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{Mary}

"MAS PORQUÊ QUE VOCÊS FIZERAM ISSO?" Grito deixando as minhas lágrimas de frustação escorrem-me pelo rosto.

"Filha, nós não tivemos escolha" A minha progenitora suspira. Como é que ela pode estar tão bem com este assunto? Isto é tão desumano.

"Não tiveram escolha? NÃO TIVERAM A ESCOLHA? VOCÊS PODIAM TER ENTREGADO OUTRA RAPARIGA QUALQUER EM VEZ DA ELENA E DIZER QUE ERA VOSSA FILHA MAS PREFERIRAM ENTREGA-LA" Grito-lhes na cara mas eles não se parecem afetar. Eles não se importam minimamente com o erro que fizeram, eles entregaram a Elena e não querem saber.

"Ela não é nossa filha, ela foi adotada" O meu pai diz e eu olho-o chocada. Como é que ele pode falar assim da rapariga que ele tratou como própia filha nestes 18 anos, que lhe deu todo o carinho e amor como se fosse mesmo sua filha, que nunca se importou se ela era adotada, ele sempre a viu como do seu sangue. Ela sempre fez parte da familia, ela nunca se passou por uma pessoa que tinha sido adotada, foi sempre tratada como se tivesse nascido da minha mãe. Ela sempre foi e sempre será a minha irmã, a minha melhor amiga, a que irá estar sempre lá quando eu precisar, não estes dois montes de merda, eles para mim morreram quando venderam a Elena como se fosse um objeto.

"O quê que tu disseste? Tu estás a ouvir-te a ti próprio? Tu nunca mais falas assim da minha irmã. Ela sempre fez parte desta familia como do nosso sangue e agora vocês venderam-na como se fosse um objeto, eu odeio-vos, a partir do momento em que fizeram isto não são mais meus pais" Disse rudemente e coloquei o Skate firmamente debaixo do meu braço.

"E só para saberem eu sempre considerei a Elena mais familia do que vocês alguma vez foram" Sinto uma dor aguda na minha bochecha e levo a minha mão até lá.

Riu-me e olho diretamente para o meu pai.

"Primeiro vendes uma das tuas filhas e agora bates na outra, o teu nível é ainda mais abaixo do que eu esperava" Digo e olho para a minha mãe que se encontrava a derramar lágrimas para um bocado de papel. Não senti pena, tal como eles não sentiram quando deram a Elena.

"Se tu soubesses os nossos motivos irias compreender"

"Podem ter os vossos motivos mas eu nunca entenderia a razão para fazerem uma coisa tão desumana, vocês tinham tantas opções...mas agora está feito, fiquem felizes os dois, acabaram de perder as duas filhas, se é que alguma vez nos consideraram filhas. Agora é melhor sair daqui antes que me vendam a mim também" Aquilo trespassou-os como flechas, a frieza com que disse estas palavras era muito elevada, nunca tinha falado assim com ninguém. Uma expressão de choque reinava nos seus rostos.

"Filha..." A minha mãe tentou impedir-me mas não me interessava para nada as suas palavras, nada me faria mudar de ideias.

"EU NÃO SOU VOSSA FILHA" Rosnei e sai de casa batendo a porta com muita força fazendo um estrondo enorme.

"NÓS NUNCA TE FARIAMOS NADA ASSIM" O meu 'pai' gritou de forma que eu ouvisse.

Ignorei e coloquei o meu Skate no chão, subi para cima dele e dei balaço com o pé começando a andar pelo meio da nossa cidade.

Nunca me fariam nada assim mas fizeram à Elena, ela não é diferente de mim.

Estava a passar pelo meio dos becos escuros que existiam na nossa cidade, todos acham que os becos são só para pessoas traficarem droga, violarem e materem pessoas mas eu não, eu acho que quando as pessoas estão deprimidas que se escondem no lugar mais escuro que encontram onde possam deixar toda a mágoa sair, quando presisam de estar sozinhas, ou até desabafar consigo mesmas onde ninguém pode ouvir.

Eu penso isso porque nem toda a gente que vem se esconder aqui nesta profundeza da escuridão é má pessoa, todos temos problemas e podemos esquece-los da maneira que mais apreciamos como fumar ou consumir drogas mas isso é uma escolha da pessoa.

Paro o Skate e sento-me nele encostando as minhas costas á parede.

Suspiro e fecho os olhos.

Deixo uma lágrima cair do meu rosto ao lembrar-me da minha irmã e o quanto ela deve estar a sofrer naquele sitio.

Sinto a presença de alguém e abro os olhos encontrando um rapaz encostado á parede á minha frente com um cigarro por entre os seus lábios.

O seu olhar estava focado em mim, analisando cada parte do meu corpo, cada traço do meu rosto, os meus pequenos promenores muito atentamente, como se eu fosse uma coisa estranha, um ser doutro mundo.

Ele soltava algumas nuvens de fumo pelos seus lábios sem nunca retirar o seu olhar do meu.

Não conseguia vê-lo muito bem porque ele estava numa parte demasiado escura, apenas conseguia observar a sua silhueta, um corpo alto bem constituido e cabelos encaracolados.

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Oreo

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