Nem vivendo, muito menos existindo

176 31 22
                                    

Moça, pelo amor de deus
onde a senhora tá?
[Visualizada 15:10]

Ue, onde pedi o uber
Não te vi também

Eu passei aí umas três vezes,
como assim não viu?
[Visualizada 15:11]

Não vi, vc não existe

Existo sim, moça, queisso KKKKK
[Visualizada 15:14]

ㅡ A pessoa pede uber e não sabe ler placa de carro, é de foder.

Seungkwan entrou na rua da estação de trem e tinha vários carros parados também aguardando por alguém. Esperou alguns segundos enquanto procurava por alguém que pudesse estar procurando um uber, até que se assustou com alguém entrando em seu carro com tudo e torcia para que fosse a passageira, ou seria uma situação bem estranha.

ㅡ Hoje foi um dia de merda, quero enfiar dois dedos no cu e rasgar.

A moça era loira, usava óculos de sol, mesmo que o tempo tivesse virado drasticamente e estava escuro três da tarde e talvez por isso tenha confundido seu carro, mas ela só notou depois de entrar com raiva, jogando a bolsa no meio das pernas, batendo a porta e xingando aos quatros ventos.

No momento que ela percebeu, Seungkwan jurou que ela desmaiaria de tão vermelha que ela tinha ficado.

ㅡ MEU DEUS, DESCULPA! Entrei no carro errado, pensei que era meu namorado, moço, perdão!

ㅡ Ah, tud-

ㅡ Boa tarde, te achei ㅡ uma outra mulher, essa mais velha e morena, entrou no banco de trás e ficou um silêncio breve, menos de dez segundos, mas suficiente para deixar todo mundo sem saber o que dizer. Nessa fração de minuto de confusão, começou a chover toda a chuva que os raios e trovões vinham prometendo desde o meio-dia. ㅡ Ah, eu não sabia que era uber compartilhado.

ㅡ Não, desculpa, eu errei o carro ㅡ a loira ainda estava trêmula de nervoso e vergonha, mas acenou com a cabeça várias vezes, educada, e saiu no meio da chuva.

De dentro do veículo, os dois viram ela tomar uma chuva fortíssima até se abrigar pobremente sob o ponto de ônibus próximo.

ㅡ Você não pode levar ela? ㅡ a senhora perguntou e Seungkwan, naquela altura, só queria ir para casa e evitar um boa enchente, mas não queria deixar a moça ali também...

ㅡ Posso, a senhora não se importa? ㅡ Viu ela negar pelo retrovisor e buzinou para a mulher. Quando ela olhou, acenaram para que voltasse para o carro, aquele coberto do ponto de ônibus não servia de nada, chovia nela ainda.

Viram ela correr de volta, pisando numa poça e quase caindo, mas conseguiu chegar no veículo. Agora estava ensopada.

ㅡ Para onde você vai?

Depois de dar o endereço e ela ter avisado ao namorado que já estava indo para casa, partiram da estação. E bem, Seungkwan já sabia que seria um inferno dali em diante.

As ruas congestionadas e o temporal não passava de forma alguma. O céu estava escuro no meio da tarde e chovia impiedosamente, com direto à trovões e relâmpagos clareando os céus. O silêncio confortável se instalou no carro, apenas ouviam as gotas grossas batendo nas janelas e comentavam algo de vez em quando sobre o trânsito.

Depois de dez minutos parados, ligaram o rádio. Depois de vinte, a loira abriu um pacote de salgadinho que tinha guardado na bolsa molhada e dividiram. Depois de meia hora, começaram a puxar assuntos aleatórios sobre o que cada um fazia da vida e quando lhe perguntaram se fazia outra coisa, Seungkwan teve um pensamento. Se fosse um cartoon, uma lâmpada surgiria na cabeça dele.

ㅡ Eu acho que quero fazer outra faculdade ㅡ o comentário saiu baixo, quase como se estivesse incerto e dizendo apenas para si mesmo, mas as duas ouviram.

ㅡ Você fez faculdade de quê? ㅡ a loira, cujo o nome descobriram ser Dahyun, perguntou curiosa.

ㅡ Fiz dois anos de arquitetura, mas percebi que não era pra mim ㅡ explicou e a morena, que descobriu se chamar Melody e que não lhe parecia estranha, puxou sua crise existencial do dia.

ㅡ Okay, e o que você acha que é para você? Se tivesse que entrar amanhã em algum curso, o que faria?

ㅡ Não sei, psicologia? ㅡ Seungkwan respondeu com uma pergunta e as duas ficaram visivelmente impressionadas com a escolha, não tinham nem chego perto dessa hipótese olhando para o motorista.

ㅡ É uma profissão muito bonita. Meu filho tem a sua idade mais ou menos e sempre quis trabalhar com tecnologia e empresas grandes do ramo, mas o pai sempre quis que ele fizesse direito. Que bom que ele não o escutou, quando a gente faz o que gosta, fazemos com amor ㅡ Seungkwan estava em choque.

Ela estava descrevendo os últimos três anos da vida do Hansol, ao menos a parte que ele tinha lhe contado nas várias noites que dormiram tarde conversando.

ㅡ A-ah. Que bom para o seu filho. Qual o nome dele mesmo? ㅡ o motorista perguntou encarando-a pelo retrovisor e queria seguir os passos de sua digníssima passageira Dahyun e enfiar dois dedos no cu e rasgar.

ㅡ Hansol. Chwe Hansol ㅡ ela sorriu ao dizer.

Mas ao olhar para Seungkwan e vê-lo com os olhos arregalados e depois suavizar a expressão de espanto, tentando disfarçar, foi quando ela se lembrou do que o filho havia lhe contado no telefone sobre um tal amigo da Uber que saía quase todo final de semana.

Mas não disse nada.

ㅡ Ele me dá muito orgulho, tenho certeza que a sua mãe se sente assim sobre você. Sobre vocês dois ㅡ Melody colocou a mão no ombro da loira também, num ato carinhoso e recebeu um sorriso igualmente caloroso de volta dela.

Quando finalmente saíram do lugar onde estavam, conseguiram pegar um fluxo melhor e Seungkwan conseguiu deixar as duas em segurança e secas - Dahyun não tanto - e parou por um momento encarando o teto, descrente. "É muita coincidência até para mim, como é possível?", pensou.

Mais tarde, quando chegou em casa, estava vendo os status e viu que Hansol tinha postado algo engraçado e respondeu. Passaram quase duas horas conversando por mensagem até sentirem os dedos doerem e resolveram ligar. No terceiro toque, Seungkwan não se aguentou e soltou a fofoca assim que Hansol atendeu.

ㅡ Eu levei sua mãe hoje, acredita?

!


!

!

Não consigo me conter e sempre boto a família todinha do Hansol, meudeus que ódio


Boa noite/dia/tarde para quem leu ♥

UberOnde histórias criam vida. Descubra agora