CAPÍTULO 3

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Any correu. Seus agressores estavam de volta, e a perseguiam pelo beco. Uma rua
sem saída estava em sua frente, um enorme muro, mas ela correu de qualquer jeito, direto
naquela direção. Conforme corria, ela ganhou velocidade, uma velocidade impossível, e os
prédios passaram por ela como um borrão. Ela conseguia sentir o vento em seu cabelo.
Quando chegou mais perto, ela pulou e, em um único salto, estava no topo do muro, a
nove metros de altura. Mais um salto, e ela voou pelo ar novamente, nove metros, seis
metros, caindo no concreto sem perder o ritmo, ainda correndo, correndo. Ela se sentiu
poderosa, invencível. Sua velocidade aumentava mais e mais, e ela sentiu que podia voar.
Ela olhou para baixo e, diante dos seus olhos, o concreto virou grama—grama alta,
verde e balançando. Ela correu por uma campina, o sol brilhando, e reconheceu o lugar
como a casa de sua primeira infância.
Na distância, ela podia sentir que seu pai estava lá, de pé, no horizonte. Enquanto
corria, ela sentia que estava chegando mais perto dele. A imagem dele começou a ficar
mais clara. Ele estava lá, com um sorriso largo e os braços abertos.
Ela ansiava por vê-lo novamente. Ela correu o máximo que pode. Mas sempre que
chegava mais perto, ele se distanciava.
De repente, ela estava caindo.
Uma grande porta medieval se abriu, e ela entrou em uma igreja. Ela caminhou pelo
corredor pouco iluminado, tochas queimando em ambos os lados. Na frente de um altar,
estava um homem de costas para ela, ajoelhado. Quando ela chegou mais perto, ele se
levantou e se virou.
Era um padre. Ele olhou para ela, e seu rosto se encheu de medo. Ela sentiu seu sangue
correndo em suas veias, e viu a si mesma se aproximar dele, sem poder parar. Ele levantou
uma cruz, com medo.
Ela se lançou sobre ele. Ela sentiu seus dentes ficarem longos, longos demais, e assistiu
enquanto eles perfuravam o pescoço do padre.
Ele gritou, mas ela não se importou. Ela sentiu o sangue dele correr pelos seus dentes e
para dentro de suas veias, e aquela foi a sensação mais incrível da sua vida.
Any se sentou na cama, ofegante. Ela olhou ao seu redor, desorientada. A forte luz do sol
entrava.
Finalmente, ela percebeu que estava sonhando. Ela secou o suor frio da testa e sentou na
beira na cama.
Silêncio. Julgando pela luz, Sam e a mãe dela já deviam ter saído. Ela olhou para o relógio
e viu que realmente era tarde: 8h15. Ela iria se atrasar para o seu segundo dia de aula.
Perfeito.
Ela estava surpresa por Sam não tê-la acordado. Todos aqueles anos, ele nunca a havia
deixado dormir demais—ele sempre a acordava se estivesse saindo antes.
Ele ainda deve estar bravo com o que aconteceu ontem à noite.
Ela olhou para o seu telefone: sem bateria. Ela havia esquecido de carregá-lo. Não havia
problema. Ela não estava a fim de conversar com ninguém.

Ela vestiu algumas roupas do chão e passou a mão no cabelo. Normalmente, ela saía sem
comer nada, mas nessa manhã, ela sentiu sede. Ela foi até o refrigerador e pegou uma garrafa
de 2 litros de suco de grapefruit. Em um frenesi repentino, ela arrancou a tampa e bebeu o
suco direto da garrafa. Ela não parou de beber até que tivesse tomado os 2 litros inteiros.
Ela olhou para a garrafa vazia. Ela realmente tinha acabado de beber tudo aquilo? Em toda
a sua vida, ela nunca havia bebido mais do que meio copo. Ela viu a si mesma pegar e
amassar a garrafa com uma única mão, até formar uma pequena bola. Ela não conseguia
entender o que era aquela nova força que corria em suas veias. Era excitante. E apavorante.
Ela ainda estava com sede. E com fome. Mas não de comida. Suas veias pediam algo mais,
mas ela não conseguia entender o quê.
*
Era estranho ver os corredores da sua escola tão vazios, o completo oposto do dia anterior.
Com as aulas em andamento, não havia ninguém por perto. Ela olhou para o relógio: 8h40.
Faltavam 15 minutos para a sua terceira aula do dia. Ela se perguntou se valia à pena ir à aula,
mas afinal, ela não conhecia nenhum outro lugar para ir. Então, ela seguiu os números dos
corredores até a sua sala.
Ela parou do lado de fora da sala de aula, e podia ouvir a voz da professora. Ela hesitou.
Ela odiava interromper, ficar tão visível. Mas ela não via nenhuma outra opção.
Ela respirou fundo e girou a maçaneta de metal.
Ela entrou, e a turma inteira parou e olhou para ela. Inclusive a professora.
Silêncio.
“Srta. ...” A professora, esquecendo o nome dela, foi até a sua mesa e pegou um pedaço de
papel, examinando-o, “... Gabrielly. A nova aluna. Você está 25 minutos atrasada.”
Uma austera mulher mais velha, a professora olhou para Any.
“O que você tem a dizer sobre isso?”
Any hesitou.
“Desculpe?”
“Isso não é o suficiente. Chegar atrasada na aula pode ser algo aceitável de onde você vem,
mas certamente não é aceitável aqui.”
“Inaceitável,” Any disse, e imediatamente se arrependeu.
Um silêncio desconfortável cobriu a sala.
“Como é?” a professora perguntou, lentamente.
“Você disse ‘não é aceitável.’ Você quis dizer ‘inaceitável.’”
“OH—MERDA!” exclamou um garoto barulhento do fundo da sala, e a turma inteira
explodiu em risos.
O rosto da professora ficou um vermelho vivo.
“Sua fedelha. Vá para a sala do diretor agora mesmo!”
A professora foi até a porta e a abriu para Any. Ela ficou à alguns centímetros de
distância, perto o suficiente para que Any conseguisse sentir o cheiro do seu perfume
barato. “Fora da minha sala!”
Normalmente, Any teria saído silenciosamente da sala, cabisbaixa—na verdade, ela
nunca teria corrigido um professor. Mas algo havia mudado dentro dela, algo que ela não
entendia muito bem, e ela sentiu uma rebeldia crescendo. Ela não sentia que precisava mostrar
respeito por ninguém. E ela não sentia mais medo.

Transformada-Memorias de um Vampiro Vol 1-ADAPTAÇÃO BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora