CAPÍTULO 1

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Nova Jersey, EUA
16 de maio, 2019.

      A vida é um processo constante de morrer. Arthur Schopenhauer foi quem disse isso. E quer saber? Ele estava certo.

      Talvez nós adolescentes do século 21 realmente sejamos uns bundões e estejamos sempre assumindo que somos as vítimas das situações. Mas já parou pra pensar na pressão que nos colocam indiretamente? Primeiro vem a escola, centenas de notas melhores que as suas, centenas de alunos mais bem classificados que você e centenas de pais que podem fazer o que os seus não podem, se gabar dos filhos bem classificados que tiram boas notas.

      Em segundo lugar, alguns de nós tem irmãos, irmãos que alcançam as expectativas dos nossos pais, nos fazendo ter que exceder essa expectativa e lançar a eles um futuro muito mais extraordinário e difícil para nós alcançarmos. Quando não temos irmãos, sempre há aquela vizinha fofoqueira que faz com que nossas mães surtem por qualquer possível boato que venha a destruir nossa reputação. E diga-se de passagem, essas senhoras destroem uma reputação em uma única tarde de fofoca, até os seus parentes do interior ficam sabendo da sua vida, as vezes antes até de você mesmo. Como os casos falsos de adolescentes grávidas na vizinhança, sempre diziam que eu ia engravidar com 15, então chupa essa senhora Covey que mora na esquina, eu tenho 17 e nunca precisei comprar um teste de farmácia.

      Então vem a puberdade, aquela fase em que nos trancamos no quarto para odiar a nossa própria imagem enquanto choramos ouvindo músicas que sempre nos fazem chorar ainda mais. Levantamos a cabeça, enxugamos as lágrimas e nos perguntamos o motivo do choro, só para receber como resposta um enorme ponto de interrogação.

      O fato é que, a pressão é absurdamente enlouquecedora, o que faz de nós, jovens do século 21, depressivos sem causa concreta ou relevância suficiente para que nossos pais tratem como algo sério.

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      Dobro a rua da farmácia com os nervos à flor da pele, se não aumentar minha nota em espanhol meus pais vão cair matando nas minhas costas e provavelmente vão querer me mandar para o internato na Croácia.

      Não me orgulho do que faço, pelo menos não a parte de me aproveitar da ideia de tomar pílulas da inteligência para estudar e como válvula de escape para a chatice, me encher com outras porcarias como maconha e metanfetamína.

      Já fazem alguns meses que venho tomando as pílulas para melhorar meu desempenho escolar, quando a primeira nota A chegou ao meu boletim, meus pais ficaram tão felizes que me deram um carro, então eu fui me interessando pelos estudos para melhorar as notas, mas sem as drogas eu não conseguia me manter focada e alcançar um bom desempenho, decidi tentar mais uma vez para ter certeza que eram realmente as pílulas que tinham me ajudado da primeira vez. Mais duas notas altas preencheram o meu boletim, nesse mesmo mês ganhei meu primeiro cartão de crédito. Tentei parar algumas vezes, mas toda vez que as notas caiam meus pais enlouqueciam e meu pai chegava a quebrar moveis em casa, não poder se gabar para os amigos que a filha dele entraria em Harvard era um pecado. E mais uma vez, mergulhei nas pequenas preciosidades que faziam de mim uma garota exemplar.

      Em uma das festas loucas na casa do Zian, conheci um primo dele que chamavam de Drax, ele me ofereceu uma carreirinha de cocaína e foi quando experimentei outra droga pela primeira vez, Drax assumiu que eu não era uma careta, como eles chamam os que não sabem se divertir, e ficamos amigos. Ele me passou toda a informação sobre onde comprar, como negociar os preços e onde não ser vista. E foi assim que eu aprendi a me divertir, todos os finais de semana.

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