Minha cabeça latejava e ainda não conseguia sentir meu corpo.
— Melhor tomar um banho, Jin vai te ajudar com tudo — um deles disse, me olhando vomitar.
Jin veio até mim e em um passe de mágica me pegou no colo.
Meu cérebro não conseguia processar tudo que ocorria, aquilo não era possível, eu nunca tinha vivido fora daqui. Como minha alma pertence a eles se nem mesmo eu á tenho?
Cheguei a inusitada conclusão que seria somente mais um dos pesadelos que estava tendo durante a noite fria na cela, era a explicação mais plausível.
— Chegamos! — exclamou abrindo uma porta preta com símbolos e pequenas cobras desenhadas.
A porta se abriu e revelou uma grande cama branca junto de uma estante e um guarda roupa.
— Aqui tem tudo que você precisa, vá tomar um banho e eu vou escolher sua roupa ok? — concordei ligeiramente com a cabeça.
é...um sonho.
Entrei no banheiro com cheiro fresco já encostando a porta. Me olhei no enorme espelho á minha frente não me reconhecendo, não sabendo quem eu era. Suja, fedendo e vazia.
A pior parte era olhar para o reflexo e sentir meus olhos baixos, sem vida, sem minha alma.
Entrei na banheira luxuosa e relaxei na água quente pensando em aproveitar ao máximo o sonho de um banho.
— To entrando! — Jin disse invadindo o banheiro com uma bandeja em mãos — trouxe para você, não se sentiu muito à vontade com eles, é normal, as pinturas são horríveis mesmo. Pegue. — me entregou um aperitivo.
— Obrigada.
— Olha, é normal se sentir assim e sei que isso é muito estranho mas logo você se acostuma, eu também demorei um pouco. — riu com os olhinhos fechados.
— Eu não entendo nada — falei colocando tudo que ele me deu para dentro da garganta.
— Me deixe te ajudar enquanto conto um pouco sobre nós para você.
Jin pegou a bucha ensaboada e passou delicadamente pelo meu corpo.
— Sabe, o inferno não é tão ruim, tem coisas legais.
— Tipo? - digo com o olhar perdido á minha frente. Como o inferno poderia "não ser tão ruim assim"?
— Tipo quando o Jimin chega no ápice e precisa trepar com alguém, é pior que um cachorro! — gargalhou.
— hm? - fiz um semblante confuso.
— Aaa é, você é pura ainda, esqueci que você viveu aqui durante todo o tempo.
— O que?
— Melhor falando somos a representação dos sete pecados capitais do inferno, fomos escolhidos perante o que fizemos quando estávamos vivos. — seus ombros balançam.
— O que seria isso?
— Os humanos — respira fundo — eles são a causa de sermos o que somos. Seus instintos berrantes e suas manias ridículas nos faz estar aqui, eles são sua própria perdição e nos tornam igual a eles.
Seus olhos exibiam raiva, uma dor insuperável e descontrolada que parecia se infiltrar em meio as suas veias á mostra, sua expressão me deixava com certo medo.
— Em geral — suspira e volta a me olhar — somos sete, cada um representa um dos pecados.
— hmm. Existem sete pecados então? — tentando me sentir confortável e esperando encerrar o assunto dos tais humanos insuportáveis que fizeram mal a não sei quem.
— Vem se trocar e eu termino o resto. — me levantei e Jin me cobriu com a toalha me levando na cama onde tinham as roupas. — aqui faz frio então achei melhor colocar um moletom mas se não gostar pode escolher o que quiser.
Enquanto me trocava Jin continuava a me contar:
— Como eu disse, cada um de nós representa um pecado.
— Qual você é? — perguntei me sentando na cama junto dele.
— Vaidade. — respondeu sem pressa.
Combina com ele, seu corpo magro e seu tronco reto o deixam como algo insuperável. É claro que os outros não passam longe, mas Jin com certeza era extremamente apaixonante.
— Namjoon é a ira, ele comanda tudo por aqui mas sempre está ao nosso lado. Apesar de ser bem fechado ele sabe entender o que precisamos a cada momento.
Concordo levemente com a cabeça tentando ainda encarar os fatos. As palavras mútuas e confiantes do garoto bonito me deixavam maravilhada, sua fala coerente e seu cabelo caído sobre seu rosto delicado e bem esculpido. Não era apenas por sua declaração platônica sobre sua casa, ou melhor, o inferno, mas...como alguém desse tipo poderia ser enviado de maneira tão grosseira para cá?
— Ei! — chama minha atenção e só então percebo estar olhando para a parede de maneira intensa — tá flertando com a parede?
Sorri de forma fraca, não conseguia entender nem a metade do que ele dizia, mas apreciava sua companhia.
— Desculpe. - digo breve e ele continua.
— Yoongi é a preguiça, normalmente ele não se importa muito com nada. Então em relação a estar aqui, pode ficar tranquila com ele.
Eles eram sete e eu uma, uma... — era o meu único pensamento.
— Tem o Hoseok, representando a gula. Taehyung como soberba e... — ele para por alguns segundos, deixando sua forte respiração me contagiar.
Olho para o mesmo que estava meio perdido.
— E Jimin e Jungkook, eles tem pecados compartilhados — me olha preocupado — eles são a luxúria e a avareza.
Balanço a cabeça tentando desembaralhar todas as letras miúdas e entender o desenrolar da conversar que acabou em frente ao silêncio.
— Fique longe deles, ok? — o olho, minha sobrancelha no alto revela minha dúvida quanto sua pergunta — eles podem te fazer muito mal. Em relação aos outros eles são os que absorvem mais energias e isso pode prejudicar imensamente você.
Respondo um "tudo bem" quase inaudível e ele sorri carinhosamente, se levanta e antes de sair do quarto escuro me dá um beijo na bochecha.
A única coisa que preciso agora é dormir...talvez uma vez na vida tenha sorte e morra de vez dormindo.
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Correntes do Inferno
ParanormalTodos fantasiam um romance perfeito que faça tudo mais feliz em sua vida, mas com toda a certeza não é assim na realidade e, talvez, a realidade machuque mais do que você possa esperar.