Não diga que me ama

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Go ahead and break my heart again
Leave me wonderin' why the hell I ever let you in
Are you the definition of insanity?
Or am I?
Or am I?
It must be nice
To love someone who lets you break them twice

- Finneas

  Miranda

Um ano, nove meses e quinze dias se passaram desde que eu e Andrea assinamos os papéis do divórcio. Honestamente, eu pensei que, com o passar dos meses, me acostumaria, que seria mais fácil, porém nunca imaginei que poderia estar tão enganada. Sim, nós estávamos separadas antes disso, mas, de alguma forma, meu íntimo tinha esperança de que aquilo era apenas um pesadelo terrível e que logo eu acordaria e tudo estaria bem, Andrea ainda estaria dormindo no lado esquerdo da nossa cama e seus beijos me acalentariam até que meu coração se acalmasse do susto. No entanto, assinar aqueles papéis era o que faltava para que a ficha, finalmente, caísse e eu me desse conta de que não era um sonho ruim e sim a mais dura realidade.

  Estar sozinha nunca foi um problema para mim, poderia até considerar que gostava de estar apenas na minha própria companhia, embora devesse admitir que quinze anos convivendo com as gêmeas e seis anos ao lado de Andrea me deixaram mal acostumada, assim, não me lembrava do quanto a solidão era silenciosa e triste.

  - Que vida miserável, Miranda Priestly... - Confidenciei a mim mesma quando adentrei o breu da minha casa. Não acendi a luz, conhecia muito bem o caminho por onde percorria, com isso, pude me dar o luxo de me manter confortável na escuridão. Fui até o escritório e acendi um único abajur apenas para ter certeza de que o uísque cairia dentro do copo, apaguei, para que o breu dominasse outra vez, recolhi-me em uma das poltronas do canto do cômodo e preenchi minha garganta com o líquido rascante. Repeti os movimentos algumas outras vezes, não me importava mais em controlar a sede de inconsciência, era sexta à noite e eu poderia perder toda minha dignidade naquela sala, pois não havia ninguém para me julgar ou repreender, apenas eu e eu mesma, ou seja, o único alguém que poderia me impedir naquele momento, já estava alcoolizada o suficiente para não se importar.

  - Será que a garrafa está vazia? - Me perguntei olhando para a garrafa claramente esvaziada, mas mesmo assim, tentei, mais uma vez, colocar o liquido inexistente dentro do copo, mas ao leva-lo a boca e constatar que não tinha mais nada, suspirei frustrada, busquei meu telefone celular e disquei o número - ainda - gravado na memória.

  - Alô? Miranda?

  - Não, Coco Chanel. - Respondi antes de gargalhar.

  - Meu Deus, você está bêbada?

  - Não, claro que não! O que te levou a pensar que eu estaria bêbada? Okay, talvez... Um pouco... Não sei, mas acho que não.

  - Okay, você, definitivamente, está bêbada.

  - Nossa, como você é observadora.

  - O que deseja, Miranda?

- Que você venha até aqui e ache minha outra garrafa de uísque. - Respondi rápido demais.

  - Isso é uma piada?

  - Andrea, eu faço o tipo palhaça?

  - Não...

  - Exato, então consegue entender a seriedade do meu pedido?

  - Okay, vou fingir que não tenho nada pra fazer e vou até ai, tudo bem?

  - Não se faça, se você tivesse algo melhor para fazer, nem teria atendido. Isso é tudo. - Desliguei e olhei para o celular e suspirei. - Ah, não... O que eu fiz? - Desatei a rir novamente e parti em busca de outra garrafa por mim mesma.

Deixe-me partirOnde histórias criam vida. Descubra agora