SIGNIFICADO

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A vastidão do universo me fascina, quanto mais aprendo sobre o cosmos, mais curioso me torno, tudo que existe e pode existir nesta vasta imensidão com dimensões incompreensíveis é espetacular. No entanto, a curiosidade me leva a angústia causada pela incapacidade de conhecer tudo, de ver tudo, de saber sobre tudo. A consciência maltrata e me faz sofrer imensuravelmente, minha solitária consciência tão abundante em todos da minha espécie, ao meu ver, é a fonte de todo sofrimento humano.
Reconhecer a si mesmo como um indivíduo único e a capacidade de reconhecer a relação entre si e o ambiente são atributos da consciência, mas ela vai muito além disso, chegamos então ao reconhecimento da inevitabilidade da morte, somos a única espécie capaz disso, e isso é desolador. Reconhecer que todos morrerão em algum ponto assim como você também morrerá é uma idéia assustadora, podemos até não pensar nisso atualmente por que estamos muito ocupados vivendo de maneira consumista, mas essa é uma questão universalmente abrangível. Imagino o quão assustador deve ter sido para os primeiro humanos a reconhecerem a inevitabilidade da morte, ver seus familiares morrerem e saber que os outros também irão assim como você, deve ser apavorante, ainda mais se você não é capaz o suficiente de racionalizar sobre aquilo ou não tem conhecimento suficiente para compreender o que é a morte até mesmo do ponto de vista biológico. Acredito que o reconhecimento da inevitabilidade da morte tenha surgido dentro de 110 à 80 mil anos atrás, pouco antes do início da significação humana e do pensamento abstrato, infelizmente com os recursos que conhecemos atualmente é impossível conseguir com grande certeza esse tipo de resposta, talvez nunca saibamos. Me voltando para o que suponho, penso que o reconhecimento da inevitabilidade da morte tenha nos levado à querer significar nossas vidas, dar sentido e importância a morte, agregar um sentido que nos conforte da cruel realidade desoladora. Esse tipo de pensamento é ficcional, apenas a tentativa de encontrar conforto nessas situações. A morte é inevitável, e a maior parte de nós morre sem significância, isso é triste, mas é apenas a realidade da vida.
Existem evidências que indicam que o pensamento abstrato e a significação tenham surgido dentro de 100 à 50 mil anos atrás, chamo este período de "Fim do sentido biológico da vida", adquirimos o pensamento abstrato e agora não éramos mais capazes de viver com o pensamento concreto de antes, agora precisávamos de sentido, de explicações que nos confortassem diante do pavor da morte. Pinturas rupestres não tem objetivo concreto, nem ajudam na sobrevivência de uma espécie, a arte é inútil para o sentido biológico da vida, mas com o pensamento abstrato tudo muda, existe a necessidade de se relevar, de ser significante e marcar sua existência. Esses fatores psicológicos resultantes da consciência com certeza foram forte influência para o surgimento de idéias metafísicas, idéias irrealistas e também religiões. Somos animais sociais conscientes dotados de uma inteligência única em nosso planeta, mas ainda sim, fomos capazes de nos tornar irracionais, motivados pelo desejo de uma solução de outro mundo, e pelo medo. A Realidade é cruel, a insignificância e a inexistência em escala cósmica são apavorantes, então, por que ainda vivemos? Será que ainda guardamos em nós o pensamento concreto e seguimos o sentido biológico da vida enquanto buscamos o sentido abstrato? Será que o sentido biológico da vida é mesmo o real sentido?
A reprodução apenas leva a cada vez mais gerações de uma espécie, aumenta o número de seres da mesma, e durando mais tempo, mais uma espécie pode evoluir ao longo de milhões de anos. Mas não há sentido nisso, não há o reconhecimento desse objetivo de evoluir.
A evolução é o processo de transformação em um animal que ocorre em longos períodos de tempo, não ocorrendo em apenas uma geração, é um processo lento. Essa evolução tem como objetivo levar a melhor adaptação para facilitar a sobrevivência.
Reproduzir para evoluir, evoluir para sobreviver, e sobreviver para o quê?
Sobreviver é difícil, existem diversos atritos na sobrevivência animal como predadores, fome, doenças, alterações climáticas e ambientais, então, por que sobreviver? Para sofrer?
Animais inconscientes claramente não tem necessidade de um sentido para a vida, apenas vivem. Mas nós, primatas pelados conscientes precisamos de sentido, e reconhecendo isso, por que continuar vivendo? Entra em questão o amor, e as mentiras confortáveis.
A necessidade de significado nos leva a criar mentiras confortáveis, e por precisarmos tanto delas para continuarmos vivendo, nos tornamos até mesmo ignorantes da verdade, tudo afim de uma vida mais significante e confortante. E aos que não precisam de mentiras confortáveis, existe o incompreensível amor, algo que talvez tenha surgido em nós através da evolução, com o propósito de facilitar a vida social, afinal, somos animais sociais. A química do amor é viciante, e nos atinge mesmo fora de uma paixão ou até estando isolados, não precisamos estar próximos de alguém para amar à alguém ou algo. O amor é uma reação química cerebral que ocorre afim de estimular a reprodução de um par. Já o amor familiar ou para com outro próximo facilita o convívio social e até mesmo o desenvolvimento da própria sociedade, através do amor existe a empatia e o afeto, não querer que alguém sofra nos mantém vivos, evoluímos para sermos sociais, estarmos em constante contato com os outros,. E para os que não precisam de mentiras confortáveis e não têm amor, resta apenas o reconhecimento da sua insignificância diante do universo, a crueldade da realidade.

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⏰ Última atualização: Nov 14, 2020 ⏰

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SIGNIFICAÇÃO: Sentido da vida, mentiras confortáveis e amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora