II. A decisão

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II. A decisão

"O dia em que você decide fazer algo, esse é seu dia de sorte."

— Provérbio Japonês


Draco acordou totalmente convencido de que alguém o havia transfigurado em um caracol. Sua bochecha estava colada a uma superfície áspera e fria e algo pegajoso o impediu de abrir o olho. Os pensamentos idiotas foram rapidamente substituídos por uma dor de cabeça e Draco sibilou e ergueu o tronco, apoiando-se no cotovelo esquerdo. Uma dor aguda atingiu sua têmpora e ele fechou os olhos para protegê-los do clarão que assaltava sua vista. No entanto, assim que os abriu e sua visão desanuviou, percebeu que não estava nada brilhante. Estava escuro e frio e embora Draco não fizesse ideia de onde diabos estava, ele sabia que não estava deitado na segurança de sua cama quente. Em vez disso, estava esparramado de bruços em cima de galhos e folhas decompostas.

Ele olhou em volta e desejou que não tivesse feito. Aparentemente, estava preso em um daqueles pesadelos em que se perdia no meio do nada e seus membros se recusavam a carregá-lo, mesmo sabendo que o perigo estava por vir.

Uma rajada de vento lançou flocos de neve em seu rosto e Draco torceu a expressão em uma careta e enxugou a bochecha, tirando no processo um galhinho que estava grudado em sua pele. As pontas de seus dedos tocaram sua têmpora e Draco estremeceu de dor. Sua respiração condensada ficou suspensa no ar quando ele viu o sangue em seus dedos. Inquieto, ele rolou de costas. Seu braço direito tinha ficado comprimido embaixo de seu corpo e agora latejava em protesto. Galhos grossos de árvores assomavam bem acima de sua cabeça; eles pareciam nus e ameaçadores, revelando pequenas manchas de céu cinza de inverno e permitindo que a neve caísse pelas frestas. Suas mãos estavam congeladas e dormentes, mas podia sentir os dedos da mão direita segurando algo grosso e sólido. Com um esforço supremo, ele se sentou. Quando inclinou a cabeça para frente, a dor que sentiu na nuca fez seus olhos lacrimejarem. Afastando o cabelo úmido que havia caído em seus olhos, Draco piscou algumas vezes e então focou seu olhar em um graveto quebrado que ele segurava com força. Só que não era um graveto. Era sua varinha.

A mente de Draco clareou em um instante. Ele não estava tendo um pesadelo; isso não era um sonho. Poderia confundir um sonho com a realidade, mas confundir a realidade com um sonho era impossível; talvez, se estivesse bêbado, pudesse achar que fosse um sonho, mas nunca se sentiu mais sóbrio. A frieza do ambiente e a dor em seu corpo eram muito duras e reais. Ele estava no meio da floresta, meio congelado, ferido e desarmado. Era uma realidade fria e bruta, embora não fizesse absolutamente nenhum sentido, já que a última coisa de que se lembrava era de estar deitado em sua cama pensando na excursão de amanhã à Floresta Proibida. E agora de repente ele estava lá. Como isso tinha acontecido?

Draco olhou para sua capa de inverno forrada de pele, seu cachecol verde grosso e suas botas quentes. Sua teoria ainda não totalmente formada de um possível sequestro se dissipou. Ele definitivamente havia perdido um certo período tempo; não conseguia se lembrar de ter se vestido. Ocorreu-lhe que não tinha luvas, o que era estranho, porque ninguém em pleno juízo sairia sem luvas naquele tempo; no entanto, Draco rapidamente as encontrou em seu bolso. Balançando a cabeça em descrença, ele guardou sua varinha quebrada e vestiu as luvas. Uma única pena azul caiu lentamente no chão. Aparentemente, tinha estado presa em sua luva. Com a respiração acelerada, Draco enfiou a mão no bolso e encontrou ainda mais penas azuis brilhantes.

Ele as olhou, certo de que havia perdido a cabeça. Já era amanhã? Eles já haviam partido para a excursão? Mas então onde estavam os outros? E por que não conseguia se lembrar de nada?

Draco Malfoy, It's Your Lucky Day » drarryOnde histórias criam vida. Descubra agora