Capítulo Quarenta e Dois

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Lalisa Manoban

Respirei fundo e ajudei Tzuyu levantar. Ela estava assustada e havia ralado os cotovelos quando caiu no chão. Eu tive uma alucinação, ou realmente era Jen?

— V-você anotou a placa do carro L-Lali? - Ela estava trêmula e se apoiou em mim para manter o equilíbrio do corpo.

Eu sei muito bem a placa do carro. Perfeitamente bem.

— Não. Eu não consegui ver quem era, muito menos a placa. Mas parecia ser um homem, eu acho. — Sentia um nó na minha garganta por estar mentindo sobre algo sério. Mas, até eu entender oque levou Kim, a fazer isso, não irei entregá-la. — Vamos ao hospital, pode ter acontecido alguma fratura ou algo assim.

Tzuyu apenas concordou e esperou que eu chamasse algum carro para nos levar. Algumas pessoas viram o que aconteceu, e se disponibilizaram a nos dar uma carona. Me sinto irresponsável, por fazer Tzuyu pagar por essa briguinha.

Kim realmente ficou maluca, tentar atropelar uma pessoa inocente?

Isso não ficará assim.

Um senhor, na casa dos 60,nos levou até o hospital mais próximo. Ele disse que reconheceu a mulher de alguma revista, e eu tentei distorcer suas memórias diversas vezes. Kim tinha um rosto famoso, obviamente ele não foi o único a reconhecê-la, por enquanto, posso tentar fazer algo, mas não posso apagar a memória de tantas pessoas assim. Tiveram várias testemunhas. A placa do carro já deve até ter sido anotada.

— Está doendo em outros lugares? — Analisei Tzuyu enquanto esperávamos o médico.

Hospitais eram brancos demais. Muito brancos. As paredes eram brancas, os chãos, o teto, até os objetos, e quando não era branco, era cinza.

Quanta babaquice.

Deviam mudar as paredes para um tom mais escuro.

Admito, que depois desse tempo morando com a Jen, eu passei a apreciar as cores escuras. São tão belíssimas e cheias de mistério. E cores escuras, me lembram dela. Mesmo, eu tendo motivos infinitos, para esquecer tudo que aconteceu.

— E-EU SEI AONDE É TA BOM! NÃO PRECISA ME EMPURRAR! — Uma mulher chegou sendo segurada por dois policiais, não levantei a cabeça para prestar atenção. Eu nem ao menos queria saber. Não é da minha conta. Mas... algo me fez achar sua voz familiar. Ela parecia embriagada, falando embolado e andando cambaleando no salto. — Eu... eu... vocês sabem? Sabem quem eu sou? Vocês não devem me encostar a mão eu não quero a mão!

— Chou Tzu-yu!? Por aqui por favor. — Ajudei-a levantar e entramos no consultório. — O que aconteceu, Tzuyu?

— Eu fui atropelada.

A expressão no rosto do médico, por algum motivo, me fez acreditar que ele me achou a culpada pelo que aconteceu, e de certa forma, eu era.

— Atropelada? Não foi empurrada? — Ele parecia ter menos do que 30 anos. O consultório dele parecia uma ala da pediatria. Cheia de bichinhos de crianças e adesivos infantis.

— Não senhor, eu... eu fui atropelada, Lisa me ajudou. — Ela pegou uma de minhas mão e sorriu a apertando.

Eu entendo o que se passa na cabeça desse médico, mas pelo amor, a alguns meses atrás eu nem conseguia segurar na mão de uma mulher corretamente, quem dirá agredir uma. Isso é totalmente contra tudo que eu defendo e eu não consigo imaginar, algum dia, que eu serei capaz de algo próximo a isso.

— Tudo bem, querida, deixe me ver seu braço. Você pode ficar lá fora Lisa, certo?

— Ela não pode ficar?

— A senhorita já é maior de idade, só poderia estar acompanhada se estivesse desacordada.

Concordei com a cabeça e me despedi de Tzuyu.

— Vou ficar lá fora. Assim que acabar, estarei lá.

Saí do consultório e caminhei até o final do corredor. Havia uma máquina de salgadinhos e refrigerantes. Era exatamente o que eu precisava agora.

— EU NÃO QUEROOOOO! EU NÃO PRECISO DE SORO! EU QUERO IR EMBORAAAAAAAAA EU PRECISO IR EMBORAAAAAAA - A porta fechada ao lado da máquina, me deixou curiosa. Parecia ser a mesma mulher bêbada que chegou mais cedo, consegui reconhecer a voz. Ela realmente está muito bêbada, para quererem fazê-la tomar soro.

Pobre moça. O que a levou a beber tanto assim?

— Eu preciso que minha mãe me perdoe, por favor. Por favor! Eu preciso da minha mãe!

Tentei não prestar mais minha atenção em problemas que não são meus. E foquei na máquina de salgadinhos. Peguei um apimentado e uma lata de coca. Tzuyu não poderia comer agora, provavelmente, então não peguei nada para dar a ela.

— Doutor... por favor... eu só quero minha mãe... eu não bebi muito... eu posso ir embora... — Sua voz continuava embolada, contudo, parecia cada vez mais distante e inaudível.

Por que não estou conseguindo desviar minha atenção? Eu nem ao menos conheço essa mulher. É apenas, uma alma coitada.

— Ela foi embora acredita? Ela... ela foi embora...

Tentei desviar minha atenção da direção da porta quando ela foi aberta. Mas quando ela foi aberta, aí sim,que meus olhos de prenderam nela.

Kim estava deitada na maca, desacordada. Ela era a bêbada? Era ela quem estava fazendo todo esse escândalo esse tempo todo?

— Com licença, senhor, qual o nome da mulher ali? — O médico fechou a porta com pressa e ignorou minha pergunta passando por mim rapidamente.

Só podia ser uma alucinação. Kim estava em casa. Estava bem. Estava em casa.

Não se engane Lalisa, não tente se enganar.

Esperei alguns minutos, até estar totalmente livre no corredor e entrei na sala com pressa. Suspirei pesado quando minha dúvida foi cessada.

— O que aconteceu? — Disse para mim mesmo enquanto me aproximava da mulher. Seu rosto estava borrado com a maquiagem, o rímel, escorrido nas bochechas, com tonalidades vermelhas, o batom vinho borrado no canto da boca, a sombra escura espelhada abaixo dos olhos, e seus cabelos... seus belos cabelos estavam desarrumados.

Me aproximei o bastante para pegar sua mão e notar o arranhão em seu braço, ela devia ter caído... não, ela... ela não caiu... no seu outro braço, estava a marca profunda de dedos, já havia uma cor roxa, ao redor dos dedos.

Minha garganta arranhou e eu senti meu sangue ferver quando notei seu pescoço. Eram as mesmas marcas de dedos, também profundas.

Precisei me afastar e soquei a porta com força. Machucaram ela. Encostaram as mãos imundas nela.

Quem quer que tenha sido, eu vou descobrir. E vão ser as marcas do meu punho, que ficaram marcadas nele.

Será que o Kai bateu na Jennie?

Seu voto e comentário são importantes para o andamento da fic.

Yes, Mommy | JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora