem. Existe fadas de todos os tipos, fada da terra, do sol, do fogo, das flores, comuns, etc. Sahni é um exemplo de fada do Gelo.
A minoria nascem destinadas a acompanhar raposas com sangue real, chamamos de fadas madrinhas. No caso de Sahni ela é minha amidrinha, amiga e madrinha, é uma coisa nossa. O líder e a fada que são conectados nascem com uma marca única que aparece somente quando chega o momento de liderar. Entretanto, minha marca apareceu quando eu tinha apenas oito anos, logo após a morte da minha progenitora.
Sahni apareceu no dia do enterro procurando alguém que ela nem conhecia, mas sentia que essa pessoa lhe chamava e precisava de ajuda. No meio de algumas pessoas ela encontrou uma menininha aterrorizada e chorona e soube no exato momento que era aquela raposa que clamava por ela.
Desde então nos tornamos amigas e logo descobrimos que éramos destinadas a essa amizade por uma marca que carregamos no antebraço direito.

Por estar em sua forma original ela acabou abraçando meu rosto com sua pele um pouco gelada.

- Sai filhote de gelo. - falei enquanto a puxava com cuidado para longe do meu rosto.

- Gelo não tem filhote - falou cruzando os braços enquanto se afastava de mim.

- Agora tem. - Estendi a mão para ela subir e a trouxe pra perto . - O que temos para hoje mesmo? - bocejei na última palavra, consequência por não dormir direito.

- Sua festa de aniversário e a cerimônia da chave - Ela saiu da palma da minha mão e começou a voar pelo meu quarto. - Ah - Ela parou de repente e se voltou a mim - Hoje também teremos a esperada lua de sangue.

- Porque eu tenho que passar por isso? - questionei a fada enquanto me dirigia ao banheiro - Vou tomar um banho, me espera aqui.

- Pense por outro lado, a lua sangrenta vai estar presente para impedir que algum vampiro despenque em cima de você e consuma seu sangue e seus poderes - disse enquanto ignorava meus questionamentos.

-Pois avise aos vampiros que eles vão se arrepender porque a única coisa que vão conseguir beber vai ser um quilo de areia. - Fechei a porta atrás de mim.

Por ser uma raposa do deserto eu sempre imaginei que meu corpo fosse composto por sacos de areia e não por poderes.

- Engraçadinha!! - ela gritou para que eu conseguisse ouvir.

A lua sangrenta é uma das melhores fases para os seres sobrenaturais.
Para os humanos, a lua de sangue é apenas um fenômeno que ocorre com a junção harmônica do Sol, Terra e Lua. Entretanto, para seres não mundanos, essa fase lunar simboliza o dia em que a deusa do sol: Amaterasu, se encontra com seu irmão, o deus da lua: Tsukuyomi, depois de anos de guerras.
Para comemorar esse encontro eles estabeleceram uma regra: enquanto a lua estiver vermelha, nenhum sobrenatural poderá machucar um ao outro.
Mesmo que uma espécie seja inimiga de outra, nenhuma das duas poderá se machucar nesse dia.