Capítulo Um

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— Você vai mesmo voltar para aquele buraco, Nic? — Minha mãe desdenha — Você acha que eles vão aceitar bem uma bixa lá?

— Ninguém tem que opinar na minha vida — Uso o mesmo tom — Você se diz evoluída por ser da cidade mas não aceitou que eu sou gay, você acha que vou me importar com o que eles dizem? 

— Claro que eu te aceitei! Você é meu filho, só acho que não deveria ser tão escandaloso.

— Se me aceitasse saberia que eu sou assim! — Minha voz sobe um tom — Inferno! Vou perder o vôo.

      Termino de arrumar a minha mala, enquanto minha mãe grita coisa sobre "eu agir como homem" e "estou indo para o meu pai para fugir de problemas" eu chamo o uber. Sair daqui já vai tirar um peso da minhas costas, mas o segundo problema começa em: meu pai não sabe que sou gay. Podem ocorrer duas possibilidade, a primeira é meu pai me aceitar como eu sou e seguir a vida e a segunda é ele ser como minha mãe; Deus queira que seja a primeira opção.

      Entrei no carro e segui para o aeroporto, meu coração pesa em deixar minha mãe, mesmo com todos seus defeitos ela nunca me deixou faltar nada, mas agora é uma nova etapa na minha vida.

— Obrigado, moço — Agradeço ao motorista e desço do carro, corro para fazer o check in. algum tempo depois eu já estava dentro do avião, embora a ansiedade me dominasse eu tentei transparecer calma. 

       Não tenho certeza se estou tomando a decisão certa, talvez eu esteja cavando o túmulo da minha autoestima mas eu também posso estar correndo para a liberdade me acolher, o futuro é tão incerto e isso me assusta, definitivamente me assusta.

—  Senhores passageiros... —  A voz robótica iniciou e eu me forcei a relaxar na cadeira, distrair a mente nessas horas não é uma tarefa fácil.

      Me forcei a fechar os olhos até que o avião decolasse, algum tempo depois, a comissária de bordo passou com um carrinho com lanches, como eu estava enjoado preferi não pegar nada.

     Cerca de uma hora e meia depois eu já estava em solo, respirando ar puro e iniciando um novo capítulo na minha vida.

     Chamei um Uber do aeroporto Marechal Rondon para área rural do mato grosso. Quando adentrei o carro simples, a viagem foi silenciosa, de certa forma reconfortante.

— Muito obrigado — Agradeço ao motorista quando desço do carro.

— Que ajuda com a mala?

— Por favor! — Sorri. Peguei duas malas grandes e o motorista duas malas grandes, ainda faltavam mais duas malas de pano. O resto das minha coisas minha mãe me mandará em alguns dias (é o que eu espero pelo menos).

— Novamente, muito obrigado — Agradeço ao motorista que deixou tudo ao meu pé, frente porteira principal. O motorista andou alguns metros até chegar ao seu carro, por fim deu partida em seu veículo e saiu.

      Não vi ninguém perto da propriedade para abrir a portões de madeira então liguei para o meu pai.

— Alô?

Filho? Já está no aeroporto?

— Estou aqui no portão

Ok, o Pedro já vai pra te ajudar.

      Cerca de minutos um cavalo marrom de cristas longas aparece ao fundo, sobre ele um brutamontes de músculos e gordura, chapéu de cowboy e feição brava.

Nossa senhora, Pedro — Sussurrei para mim mesmo.

— Bom dia, seu Nicolas — O homem desce do cavalo com firmeza e me mede cima a baixo.

NASCIDO DA MATA (PREVIEW)Onde histórias criam vida. Descubra agora