Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo.Tempo perdido | Legião Urbana
— O senhor poderia me apresentar a cidade? Ou pelo menos, me explicar a história das pessoas que moravam na casa? Se você puder, é claro! — Eu perguntei ao senhor que esteva em minha frente, e ele olhou para o trabalho atrás dele.
— Agora eu não posso. Mas tem um rapaz que trabalha pra mim que pode, vou chamar ele. — O senhor a minha frente entrou em uma mecânica, e gritou para o moço que havia comentado. — A senhora me parece confusa, quer alguma coisa?
— Não, eu só preciso assimilar o que está acontecendo, mas muito obrigada pela ajuda! — Assim que terminei de falar, o senhor se virou para trás ao ouvir chamarem por ele.
— Sr. Francisco, precisa da minha ajuda? — Um jovem alto e de beleza exuberante cruzou a porta do local em que estava. Veio em nossa direção, e parou em minha frente.
— Caio, preciso que você leve essa mocinha para conhecer Salvador. Depois ela conta a história doida que aconteceu. — Sr. Francisco sorriu, se lembrando do que eu havia lhe contado.
De fato, é uma história maluca, mas eu posso estar tendo um sonho lúcido. Não posso?
— Tá barril lá dentro, viu. Dona Joana saiu gritando e deixou o comida no fogão, agora tá só o carvão e ela tá quase jogando nos meninos. — A voz dele me tirou dos meus devaneios. O homem que agora descobri se chamar Caio, conversou com Sr. Francisco, que acabou estendendo a conversa, e convencendo ele a me acompanhar.
— Bora, menino. Se pique daqui vai. Leva a menina pra conhecer a cidade. — Ele empurrou o moço que agora, estava ao meu lado, e fomos andando para um lugar que não era do meu conhecimento.
— Bom, bem-vinda à São Salvador da Bahia de Todos os Santos. — Franzi o cenho, sem entender o porquê ele se referiu a antiga Capital do país desta forma.
— Por que esse nome? — Olhei para ele, que sorria admirando a vista, com orgulho do estado em que mora.
— A história é longa demais, e um dia eu te conto. Mas eu quero saber, o que aconteceu que você veio parar aqui? — Caio, que antes olhava para a vista bela da cidade, se virou para mim, esperando que eu lhe contasse a história maluca na qual o senhor de idade havia contado.
— Eu não sei, é complicado, e temo que, se te contar, você fugiria, e eu estaria perdida nesta imensidão incrível que é Salvador. — Sorri sem graça, e realmente com medo do que ele pensaria sobre mim.
— Eu acredito que já ouvi maluquisses demais para me assustar com a sua. — O homem de cabelos negros me tranquilizou, e resolvi me abrir com ele.
— Ok. Eu moro em São Paulo, e o ano é dois mil e vinte. De fato, não sei como vim parar aqui, apenas acordei em um lugar diferente, dentro de uma casa que eu nunca vi na vida. Agora estou aqui, sem saber o que fazer, e perdida neste paradoxo.
— Você tem certeza de que é isso mesmo? A dona daquela casa foi embora há muito tempo, porquê você acordaria justo alí? — Ele não questionou eu ter vindo parar em Salvador, mas sim a casa de uma dona misteriosa.
— Aí moço, não faz pergunta difícil. Eu nem sei nem como eu vim parar em Salvador, quem dirá porquê acordei em uma casa daquelas. — Dei de ombros, e continuamos nossa caminhada. — Realmente não sei o que pensar, mas posso estar em um sonho lúcido, não acha?
— De verdade? Pode ser, mas não tem como saber. É muita coisa pra associar, você quer uma água? Alguma coisa pra ver se você fica melhor, e tenta pensar em alguma coisa.
— Eu aceito. Onde vamos?
— No Farol da Barra, é logo alí na frente. — Ao olhar para frente, avistei um farol alto e magnífico. Quando mais nós andavamos, mais incrível ele ficava.
Mais a frente, tinha a praia do Farol. Caio foi me explicando sobre Salvador, e suas belas praias. Como as coisas funcionavam por alí, e cada vez mais, eu ficava encantada com o lugar.
— Salvador superou as minhas expectativas, eu não acredito que é mais lindo do que pelas fotos. Eu achei que isso fosse impossível. — Ele sorriu, e se virou para que fossemos em direção à uma vendinha, para comprarmos uma água.
— Posso te fazer algumas perguntas sobre esse ano? — Eu perguntei para ele, e o mesmo acenou com a cabeça, como se falasse sim.
— Pode pergunta o que quiser, mas só se eu puder perguntar sobre o seu também. — Eu sorri, e concordei da mesma forma que ele havia feito.
— Feito, Senhor Caio. — Ele sorriu pela forma como o chamei, e comecei a tirar algumas dúvidas. — Se a ditadura acabou em 1985, e estamos em 1986, foi bem complicado para vocês se reerguerem, não? Perdão, eu sou amante da história, e queria muito saber sobre algumas coisas que o governo ocultou. — Ele sorriu, e concordou em me contar sobre cada coisa que ocorreu naqueles anos que sucederam todo o nosso passado histórico.
Conversamos sobre a politica da época, já que o movimento Diretas Já havia acabado pouco antes do fim da ditadura militar.
Falamos pouco sobre o governo, e logo nossa conversa se estendeu.
Conversamos sobre as músicas, e todos os cantores que estavam na parede do quarto misterioso que acordei pela manhã. Cantamos legião urbana, e entremos no lindo e imenso mar de Salvador. Que ficava mais radiante a cada passo que dávamos.
Por fim, o dia foi se estendendo, e quando fomos perceber, já era de noite quando voltamos para os devidos locais que deveríamos estar.
A tarde foi tão boa, que eu não queria que tivesse fim. O Caio é uma pessoa com alma pura, e é o que nos falta no ano em que vivo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Impávidos
NouvellesAna Maria. Uma jovem de vinte anos, se vê perdida em uma linha do tempo. Em meio à um paradoxo temporal, ela atrai aquilo que nunca encontrou no ano em que vive; o amor verdadeiro em outro alguém. Todos os direitos reservados. Copyright © | 2020, au...