prologue

688 103 82
                                    

Four Years Ago

Eu sempre fui uma boa garota. Não ia dormir tarde, não comia doces antes do jantar, só tirava notas altas, nunca havia repetido -na verdade, estava até um ano adiantada na escola- e nunca faltava às aulas, então não entendi quando assim que abri a porta de casa, ouvi meu pai gritando.

O dia estava quente em Shelvan, a cidade que é meu lar desde que nos mudamos da Espanha, meu país natal, para essa pequena cidade no interior da Inglaterra, e eu sentia o suor se acumular em mim por debaixo daquela saia longa e blusa de manga cumprida, minha mãe não gostava que eu revelasse o corpo como as garotas do meu colégio, some isso ao fato de eu ter vindo todos as vinte quadras a pé, eu preferia pedalar minha bicicleta, mas era horrível pedalar com aquela saia e o transporte público era perigoso demais.

Minha mente repassa qualquer coisa que eu possa ter feito para ser a causa de seus gritos, é isso me faz levar alguns segundos a mais que o necessário para finalmente entender o que tanto gritava.

— Ele nunca mais pisará nessa casa, ele não é mais o meu filho - Meu pai grita de algum lugar da casa - Ele é uma vergonha para essa família, ele é uma decepção - Ele aparece na soleira da porta da sala e então me olha e ergue o dedo do sermão. - Se você nos decepcionar igual a ele, será deserdada.

— O-o-que - Engulo em seco, a porta atrás de mim se fecha sozinha - O que aconteceu? - Desvio o olhar do meu pai, que começou a andar para lá e para cá na nossa sala, para minha mãe.

— Seu irmão aconteceu. - Minha mãe responde sem mais explicações, então mesmo temerosa, volto a perguntar ao meu pai, ele ainda veste a farda da polícia e pelo horário, deve ter largado o turno.

— Pai? - Pergunto temerosa, minha mãe não parecia sã naquele momento. Meu pai para de andar, e segura com força um papel em mãos.

— Seu irmão fugiu de casa - Abro a boca em choque e acabo deixando a mochila escorregar pelo meu ombro, direto para o chão. - Ele escolheu aquela garota a nós.

— Que garota? - Pergunto confusa, não querendo acreditar que meu irmão faria isso, não o meu irmão, meu herói, quem não seguia as regras e os bons costumes  daquela casa, o único que era meu amigo e que não zombava de mim por passar o mesmo que eu, o único que me entendia naquela casa - O que tá acontecendo? - Pergunto com a voz chorosa, e isso foi o suficiente para minha mãe voar em minha direção e agarrar meu braço esquerdo.

Antes que eu percebesse, ela já me arrastava escada acima, seus saltos perfeitamente lustrados assim como seu cabelo sempre arrumado já que vivia no salão, ecoando pelos degraus.

— Mãe, me solta. - Peço já sem impedir que as lágrimas saiam pelos meus olhos.

Tento puxar sua mão, mas ela aperta com mais força. Assim que passamos pelo quarto do meu irmão, vejo o guarda roupa dele escancarado e seu interior vazio, estranho porque ele faltou a escola falando que estava com dor de estômago e ficou em casa.

Minha mãe para em frente à porta do meu quarto e a abre com força. Então me faz sentar na escrivaninha, finalmente me soltando. Massageio com minha outra mão a área dolorida enquanto ela começa a andar para lá e para cá em meu quarto.

— Seu pai tem regras simples nessa casa, regras que garantem que nossa família seja bem vista pelos outros e possam garantir seu cargo de delegado e futuro prefeito – Sinto vontade de revirar os olhos, já ouvi muitas vezes essa frase – Damos tudo para vocês e só pedimos em troca que sigam as regras – Ela para de andar e olha para mim – E seu irmão quebrou todas – Abro a boca, querendo saber quais delas eles descobriram, o que o fez fugir de casa, mas ela volta a falar: – Ele fugiu de casa, nos deixando para lidar com mais uma vergonha, por isso mocinha quero que pegue um caderno e escreva cem vezes se precisar, as regras dessa casa, já tivemos uma decepção, não precisamos de outra.

A porta bate com força atrás dela quando ela sai, me deixando paralisada, quieta e com meu rosto ainda molhado pelas lágrimas. Quando ouço a porta lá de baixo bater, me levando e saio do quarto as pressas, invadindo o quarto do meu irmão atrás de respostas, pistas, o que quer que seja.

O quarto está uma bagunça, meus pais devem ter tido a mesma ideia já que reviraram tudo. A cama está desarrumada, os armários vazios e só quando vou procurar seu violão escondido embaixo da cama e ao em vez do instrumento, encontro um bilhete seu, é que eu confirmo.

Javier fugiu de casa, para a cidade grande mais próxima, Bringhte, e que mesmo que se odeie por me deixar, não poderia permitir que nossos pais acabassem com a sua vida. Me sento no chão ao lado da cama, e abraço minhas pernas junto ao meu corpo, chorando sem parar.

Passo o dedo pelo endereço e o número de telefone que deixou no final, eu pensei que, apesar da vida complicada que levo, nunca iria querer abandonar minha família, mas quando pelos próximos dois anos, até o fim do ensino médio, meus pais se tornam mais protetores do que nunca, desejando que eu fosse a filha perfeita, eu decidi que sairia de casa, de Shelvan e iria atrás de Javier, custe o que custasse.

NOTAS FINAIS
Sejam muito e oficialmente bem vindos a minha nova história, estou muito empolgada com ela e espero que vocês gostem.

Se você veio aqui saído da minha outra história, quero que relaxe e não se preocupe que não irá precisar puxar os cabelos tentando resolver mistérios!

Se você está por aqui novamente, espero que goste dessa nova versão.

A família Castillo é uma família conservadora, com alguns costumes e tradições arcaicas. Quero que saibam aqui que não tenho a intenção de ofender qualquer costumes, tradições ou religiões, respeito, assim como espero que todos respeitem, a diversidade que existe entre cada indivíduos. Isso é só uma história, não levem tudo a sério.

A Lista de BringhteOnde histórias criam vida. Descubra agora