Capítulo I - Mundo Preto e Branco

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Nova Iorque, 26 de outubro.

Essa cidade fede!

Sabe aquela linda Nova Iorque que você vê nos anúncios e filmes? Pois é, é uma farsa. Aqui é sujo, tudo fede, e é tudo caro. Não deveria ser caro, pelo menos não para mim. Meu pai é presidente e fundador da 'Strong Construction Company' a maior construtora de todo o estado de Nova Iorque. A maioria dos edifícios, estádios, hospitais, escolas e até supermercados tem o dedo do meu pai. Ele é tão rico que, se ele parasse de trabalhar hoje, viveria confortavelmente pelo resto da vida sem problemas, mas eu sou a bastarda, na verdade "adotada".

Hoje eu vivo em um quarto alugado com o dinheiro que eu ganho trabalhando em uma pizzaria perto da estação de metrô. Não é horrível. Depois do terceiro mês, eu consegui me livrar dos ratos e baratas que viviam aqui, e às vezes minha irmãzinha até me visita. Não gosto que ela venha aqui. Não é lugar para ela. No começo, quando me mudei, ela vinha quase todos os dias, foi quase impossível fazer ela parar um pouco.

Às vezes é bem solitário, e sinto bastante falta da minha mãe. Ela ficou doente depois que eles me adotaram, acho que foi por isso que papai começou a me odiar. Odiar é uma palavra forte, e única possível para descrever o que ele sente por mim. Eu fiquei até os meus 14 anos cuidando da minha mãe, foi quando meu pai me mandou embora. Talvez ele pensasse que se eu fosse embora as coisas iriam melhorar. E talvez tenha melhorado, ou não. Não estou mais lá para saber.

Ou talvez ele tivesse medo. Eles nunca souberam explicar o por que de eu ser assim. O por que eu tinha esses poderes. Sempre pedindo para não usá-los e sempre escondê-los, e eu juro que tentei, mas cada dia que passava, eles ficavam cada vez mais fortes e descontrolados. Aprendi a controlá-los na marra. Achei que ele ficaria orgulhoso, mas não foi suficiente. Nunca era. Eu não era.

Tudo ao meu redor hoje parecia mais pálido; sem cor; sem vida. Eu deveria procurar um oftalmologista, porque eu poderia jurar que as coisas estavam ficando preto e branco. Isso era bem recorrente na verdade. Quando eu era pequena, e tudo parecia ficar mais difícil, as coisas ficavam sem cor, era aí que ficava bem difícil controlar meu poderes.

Estava quase chegando em casa depois de trabalhar feito uma doida. Meus braços doíam e minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento, mas assim que abri a porta tudo sumiu, e até as cores pareciam ter voltado. Lá estava ela! Seu vestido cor-de-rosa parecia iluminar e dar vida ao lugar. Sara estava entretida com um livro que estava em cima da cabeceira ao lado da minha cama.

Assim que me viu, seu sorriso ofuscante quase me cegou. Ela realmente iluminava minha vida. Ela correu na minha direção com seu salto agulha e me abraçou com todas as suas forças. Parecia que nunca iria me soltar.

- Mana! - gritou enquanto me agarrava pelo pescoço.

- Maninha! Já disse que não precisa vir aqui sempre.

- Não seja boba. quem mais te faria companhia?

- Você tem um ponto. Mas não veio aqui somente para me fazer companhia, não é?

- Me pegou. Te trouxe alguns suprimentos e ... - antes que ela pudesse terminar de retirar as coisas da sua bolsa, eu intervi.

- Sabe que não gosto que compre coisas pra mim.

- Eu não comprei! Trouxe de casa.

- Pior ainda! Você sabe que papai não é meu maior fã. Não quero criar problemas entre vocês.

- Não é como se já tivéssemos problemas suficientes. Ele faz questão de me lembrar que meu curso de moda não vai me ajudar quando eu assumir a empresa, ou que eu não serei competente o suficiente para me tornar a CEO das empresas dele, quando nós sabemos que você é simplesmente perfeita para isso!

- Lizzie! Não começa.

- Eu to falando sério. Nós duas sabemos que você nasceu para ser a chefe fodona e a burguesinha que compra várias bolsas. - foi inevitável não sorrir. - Você sempre se interessou por engenharia e pelas coisas da empresa. Eu só quero criar roupas incríveis e ser chamada para a semana de moda de Paris.

- Você fala como se fosse a garotinha mais fútil desse mundo.

- Quem me dera se eu realmente fosse. Talvez papai me deixasse em paz. Você acredita que ele queria cortar as doações dos institutos que a mamãe criou? Aquele velho está começando a caducar.

- Espera, isso é sério? - ela afirmou balançando a cabeça freneticamente - Isso é ridículo! Mamãe ficaria furiosa, além desse ser o único legado dela, ainda estaria tirando a ajuda de várias famílias.

- Pois é! Foi uma guerra, mas consegui barrar essa ideia idiota. Só que como tudo tem um preço com aquele maluco, eu vou ter que começar a estudar engenharia.

- Como assim? Você odeia engenharia. Ele realmente enlouqueceu.

- Era isso ou o corte total das doações. - dava para ver o quanto aquilo estava afetando ela - Mas você sabe o que eu penso sobre isso.

- Não vai acontecer. - Me levantei tentando fugir daquela conversa.

- Você era o que nos sustentava. Depois que você foi embora as coisas desmoronaram.

- Você fala como se tivesse sido uma escolha minha. Ele me expulsou. Me mandou embora com uma mão na frente e outra atrás. Eu dormia nas praças, sem contar as vezes que quase fui abusada e agredida. - parecia que iria vomitar quando aquelas palavras saíram.

- Eu sei, mas-

- Não existe 'mas' nessa situação Lizzie. Eu não posso mais voltar.

- Nossa mãe sente sua falta. Poderia apenas ir vê-la.

- Talvez eu vá - sequei uma lágrima que insistiu em cair enquanto me virava para olhar Liz nos olhos. - Acho melhor você ir. - nesse momento ela pareceu perder totalmente o brilho.

- Tudo bem. Te vejo depois. - ela me abraçou como se fosse a última que nos veríamos.

Ficamos assim durante um tempo até ela realmente ir embora. Quando ela foi embora, as cores acabaram indo junto com ela, e tudo voltou ao que era antes. Eu estava tão cansada, e essa conversa acabou por piorar tudo. Eu não aguentei e acabei desmoronando ali mesmo. Estava sem forças até mesmo para ir para cama.

Mas parecia ter o suficiente para os meus poderes voltarem a se manifestar. O ralo da pia começou a tremer bem fraco. A menos que alguma coisa estivesse escalando o cano ( o que era impossível já que paguei caro para acabar com essas pragas ) eu estaria, provavelmente estaria manifestando meus queridos dons.

Quão perto eu chegava perto da pia, mais ela tremia. Tudo bem, estava começando a me assustar. Quando cheguei perto o suficiente para olhar dentro dela, a tremedeira parou. E foi aí que ficou mais estranho ainda. Um líquido parecido com piche começou a sair do cano e subir por toda a superfície da pia indo para a parede.

A cada passo que eu dava para trás o líquido subia mais ainda pelas paredes. E então o silêncio que antes predominava, se tornava cada vez mais distante. Eu podia ouvir como se fossem sussurros, que aumentavam cada vez mais, e mais, e mais até que eu senti que ficaria surda, até que tudo parou. O silêncio havia voltado e aquela gosma nojenta tinha sumido.

- Tá, isso é novo. - disse para mim mesma, tentando assimilar o que havia acontecido.

Eu até poderia ficar ali e tentar descobrir o que aconteceu, mas eu tinha que ir para aula na faculdade. Estava quase me formando e não podia perder nada. Quando se é bolsista não dá para se dar o luxo de deixar suas notas caírem.

Antes de sair me certifiquei que não havia piche nas paredes ou pia. Não havia.•°•°•~•°•°•

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⏰ Última atualização: Jan 15 ⏰

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