Capítulo Único.

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Droga, droga, droga!

Mil vezes droga!

Eu estava atrasada. Muito atrasada.

E, aparentemente, ferrada.

Papai jamais me perdoaria. Mamãe jamais me perdoaria. Vovó jamais me perdoaria.

Tenho certeza que a esta altura, já deram por falta de mim.

Olhei para meu relógio de pulso novamente e senti o suor de nervoso descer frio por minhas costas. A pontualidade definitivamente não era a minha maior virtude.

— Dadá, calma! Já estamos chegando!— Melo acariciou minhas costas, tentando me tranquilizar. Mas eu sabia que ela estava pensando o mesmo que eu, estava ferrada.

— Não se preocupe, tamam?  Vamos te dar cobertura. — Fifi falou enquanto pilotava a kombi antiga que estávamos, mas até mesmo ela vacilou em sua postura de bravura.

É isso, e aqui jaz o triste fim da vida de Eda Yildirim. Foi bom enquanto durou.

A desajuizada da família. Estaria isso escrito em minha lápide futurística?

— Lembrem-se que eu quero ser cremada, tamam? E podem doar meus órgãos também! — Suspirei agoniada.— Talvez alguém faça melhor uso do meu cérebro que eu...

— Garota, e eu achava que a Melo era a dramaqueen da nossa amizade! — Fifi riu alto. Claro que ela riu. Não era ela que estava caminhando para a morte.

— Ei! — Melo protestou.— Minha querida, eu sou artista! Minha professora de teatro sempre diz que a intensidade é a chave.

— Deve ser por isso que ela está caminhando para o oitavo divórcio... — Fifi murmurou divertida.

— Disse alguma coisa, miss dark? — Melo questionou.

— Nada não.

Fechando os olhos, dei meu milésimo suspiro da noite.

Sabia que não devia ter saído escondido. Não ouso dizer o termo fuga, deixaria tudo mais real. E mesmo assim, não me arrependo. Alguém precisava estar lá, e fico feliz que fôssemos nós. Devemos proteger aqueles que não tem voz para fazerem isso por si mesmos.

Meus dentes bateram uns contra os outros novamente, estava tremendo de frio da cabeça aos pés. Meu cabelo estava pingando devido a água gelada da chuva e minhas roupas grudadas ao corpo, totalmente encharcadas. As meninas também não estavam diferentes. O temporal que nos capturou não dava indícios que iria ceder tão cedo. Resignada, disse já aceitando meu destino:

— Não precisa correr, Fifi. Já estou encrencada o suficiente. Mas pelo menos, deixe-me morrer em casa. A chuva está muito forte e, as estradas escorregadias, não vamos nos arriscar, ok?

— Ok.— Ela deu-me um sorriso triste e voltou a dirigir, cautelosa.

Agora só me restava esperar.



— Tem certeza que vai ficar bem? — Melo perguntou-me receosa, quando estacionamos próximas da mansão Yildirim.

Não. Tive vontade de responder.

— Claro! Talvez use algum de seus conselhos sobre as aulas de improviso teatral. — Sorri, tentando soar convincente, mas tenho certeza de que meu rosto estava contorcido numa careta esquisita.

Late | One Short EdSerOnde histórias criam vida. Descubra agora