💞 Capítulo 04 💞

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Enquanto finalizo mais um dia de trabalho, em minha cabeça não para de se repetir o que aconteceu ontem. A preocupação de Lipe, seu carinho. A ideia que teve para me manter segura foi o que mais mexeu comigo. E quando enfim chega a hora de ir embora, começo a arrumar minhas coisas sem muita pressa, tentando controlar meu nervosismo. Agora que Felipe virá me buscar todos os dias, vamos ficar ainda mais próximos. Por um lado, será bom, mas por outro...
Meu celular apita, avisando que chegou uma nova mensagem.
“Já estou aqui fora te esperando, docinho.”
Um sorriso surge em meu rosto.
— Você parece feliz. — Me assusto com a voz de meu chefe. — Desculpa não queria te assustar — ele diz. — Você tem um sorriso lindo, Ana. Boa noite, até amanhã. — Ele sempre faz questão de me cumprimentar no início e no fim do dia.
— Boa noite, senhor. Até amanhã.
Assim que saio, vejo Lipe sentado no capô do carro, com aquele sorriso perfeito que sempre invade meus sonhos. Nos cumprimentamos com um abraço e um beijo na bochecha, e ele abre a porta para mim e em seguida entra.
— Como foi seu dia? — ele pergunta.
— Cansativo, produtivo... Eu disse cansativo?
Nós rimos. Eu poderia viver o resto da minha vida dentro desse carro. Poderia rodar o mundo se fosse para ficar em sua companhia. Ouvindo o som da sua voz e de seu riso.
— E olha que ainda é terça-feira.
— Lipe, não precisava me lembrar disso. — Cutuco sua costela. Eu sei que ele tem cócegas. — E o seu dia como foi? Paquerou alguma cliente.
Lipe leva a mão ao peito e faz uma cara como se essa pergunta o tivesse ofendido.
— Você realmente acha que sou assim? — Balanço a cabeça. Ele é. Não perde uma oportunidade. — Eu só paquerei uma e foi bem discreto. — Ele me olha rápido e pisca. Rio. Mas aqui dentro meu coração se aperta. Lipe sempre foi assim. Ele não vai mudar. — Ana, vou te perguntar uma coisa e você promete ser sincera?
Um nervosismo toma meu corpo. Não faço ideia do que irá perguntar.
— Pode, eu sempre sou sincera. — Que mentirosa! Grita uma voz em minha cabeça.
— Você não liga quando falo de outras mulheres?
Meu coração está acelerado. Aperto uma mão na outra. Será que digo a verdade? Será que digo que tenho inveja delas? Que queria saber como é tê-lo para mim. Não. Não posso fazer isso.
— Já estou acostumada. — Dou de ombros. — Você sempre foi assim. Nós sempre conversamos sobre tudo. — Lipe apenas balança a cabeça. Será que essa não era a resposta que queria ouvir? Ai, meu Deus, esse homem vai me deixar louca. Não sei mais o que estou fazendo. Decido devolver a pergunta, quero ver sua resposta. — Quando falo de algum rapaz o que você sente?
O vejo engolir em seco. Espero que isso seja uma coisa boa.
— Eu não sinto nada. — E essa simples resposta faz meu coração se apertar. Claro que não sente nada. Eu esperava o quê? Que ele me dissesse que sente ciúmes? Que não gosta quando menciono outro? — E você nem pega ninguém direito.
— Você vai jogar isso na minha cara de novo? — Emburrada cruzo os braços e me viro para a janela. — Talvez eu mude. Comece a ser como você. Vou aderir ao seu lema de pego e não me apego. — Lipe resmunga algo que não consigo entender. Mas apenas o ignoro. Claro que tudo isso que falei é da boca pra fora. Eu não me vejo levando uma vida como a dele. Eu quero alguém para amar. Alguém que possa entregar meu coração. O carro estaciona e ao tentar abrir a porta não consigo. — Lipe, eu quero descer, estou cansada.
— Desculpa pela brincadeira besta. — Fico encarando a entrada da casa. — Docinho, fala comigo. — Continuo em silêncio. Lipe enrola o dedo indicador em meu cabelo e começa a fazer cachinhos. Ele tem essa mania. — Ana... — Não gosto de ouvi-lo chamar meu nome assim. — Se não falar comigo começarei a fazer piadas ruins. — Me viro pra ele, meus olhos se estreitam. Ele não faria essa tortura psicológica comigo. — Você quem pediu. Lembre-se que eu te amo. — Limpa a garganta. — O que estará escrito na lápide do Papai Noel? — Ele me olha cheio de expectativa. Balanço minha cabeça. Não irei responder. — Ele não está mais em trenós. Por que as plantinhas não falam? Porque elas são mudinhas. De que o diabo morreu? Diabetes. — Estou recebendo um bombardeio de piadas ruins. Elas são tão ruins que estou me segurando para não rir.
— Meu Deus, Felipe, de onde você tira tantas piadas?
— Sorri pra mim? — Ele deita a cabeça em meu ombro.
— Não! — Cruzo meus braços. Por um momento tenho a impressão de estar cheirando meus cabelos. Deve ser coisa da minha cabeça. Ele se afasta.
— Qual a cidade brasileira onde não tem táxis? Uberlândia. — Quase que um sorriso se forma em meu rosto. Tenho que morder os lábios. — Eu vi um sorriso aí. — Seu dedo segura delicadamente meu queixo, puxa levemente para baixo liberando meu lábio.
— Não viu nada. — Tiro sua mão de mim. — Agora me deixe descer. — Seu rosto se aproxima me fazendo prender a respiração. Lipe encosta sua testa na minha.
— Ana. — É a primeira vez que diz meu nome nesse tom. Meu coração parece que vai sair pela boca. Seus olhos estão fixos no meu. — O que é um pontinho vermelho pulando de galho em galho?
— Eu não sei. — Quase que minha voz não sai.
— É um morangotango. — Ele ri de sua piada e não consigo me conter. — Eu consegui. — Ele se afasta e se encosta no banco apoiando as mãos atrás da cabeça. — Eu sempre consigo fazer você sorrir.
— Você é muito convencido, isso sim. — Ele me olha sério. Já sei o que está querendo fazer. Levanto meu dedo indicador. — Nem pense nisso, Felipe Martins, ou irei gritar socorro.
— Ana, Ana. — Ele balança a cabeça. — Não deveria ter me desafiado. Agora sofrerá a consequência.
Me viro para a porta desesperada para sair. Mas ela ainda continua travada. Não consigo nem baixar os vidros. Lipe começa a me fazer cócegas. Bato com as mãos no vidro. Eles são escuros, não dá para ver aqui dentro.
— Alguém me socorre, ele está me torturando — grito. Nossa risada ecoa dentro do carro. — Lipe, já somos adultos. Tem que parar com essa mania — digo em meio ao riso. Batidas na janela nos assustam. Lipe para e a abaixa. Um homem de meia idade nos encara.
— Está tudo bem por aqui?
— Ele não quer me deixar sair — digo baixinho apontando para trás.
— Eu vou chamar a polícia — diz o homem já enfiando a mão no bolso.
— Não! — Lipe diz visivelmente nervoso. — Não é o que está pensando. Ela é minha amiga. Só estávamos conversando.
— Isso é verdade?
Eu olho para Lipe. Ele está branco como um papel. Seu olhar pede desesperadamente para que diga a verdade. Me viro para o homem.
— Muito obrigada por sua ajuda. Mas era só uma brincadeira. Desculpa.
O homem balança a cabeça e sai pisando firme. Me sinto mal por ele.
— Ana, você foi muito má.
Não me viro para Felipe. Continuo a encarar o homem que se distancia.
— Você que começou, agora estou com peso na consciência por causa dele.
Sinto sua mão segurar a minha. Me viro para Felipe.
— Quer que eu conte mais piadas pra ficar feliz novamente? Tenho muitas outras.
Sorrio sem nem ao menos perceber.
— Chega de piadas por hoje.
— Tudo bem. Tem amanhã e depois de amanhã.
Dou um beijo em sua bochecha.
— Até amanhã.
— Até amanhã, docinho. — Ele solta minha mão lentamente.
Entro em casa sorrindo. Me sinto uma boba. Eu senti tanta vontade de beijá-lo quando falou meu nome daquele jeito. Não sei como serão esses dias que passaremos juntos. Mas sei que será muito difícil resistir a essa atração que estou sentindo por Felipe.

***

Estou feliz por poder passar mais tempo com ele, mas também preocupada, pois a cada dia me vejo mais apaixonada. Cada sorriso dele me hipnotiza, e estou sempre lhe fazendo perguntas só para ouvir o som da sua voz. Até quando durmo ele aparece em meus sonhos. E não posso me esquecer dos minutos que passamos juntos dentro do carro quando chegamos em casa. É como se Lipe quisesse ficar mais tempo comigo. Perdi as contas de quantas piadas ruins já me contou durante essa semana. Ele parece mesmo ter um estoque infinito delas. Será que ele as procura na internet e decora só para me contar depois? Não, ele não teria todo esse trabalho só para conseguir alguns minutos a mais comigo naquele carro. Estou inventando coisas.
Hoje já é sexta-feira. E só de pensar que amanhã não irei passar tanto tempo ao seu lado sinto um aperto no peito. Espero que Bia apareça como uma fada madrinha e arrume algum lugar para irmos juntos. Ela quem se encarrega dessa parte, de arrumar lugares incríveis para curtirmos o sábado à noite. Nos fins de semana que não saímos juntos quase não o vejo direito.
Se bem que dois fins de semana atrás ele foi lá para casa para assistirmos a um filme juntos. Eu fiquei nervosa por estar sozinha com ele em casa, e olha que já ficamos tantas vezes só nós dois. Mas agora sinto que tudo é diferente. Eu não estou conseguindo mais controlar meus sentimentos, sufocar e deixar guardado lá no fundinho. Isso está saindo de controle. Quando Lipe me deixa em casa, eu imagino tudo diferente, imagino ele me pedindo para não ir, ou me negando a sair do veículo por me sentir melhor quando estou ao seu lado. O coração tem umas coisas tão loucas.
Ao ver sua mensagem instantaneamente um grande sorriso se forma em meu rosto. É sempre assim quando o assunto é ele. Lipe é como minha própria fonte de felicidade.
Já dentro do carro, Felipe liga o rádio.
A música do Fernando e Sorocaba, “Casal Perfeito”, começa a tocar. Sempre que a ouço, penso em nós; em como seríamos juntos. Lipe me olha por um breve momento, e sinto que nos conectamos nesse olhar. Mas talvez tenha sido só imaginação minha.
Quando ele para em frente a minha casa, eu solto o cinto.
— Quais serão as piadas de hoje?
— Hoje não terá minhas maravilhosas piadas, Ana — diz sério e me pergunto se fiz algo de errado.
— Por quê?
Ele se vira para mim. Sua expressão séria faz meu estômago embrulhar. Tem algo de errado.
— Peça por favor. — Ele ri e todo o meu corpo relaxa.
Dou um tapa em seu braço.
— Você me assustou. Pensei que tinha acontecido algo. Às vezes parece que nem tem 24 anos e sim 13.
Lipe deita a cabeça em meu ombro.
— Mas você gosta de mim do jeito que sou. Gosta não... Você me ama que sei.
Você tem razão, Lipe, eu realmente amo. Mas não do jeito que está pensando. Acho que não devo mais reprimir isso. Nesse momento estou assumindo a mim mesma que amo Felipe, amo como homem e não como amigo.
— Lipe.
— Oi, docinho.
— Eu... — Sinto minhas mãos suarem e meu coração disparar descontroladamente. — Eu quero saber quais são as piadas de hoje. — Me sinto uma covarde. O medo falou mais alto.
— Eu separei três muito boas pra poder encerrar essa semana. Está pronta?
— Sim, mas após ouvir as três darei minha nota. Vai de zero a cinco. Não vale ficar chateado se for zero.
— Tudo bem, eu aguento uma crítica. Lá vai a primeira. Como o Batman e o Robin se conheceram? — Dou de ombros, não faço a mínima. — Em um Bat-papo. Agora a próxima. O que a zebra disse para a mosca? — Gesticulou para que continue. — Você está na minha listra negra. Agora a última. Um caipira vira para o outro e pergunta: “E aí, firme? O outro responde: “Não, hômi, futebor.” — Não consigo resistir a esse sotaque que fez, foi tão fofo. — Por esse sorriso mereço um 10.
— Como se a nota máxima é 5?
— Podemos mudar as regras, Ana. — Lipe coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Seu olhar acompanha o movimento. “Podemos mudar as regras”. Essa frase se repete várias vezes em minha cabeça. — O que acha de irmos à praia amanhã após chegar do trabalho? Ou darmos uma volta de moto?
— Moto?
— Sim, comprei uma e vou pegar amanhã. Você será a primeira a subir na minha garupa. — Balança as sobrancelhas. — Olha que privilégio. Você é uma mulher de sorte, minha garupa é muito disputada.
Eu serei a primeira, mas quantas outras virão depois? Não vou me apegar a isso. Se Lipe quer me levar para dar uma volta eu irei.
— Então amanhã estarei te esperando. Duas buzinadas e saberei que é você. — Beijo sua bochecha. — Boa noite, Lipe.
— Boa noite, docinho, até amanhã.


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