02- Otávio

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  Quando jovens éramos imaturos e inconsequentes. Gostávamos de pensar e agir como se o mundo fosse nosso e não devêssemos respeito à nada e nem ninguém. Nem nossos pais, professores ou amigos mais próximos poderiam dizer o que podíamos ou não fazer.
Vivíamos no imaginário, ele era um psíquico capaz de se comunicar com o mundo dos mortos e eu, filha do senhor das trevas, sua ponte entre os dois mundos. E gostávamos de levar a vida assim, nessa fantasia.

Eu havia emergido das profundezas do submundo para atormentar algumas almas fracas, desesperadas,depressivas e então o achei, prestes a se jogar do prédio mais alto. Ele era jovem, de olhos claros, cabelos escuros e em ótima forma. Me aproximei, sentindo sua angústia, a culpa pela morte da irmã mais nova. Era a vítima perfeita, mas...eu não conseguia hipnotiza-lo...eu estava apaixonada por um humano.
Percebi que ele havia me notado, mesmo eu não querendo aparecer para ele. O rapaz sentia minha presença...um psíquico. Eu estava atraída por um humano que podia me ver, mesmo que eu não quisesse.

O tempo se passou...eu não podia enganá-lo e dar sua alma ao meu pai...Então fiz diferente...deixei ele me usar para ver sua irmã.
Psíquicos são os únicos capazes de ir ao submundo sem serem notados. Se eu o levasse, meu pai sentiria, mas se ele fizesse o ritual, oferecendo outra alma, poderia entrar e ver sua irmã.

O ritual consistia em atormentar almas vagantes, até as deixarmos furiosas e assim ele as dominava e enviava para o submundo, com sua mente naquela alma.

Como atormentavamos aquelas almas? Simples...éramos jovens com hormônios fervendo em nossos corpos. Invadiamos o cemitério durante a noite e transávamos sobre algum túmulo. A alma se irritava e ele aproveitava essa brecha de descontrole, para possui-la e então eu a mandava para o submundo,onde ele vagava em busca de sua irmã.

Claro, era só uma brincadeira, um jeito de deixar o sexo no cemitério algo mais interessante, então ele nunca encontrava a irmã dele e nós tínhamos que repetir o ritual todo final de semana.

Era divertido, nós gostávamos de agir assim...mas o Otávio mudou. Ele começou a dizer que não queria mais ir ao cemitério, que estávamos incomodando, que não era certo.
Depois ele simplesmente se afastou de mim, começou a beber, usar drogas e então mudou de cidade, sem me dizer nada.

Adeus- livro 4:  Noiva De DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora