Capítulo 2

9 3 0
                                    

Any ficou parada na frente da porta de seu novo apartamento, e de repente, percebeu
onde estava. Ela não tinha ideia de como havia chegado ali. A última coisa de que se
lembrava era de ter estado no beco. De alguma forma, ela havia chegado em casa.
No entanto, ela lembrava de cada segundo do que aconteceu naquele beco. Ela tentou
apagar aquilo da mente, mas não conseguiu. Ela olhou para seus braços e mãos, esperando que
eles estivessem diferentes—mas eles estavam normais. Exatamente como sempre foram. A
raiva que havia tomado conta dela, que a transformou, havia sumido tão rápido quanto chegou.
Mas os efeitos dela permaneciam: um deles era um sentimento de estar oca. Dormente. E
ela sentiu algo mais. Ela não conseguia entender o que era. Imagens continuavam surgindo em
sua mente, imagens dos pescoços expostos daqueles garotos. Do coração deles pulsando. E
ela sentiu uma fome. Um desejo.
Any realmente não queria voltar para casa. Ela não queria ter que lidar com a mãe,
especialmente hoje, não queria ter que lidar com uma casa nova, desempacotar suas coisas. Se
não fosse pelo fato de Sam estar lá, ela poderia simplesmente dar meia volta e ir embora. Para
onde iria, ela não tinha a mínima ideia—mas, pelo menos, ela estaria caminhando.
Ela respirou fundo e colocou a mão na maçaneta. Ou a maçaneta estava quente, ou a mão
dela estava fria como gelo.
Any entrou no apartamento muito iluminado. Ela conseguiu sentir o cheiro de comida no
fogão—ou provavelmente, no micro-ondas. Sam. Ele sempre chegava em casa cedo e fazia seu
próprio jantar. Sua mãe não chegaria até mais tarde.
“Parece que não foi um bom primeiro dia.”
Any se virou, chocada ao ouvir o som da voz de sua mãe. Ela estava sentada lá, no sofá,
fumando um cigarro, olhando para Any com desprezo.
“O que você fez, já estragou esse suéter?”
Any olhou para baixo e percebeu pela primeira vez as manchas de sujeira;
provavelmente por cair no cimento.
“Por que você está em casa tão cedo?” Any perguntou.
“Primeiro dia para mim também, não é?” ela retrucou. “Você não é a única. O chefe me
mandou para casa mais cedo.”
Any não podia aguentar o tom desagradável de sua mãe. Ela sempre agia de maneira
arrogante com ela, e hoje, Any já estava cansada daquilo. Ela decidiu dar à mãe um pouco
do seu próprio veneno.
“Ótimo,” Any respondeu rispidamente. “Isso quer dizer que nós vamos nos mudar de
novo?”
Sua mãe se levantou de repente. “Veja lá como fala!” ela gritou.
Any sabia que a mãe estava apenas esperando por uma desculpa para gritar com ela. Ela
decidiu que era melhor jogar a isca e acabar logo com aquilo.
“Você não devia fumar perto do Sam,” Any respondeu friamente, depois entrou em seu
quarto minúsculo e bateu a porta, trancando-a.
Imediatamente, sua mãe bateu na porta.
“Saia daí, sua pirralha! Isso é jeito de falar com a sua mãe!? Sou eu quem coloca comida na sua mesa…”

Naquela noite, Any, distraída, conseguiu abafar a voz da mãe. Em vez disso, ela ficou
relembrando os eventos do dia. O som da risada daqueles garotos. O som do seu próprio
coração batendo em seus ouvidos. O som do seu próprio rugido.
O que, exatamente, havia acontecido? Como ela havia conseguido tanta força? Foi apenas
uma descarga de adrenalina? Uma parte dela desejou que fosse. Mas outra parte dela sabia
que não era. O que era ela?
As batidas em sua porta continuaram, mas Any mal as ouvia. Seu telefone celular estava
em sua mesa, vibrando como louco, acendendo com mensagens instantâneas, SMS, e-mails,
conversas do Facebook—mas ela mal ouvia aquilo também.
Ela foi até a sua pequena janela e olhou para baixo, para a esquina da avenida Amsterdam,
e um novo som chegou até a sua mente. Era o som da voz de Noah. A imagem do seu sorriso.
Uma voz baixa, forte, suave. Ela se lembrou de quão delicado ele era, quão frágil ele parecia.
Então, ela o viu caído no chão, ensanguentado, seu precioso instrumento em pedaços. Uma
nova onda de raiva cresceu.
A sua raiva se transformou em preocupação—preocupação em saber se ele estava bem, se
ele conseguiu caminhar, se chegou em casa. Ela o imaginou chamando por ela. Any. Any.
“Any?”
Uma nova voz estava do outro lado da porta. Uma voz de menino.
Confusa, ela voltou à realidade.
“É Sam. Me deixe entrar.”
Ela foi até a porta e inclinou a cabeça contra ela.
“Mamãe saiu,” disse a voz do outro lado. “Ela foi comprar cigarros. Vamos, me deixe
entrar.”
Ela abriu a porta.
Sam ficou parado ali, olhando para ela, com preocupação no rosto. Aos 15 anos, ele
parecia mais velho. Ele havia crescido rápido, e media quase um 1,80 m, mas ainda não havia
se desenvolvido, e era desajeitado e desengonçado. Com cabelos pretos e olhos castanhos, a
coloração dele era parecida com a dela. Eles definitivamente pareciam ser parentes. Ela
podia ver a preocupação no rosto dele. Ele a amava mais do que qualquer coisa.
Ela o deixou entrar, fechando a porta rapidamente.
“Desculpe,” ela disse. “Eu só não consigo lidar com ela hoje.”
“O que aconteceu entre vocês duas?”
“O mesmo de sempre. Ela estava no meu pé desde o momento em que entrei em casa.”
“Eu acho que ela teve um dia difícil,” Sam disse, tentando apaziguar as coisas entre elas,
como sempre. “Eu espero que eles não a despeçam novamente.”
“Quem se importa? Nova York, Arizona, Texas…Quem se importa com o que virá? As
nossas mudanças nunca vão acabar.”
Sam franziu a testa quando sentou na cadeira da sua mesa, e ela se sentiu mal
imediatamente. Às vezes, ela era áspera com as palavras, falava sem pensar, e desejou que
pudesse retirar o que havia dito.
“Como foi o seu primeiro dia?” ela perguntou, tentando mudar de assunto.
Ele encolheu os ombros. “Foi bom, eu acho.” Ele tocou a cadeira com o pé.
Ele olhou para ela. “E o seu?”

Transformada-Memorias de um Vampiro Vol 1-ADAPTAÇÃO BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora