Capítulo 8 - Não Mais Tão Garota

67 10 0
                                    


15 de fevereiro de 2012


Querida Quinn,

Devo dizer que estou me sentindo completamente envergonhada ao lhe escrever isto. Meu Deus. Quero dizer, nesse pouco tempo que estivemos nos comunicando, eu tenho dito muito de mim para você. Talvez até mais do que você imaginou que receberia quando se inscreveu para esse programa. E, honestamente, eu também acabei dividindo mais do que pensei que fosse compartilhar. O resultado disso é que você sabe muitas coisas sobre minha situação escolar, conhece alguns traços de minha personalidade, e está até mesmo ciente de como funciona, mais ou menos, minhas relações familiares complicadas. No meio de tudo isso — e de cartas enviadas quando eu não estava no completo domínio de minhas faculdades mentais —, eu acabei esquecendo de mencionar.

Eu não tenho mais dezesseis anos.

Desculpe, desculpe, sei que deveria ter dito alguma coisa antes. Acho que estava envolvida demais com a loucura acontecendo ao meu redor, e acabei negligenciando esse pequeno pedaço de mim mesma, sem lhe dar a devida importância. Erro meu. Meus pais me dizem todos os anos que crescer é uma dádiva. Cada dia que vivemos é um presente, e nós falhamos a partir do momento em que nos esquecemos disso. Esquecemos o quão preciosa é a vida. Esquecemos o quão rápido ela pode terminar. Eles estão certos, é claro. Acredito que eu tenha falhado, então, porque acabei esquecendo. Então, permita-me lembrar.

Eu, Rachel Barbra Berry, tenho oficialmente dezessete anos de idade. Não que isso seja muito diferente de ter dezesseis. A aparência continua a mesma — os mesmos cabelos e olhos castanhos, a mesma pele morena, a mesma falta de altura (risos). As maiores mudanças acontecem sempre onde não se podem ser percebidas: dentro de nós mesmos. E às vezes elas são tão profunda que nós sequer as notamos. Não até que elas se tornem evidentes. Não tenho certeza se minha personalidade mudou; acredito que, nesse aspecto, eu continue a mesma. Entretanto, alguma coisa está diferente. Meu modo de ver o mundo, talvez. Ou o modo que o mundo me vê. À medida que vamos crescendo, as expectativas começam a pesar sobre nossos ombros. Nossos pais esperam algo de nós. A sociedade espera algo de nós. Nós esperamos algo de nós mesmos. É quando começamos a trilhar nosso caminho para a vida adulta, iniciando uma nova jornada de auto-descoberta e superação. Uma jornada que pode começar a definir nosso futuro.

Em parte, eu gosto de estar crescendo. Saber que os anos estão passando, que estou me tornando mais madura, que as feridas do passado estão começando a cicatrizar, cedendo espaço a novas. É como viver uma aventura. Onde vai terminar?, eu não tenho ideia. Mas o final não é o mais importante. O que realmente importa é o que fazemos enquanto trilhamos nosso caminho.

E justamente pelos caminhos sempre serem difíceis e complicados, eu fico feliz em saber que eu faço alguma diferença na sua vida, também. Que eu faço com que você se sinta escutada. Você tem absoluta razão quando diz que não há nada pior que ver alguém sofrer, e não poder fazer nada a respeito. Imagino como meus pais devem ter se sentido todos esses anos, incapazes de me proteger de tudo pelo que passo. Espero nunca vivenciar essa situação. Espero que meus filhos não precisem enfrentar tanto preconceito quanto eu enfrento. Espero que eles encontrem um mundo melhor. Mas, se não houver melhoras, então espero que eles encontrem alguém. Alguém que os guie; alguém que esteja lá por eles; alguém que faça o que eu não poderei fazer. Alguém que seja tão egoísta quanto você se diz ser. Alguém egoísta que possa escutar seus problemas. Alguém egoísta que os aconselhe. Alguém egoísta que esteja lá.

De qualquer forma, espero que você possa me perdoar pelo meu lapso de memória. Não foi intencional, prometo. E já que estamos falando de aniversário, quando é o seu? Quando a jovem senhorita Fabray vai acrescentar mais um número em sua conta etária? Espero um convite para a sua festa de aniversário! (risos). Não é porque você está há milhas de distância que isso signifique que não possa mandar um cartão escrito "Meus parabéns". Eu sei, é tão pessoal e tocante que vai fazer você se desfazer em lágrimas. Mas, por favor, tente se manter inteira. Pelo menos até o fim do cartão. Será que existe alguma forma de eu trocar aquelas musiquinhas bestas por mim mesma cantando? Hum... Acho que vou investigar se é possível. Aí você poderia constatar com os seus próprios ouvidos o quão incrível eu sou. E eu sou, mesmo. É a única coisa que todos parecem concordar sobre mim: as pessoas me acham chata, irritante, egoísta; só que, apesar disso, todas elas sabem que sou talentosa.

Cartas Para Quinn (Faberry)Onde histórias criam vida. Descubra agora