Sexto Capítulo

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sᴀʙᴀᴅᴏ, 21 ᴅᴇ ᴅᴇᴢᴇᴍʙʀᴏ ᴅᴇ 2019

Sorrindo, Ava veio ao meu encontro e abaixou-se para ficar da minha altura, pois eu estava sentada colocando meus patins.

- Primeiro, você precisar equilibrar-se em cima dos patins - comentou de maneira condescendente como se estivesse dando uma aula. - Depois fazer diversas acrobacias. Acho melhor evitar acrobacias, novata.

Para patinar no gelo, as pessoas usam patins especiais que têm uma lâmina de metal afixada no solado. Há três tipos básicos de patins para gelo: os de patinação artística, os de velocidade e os de hóquei. Ava e eu optamos em pegar os de patinação artística, tendo em vista que são os melhores para patinar por lazer.

Da maneira como falava, ela deve frequentar bastante este lugar.

— Tenho certeza que consigo acertar de primeiro. Você não acha? - indaguei, olhando-a com um misto de desafio e brincadeira no olhar.

— Você? Até parece. Eu venho aqui antes mesmo de você saber o que é — ela disse, gabando-se. — Agora, deixe de inventar uma desculpa e comece.

É incrível que sempre na primeira oportunidade que eu tenho de ter um surto de nervosismo, eu realmente tenho. No entanto, de alguma maneira, a presença de Ava fazia esse nervosismo diminuir. Então estava decidida a entrar naquela pista e dar tudo de mim.

Se fosse para definir a sensação de patinar no gelo, eu definiria como: tranquilidade. Logo que pisei na pista, senti bem estar. Não sei se foi o clima gelado do ambiente ou, a impressão de estar deslizando em manteiga. Simplesmente uma experiência indescritivel.

Ava fazia acrobacias enquanto eu, a admirava. Ela estava muito bonita. O cabelo dourado ondulado estava envolto por um coque. Usava também um cachecol vermelho no pescoço.

Algum tempo depois, sentamos no piso frio ao lado da pista. Estava ofegante, foi divertido.

— Eu adorei a sensação de patinar no gelo, é...

— Incrível — Ava respondeu, completando a frase antes que pudesse concluir. — Mas ainda não acabou.

— Não?

— Tenho outro lugar para te mostrar. Adiante.

Retirei o equipamento e entreguei no guichê. Estou adorando a presença de Ava. Confesso que fiquei um pouco receosa em aceitar seu convite para vir até aqui. No entanto, ela está suprindo as minhas expectativas.

Caminhamos por algumas calçadas. Comprei um sorvete e o saboreei a sombra de um toldo de uma loja. Em seguida pegamos um trem para o "local sigiloso". Ava ainda não contou para onde estávamos indo, entretanto, minha intuição falava mais alto: essa pode ser sua única oportunidade de fazer amigos.

— Chegamos ao nosso destino.

Ava me levou para uma biblioteca. Tomas certamente tivera dado informações demais sobre mim. A biblioteca era imensa, talvez maior do que a da Alice. Chamou a minha atenção toda aquela organização. Digamos que, o sonho de toda bibliotecária é ter um espaço amplo para caber estantes de todos os generos possiveis e não entulhar uma categoria sob outra devido organização ruim do ambiente.

Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca.

Livros são (meu) escape da realidade, pensei. Gostei que a Ava tenha me trazido para a biblioteca, adorei mais ainda de saber que ela também lê.

— Te trouxe para o meu segundo local favorito na cidade. Não sei o motivo, mas eu a achei interessante naquele dia na cafeteria. Você atraiu minha atenção. O que achou de mim?

E ela havia atraído a minha também. Ava de fato, era linda. Os momentos que tivera até agora com ela foram incríveis.

— Você não vai falar nada?

Ava indagou, esperando uma resposta.

A imaginação de uma mulher é muito rápida; pula da admiração para o amor e do amor para o matrimônio em um instante.

Citei uma frase do meu livro preferido, Orgulho e Preconceito. Não sabia que resposta dá-la, por mais descomplicado que fosse. Recitar frases sem noção me pareceu melhor.

Mas confesso que a mim nada disso me encanta. Prefiro infinitamente um livro.

Ava recitara outra citação do meu livro predileto, ela entendera a referência. Encontrava-me sem reação.

Orgulho e Preconceito é um de meus favoritos. Como adivinhou?

— Porque também é o meu.

Deixei um sorriso bobo pairar sob meus lábios. Em questão de segundos fiquei totalmente fascinada por Ava.

Continuamos a conversar sobre nossos livros favoritos. Folheei algumas páginas de um livro que ela me deu, O Morro dos Ventos Uivantes. Um dos maiores clássicos da literatura britânica.

Senti que uma festa acontecia dentro do meu peito e que eu tremia gentilmente, sentindo-me nervosa e agitada. Ela também estava se divertindo.

— É possível se apaixonar por alguém em tão pouco tempo? — Ela diz, quase se virando para ir embora. Então ela para e me olha mais uma vez. — Posso te fazer uma pergunta?

Meu celular apita. Tomas está me ligando.

— Estamos te esperando para o jantar. Vamos comer fora.

Confirmo minha presença, no entanto, quando viro para olhá-la, ela não estava mais lá. Ela havia ido embora. O que ela queria saber que não aguentou esperar? O que ela está tentando fazer comigo?
















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