CAPÍTULO 1

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Any Gabrielly sempre temeu seu primeiro dia em uma nova escola. Haviam as coisas
grandes, como conhecer novos amigos, novos professores, memorizar novos corredores. E
haviam as coisas pequenas, como ter um armário novo, o cheiro de um lugar novo, os sons que
ele fazia. Mais do que qualquer coisa, ela temia os olhares. Ela sentia que todos em um lugar
novo sempre a encaravam. Tudo o que ela queria era o anonimato. Mas ele não parecia estar
no seu destino.
Any não conseguia entender por que ela era tão notável. Medindo 1,67 m, ela não era
especialmente alta, e com seus cabelos e olhos castanhos (e peso normal), ela se sentia
comum. Certamente não se sentia bonita, como as outras meninas. Aos 18 anos, ela era um
pouco mais velha, mas não o suficiente para fazê-la se destacar.
Existia alguma outra coisa. Ela tinha algo que fazia as pessoas olharem duas vezes. Ela
sabia, lá no fundo, que era diferente. Mas não sabia exatamente como.
Se havia algo pior do que um primeiro dia, era começar no meio do ano, depois que todos
os outros já haviam tido tempo para se conhecer. Hoje, este primeiro dia, no meio de março,
seria um dos piores. Ela conseguia sentir isso.
No entanto, na sua imaginação, ela nunca pensou que seria tão ruim assim. Nada do que ela
tinha visto—e ela tinha visto muito—a havia preparado para isso.
Any parou na frente da sua nova escola, uma ampla escola pública de Nova York,
naquela manhã gelada de março, e se perguntou, por que eu? Ela vestia pouquíssimas roupas,
apenas um suéter e leggings, e não estava nem remotamente preparada para o caos barulhento
que a saudou. Centenas de jovens estavam lá, chamando, gritando e empurrando uns aos
outros. Parecia o pátio de uma prisão.
Era tudo alto demais. Estes jovens riam alto demais, xingavam demais, empurravam uns
aos outros com força demais. Ela teria pensado que aquilo era uma grande briga se não
conseguisse encontrar alguns sorrisos e risadas de escárnio. Eles apenas tinham energia
demais, e ela, exausta, com frio, sem dormir, não podia entender de onde essa energia vinha.
Ela fechou os olhos e desejou que tudo sumisse.
Ela colocou as mãos nos bolsos e sentiu algo: seu ipod. Sim. Colocou seus fones de ouvido
e ligou o aparelho. Ela precisava abafar tudo aquilo.
Mas nada aconteceu. Ela olhou para baixo e viu que a bateria havia acabado. Ótimo.
Ela checou seu telefone, esperando por alguma distração, qualquer coisa. Nenhuma nova
mensagem.
Ela olhou para cima. Olhando para aquele mar de novos rostos, ela se sentiu sozinha. Não
por ser a única garota branca—na verdade, ela preferia isso. Alguns dos seus melhores
amigos em outras escolas eram negros, hispânicos, asiáticos, indianos—e alguns dos seus
piores inimigos haviam sido brancos. Não, não era isso. Ela se sentia sozinha porque o
ambiente era urbano. Ela estava pisando em concreto. Um sino alto soou para permitir a
entrada dela nesta “área recreativa,” e ela teve que atravessar grandes portões de metal.
Agora, ela estava presa—enjaulada por enormes portões de metal com arame farpado no topo.

Ela se sentiu como se tivesse ido para a prisão.
Olhar para a enorme escola, as barras e grades em todas as janelas, não a fez se sentir
melhor. Ela sempre havia se adaptado à novas escolas facilmente, grandes ou pequenas—mas
todas elas se localizavam nos subúrbios. Aqui, não havia nada além de cidade. Ela sentiu que
não conseguia respirar. Aquilo a apavorava.
Outro sino alto soou e ela foi, com centenas de jovens, arrastando os pés na direção da
entrada. Ela foi empurrada com força por uma garota grande, e deixou seu diário cair. Ela o
juntou (bagunçando seu cabelo), e olhou para cima para ver se a garota iria se desculpar. Mas
ela já havia sumido, tendo seguido em frente com a multidão. Ela ouviu risos, mas não pôde
dizer se eles estavam direcionados à ela.
Ela segurou seu diário, a única coisa que mantinha seus pés no chão. Ele havia estado com
ela em todo o lugar. Ele tinha notas e desenhos de todos os lugares em que ela havia estado.
Ele era um mapa da sua infância.
Ela finalmente chegou à entrada e precisou se espremer para passar por ela. Era como
entrar em um trem durante a hora do rush. Ela esperava que a temperatura estivesse mais
quente quando entrasse, mas as portas abertas atrás dela mantinham uma brisa severa soprando
em suas costas, tornando o frio ainda pior.
Dois grandes guardas de segurança estavam parados na entrada, acompanhados de dois
policiais da cidade de Nova York, em seus uniformes completos, armas visivelmente ao seu
lado.
“CONTINUEM ANDANDO!” comandou um deles.
Ela não conseguia entender por que dois policiais armados precisavam guardar a entrada
de uma escola de ensino médio. A sua sensação de pavor cresceu. A sensação ficou muito pior
quando ela olhou para cima e viu que teria que passar por um detector de metais com
segurança de aeroporto.
Mais quatro policiais armados estavam parados nos dois lados do detector, com mais dois
guardas de segurança.
“ESVAZIEM SEUS BOLSOS!” gritou um guarda.
Any notou os outros jovens enchendo pequenos recipientes de plástico com itens de seus
bolsos. Ela rapidamente fez o mesmo, adicionando o seu ipod, carteira, chaves.
Ela passou pelo detector, e o alarme chiou.
“VOCÊ!” gritou o guarda. “Para o lado!”
Claro.
Todos os garotos olhavam enquanto ela era obrigada a levantar os braços, e o guarda
passava o scanner de mão por todo o seu corpo.
“Você está usando alguma joia?”
Ela passou a mão no pulso, e então no pescoço, e de repente, se lembrou. Sua cruz.
“Tire-a,” gritou o guarda.
Era a gargantilha que a sua avó havia dado a ela antes de morrer, uma pequena cruz de
prata, gravada com uma descrição em latim que ela nunca havia traduzido. Sua avó contou a
ela que a cruz havia sido passada para ela pela sua avó. Any não era religiosa e não
entendia realmente o que aquilo significava, mas ela sabia que a cruz tinha centenas de anos e
era, de longe, a coisa mais valiosa que ela tinha.
“Prefiro não tirar,” ela respondeu.

Transformada-Memorias de um Vampiro Vol 1-ADAPTAÇÃO BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora