Eu estou há alguns minutos parada em frente à casa bem estruturada de Jimin, e ainda não consigo acreditar que estou vou mesmo fazer isso.
É possível que esse eu de agora seja um eu paralelo com o meu eu de ontem?
Porque, se sim, ao menos isso faz sentido.Ontem eu abominava qualquer que fosse a remota idéia que relacionasse eu e Jeon Jungkook á apenas um metro quadrado de distância. Hoje, em total contra-partida, e indo contra a tudo que eu venho dizendo que não vou fazer nos últimos cinco dias, eu estou arrumada, e cheirosa, para ir até a casa dele, e dividir o mesmo metro quadrado com ele.
E isso não faz sentido nenhum.
Qual é? A minha idealização de que existem universos paralelos à esse, e que o meu eu fugiu de um desses universos e está ocupando o meu lugar na Terra é mais convincente do que eu assumir para mim mesma de que eu, eu mesma e euzinha, estou indo para a casa dele, por vontade própria.
(☆)
- Podemos jogar algo, se quiserem. - Jungkook sugeriu, olhando para Jimin de forma amigável e insistente, deixando claro, com o olhar, que ele queria muito fazer aquilo.
Aqueles olhos pidões...
- Claro. - Jimin afirma com a cabeça de forma distraída, e passa a focar nos livros de histórias em quadrinhos que estavam em uma caixa de papelão em cima da cama do Jeon. - Qual é o jogo?
- É verdade ou desafio.
Olho para Jungkook de imediato e de uma forma que me assusta um pouco, principalmente pela rapidez e pânico que é claro que estão evidente nos meus olhos. Verdade ou desafio, é sério? Eu não acredito que estou perdendo a minha tarde, do meu dia de folga, na casa de um cara que eu não curto, para jogar essa porcaria de jogo idiota. Tudo isso por causa da porra de um mochi de um metro e setenta que não consegue dizer "Não, obrigado" para qualquer coisa que envolva Kim Taehyung. E isso me dá nos nervos.
Jungkook arrasta uma caixa que está debaixo de sua cama até o meio da roda, onde meus olhos alcançam, e eu consigo ler "Truth or Dare" em um vermelho sinistro com uma caligrafia ainda mais sinistra na tampa da caixa. Percebo então que ele não pegou a típica garrafa para girarmos e jogarmos esse jogo estúpido, e confesso que estou começando a ficar genuinamente curiosa com o que há dentro dessa caixa e o que isso tem a ver com o jogo que eu conheço.
Ele retira a tampa sinistra e então eu noto alguns punhados específicos de cartas coloridas separadas por montes de cada cor, e outra vez eu me pergunto o que isso significa. Há quatro montinhos isolados de cartas, um em cada extremidade da caixa, e outro punhado de cartas brancas no centro, tendo alguns dados ao seu redor. O que tudo isso significa?, é o que ronda na minha mente e quase sai pela minha boca, mas eu engolo e espero o guitarrista brega ter a decência de explicar.
Olho-o no mesmo instante, enquanto ele mantém o olhar fixo nas suas mãos que agora estão tirando todos os grupos de cartas separadas por cor e colocando no chão a minha frente, como um exibicionista de primeira, pronto para receber seus aplausos. Algo amargo desce pela minha garganta e eu busco o olhar de Jungkook outra vez, que me olha brevemente antes de desviar e voltar a focar nas cartas.
- Cada cor é um nível diferente. - explica, olhando para Jimin dessa vez, que assente e retribui o olhar com atenção, foco e todo um interesse grande demais para um jogo aparentemente chato como aquele. Jungkook respira antes de voltar a falar, olhando de relance para mim agora. - Podemos começar a jogar com o mais leve...
Eu senti uma prepotência tão grande na voz dele que por um momento fiquei surpresa com a audácia descarada desse moleque. Quem ele pensa que é? Ele estava me desafiando indiretamente e de uma forma bem sutil mas que pareceu convidativa demais para mim e que com certeza não passou despercebida. Talvez sim, para Taehyung ou Jimin, mas não para mim, e é claro que eu estava disposta a jogar esse joguinho estúpido no pior nível em que fosse possível, apenas para ter o gosto de ver aquele sorrisinho presunçoso que eu juro ter visto na boca daquele guitarrista brega de merda sumir. Desaparecer. Evaporar.
- Qual é o último nível? - perguntei firme, de repente me arrependendo do quanto eu fui dura e ríspida ao falar, mas não me julgando por estar travando uma troca silenciosa de farpas com alguém na qual talvez só esteja agindo como age naturalmente com qualquer um. Mas eu não ligo. Jungkook aponta para o amontoado de cartas pretas e abre a boca para falar algo ou explicar alguma coisa, mas a adrenalina que me corrói me faz quase cuspir as palvras de tão rápidas que vinham na vontade de cortá-lo. - Vamos jogar este.
No mesmo segundo sinto todos os olhos daquele cômodo em mim, e digo isso pois sinto até os olhos dos rockstars dos pôsters colados na parede ao meu lado. E todos os olhos me julgam silenciosamente, me repreendendo e repreendendo minha atitude abrupta e impensada. Me julgam como tola e infantil e todo o julgamento dura exatos dois segundos pois todos alí parecem ter coisas melhores a se fazer do que isso. E que bom que eles têm. Mas algo me diz que eu vou sentir todos esses olhos me repreendendo muitas vezes hoje.
- Bom... - Jungkook maneia a cabeça rapidamente para o lado, em algo que percebi ser uma mania que ele tem, e parece ponderar na minha escolha imbecil de cartas. Ele coça a nuca e olha para Jimin, e depois me olha de relance outra vez e eu juro que não vou levar o que quer que saia da boca dele como provocação. - Essas são as cartas de perguntas mais pessoais, tipo, muito pessoais mesmo, e a maioria envolve sexo. Tem certeza?
Eu ouvi, ele falou aquilo com prepotência outra vez, eu tenho certeza que sim. Ele está jogando comigo, mas ele não tem a noção de que eu posso ser a pior adversária que ele já teve nesse joguinho de trocas de farpas e cansaço mental distribuído gratuitamente. Mas, ah... Ele com certeza está sem sorte, pois ele conseguiu alguém que vai vencer dele com honras.
- Truth or dare.
Jungkook captura a minha atenção tão rápido quanto me faz pensar que ele não a merece, mas também tão rápido me faz lembrar de que essa tarde eu estou me permitindo ser legalzinha com ele por Jimin e seu novo melhor amigo bonitão.
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Delcacomanie
FanfictionO verão de 1985 foi o mais intenso na reclusa cidade de Busan; os dias eram quentes e ensolarados e as noites traziam uma brisa fresca para limpar a cidade - mesmo com as altas temperaturas.