3 𝚍𝚎 𝙹𝚞𝚕𝚑𝚘

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You look as good as the day I met you
I forget just why I left you, I was insane
Stay and play that blink-182 song
That we beat to death in Tucson, okay?

ℰ𝓁𝒶𝒾𝓃ℯ _

Trinta minutos. Era o tempo que estávamos trancados naquele carro no meio de um engarrafamento graças a um acidente, que trancou as duas vias.

Claro, fiquei desconfortável ali, em silêncio total, evitando até olhar na direção dele. Mas então, me veio a cabeça a idéia de conversar com ele, já que estava sendo gentil,mesmo que por pena. Enchi meu peito de ar e virei minha cabeça na direção dele. Abri a boca, mas não consegui pensar em nada, porque a simples visão dele com os dedos acariciando o queixo, fazendo o tipo pensativo, me deixou atordoada.

-Então, vamos brincar ? - ele pergunta sem olhar para mim mantendo a pose.

-Não vou transar com você - cruzo os braços mal humorada.

-Senhor me ajuda ! - ele respira fundo e deita a testa no volante - não quero fazer isso !

-Então quer o que ? - pergunto sentindo minhas bochechas queimarem.

-Vinte perguntas sem mentir ! - ele olha para mim e começa a rir, então acho que ele percebeu minha vergonha.

-Ta ...começa - respirei fundo abaixando a cabeça.

-Seu irmão .. - ele começou a dizer mas eu intervi instantâneamente.

-Não pode ser sobre ele, sobre ninguém da minha família - continuo olhando para os meus pés.

-Cor favorita? - meu espanto foi visível, já que eu achei que ele ia insistir ou perguntar porquê.

-Branco - respondi e ele estourou em risos.

-Tá de sacanagem ... Quem gosta de branco ? - sua mão esquerda vai para a cabeça,e seus dedos se abrem entrando no cabelo de um jeito charmoso.

-Eu ! Tá minha vez - me ajeito no banco.

-Mùsica favorita ? - seus olhos encontram os meus por uns míseros segundos, antes dele virar para outra direção.

-Closer, não me pergunte porquê - seu sorriso me contagiou - você devia fazer isso mais vezes, fica linda sorrindo.

-Idiota - murmurei dando de ombros.

-Ta, tem namorado ou pratica esportes ? - acabo franzindo as sobrancelhas sem querer.

-Namorar é perda de tempo, mas também não sou como você que pega uma e outra - resmungo cruzando os braços - e eu odeio esportes.

-Pra sua informação, eu sou noivo - ele parecia levemente chateado.

-Ta desculpa ... E chega de perguntas.

Fiquei em silêncio, e ele também. O trânsito começou a se diluir aos poucos, e logo estávamos andando novamente. Evitamos falar ou olhar um para o outro ao longo do percurso.

Quando finalmente paramos na entrada da clínica, engoli em seco, e abri a porta do carro.

-Obrigada ... Por me trazer aqui - digo suspirando pesadamente.

-Ei, eu posso ficar e levar vocês - ele segura minha mão, mas eu puxo de volta com o rosto quente.

-Não precisa, meu irmão é meio, agressivo - ponho meus pés para fora do carro - você já fez muito me trazendo aqui.

-Elaine ! Pega - ele oferece um cartão preto com letras prata em floreio.

-Acho que não preciso de um contador - murmuro quase fechando a porta do carro.

-Me liga se precisar, por favor - faço que sim com a cabeça e dou as costas para ele andando para dentro da clínica.

As enfermeiras já me conheciam, devido a quantidade de vezes que estive lá. Fui até a recepção e peguei minha identificação para poder entrar. Segui pelos corredores brancos e estreitos, até chegar as grades de ferro que foram abertas revelando o jardim com todos os internos e suas visitas curtindo o sol.

-Nani - King me avistou e deu com a mão.

-Oi meu amor - beijo o topo da sua cabeça assim que me aproximo.

-Você demorou, já estava voltando pro quarto - ele cruza os braços emburrado.

-Engarrafamento, teve um acidente e ... - começo a explicar, mas ele me interrompe.

-Ta ... Só quero os bolinhos - ele me olha animado procurando por alguma mochila.

Diane a minha amiga de trabalho uma vez teve contato com o King, antes de outra recaída. Eles se tornaram grandes amigos, e desde então,ela manda bolinhos feitos por ela para serem entregues a cada vez que eu vou vê-lo.

-Não trouxe, deixa pra comer em casa - abri um largo sorriso.

-Ah mentira ! - ele correu até mim e me abraçou forte me tirando do chão.

-Vai arrumar suas coisas ! - observo King correr e só quando o vejo desaparecer relaxo os ombros.

Vou ter que ir a recepção e tentar algum acordo para pagar em parcelas a mensalidade daqui. Durante todo esse tempo venho mentindo para ele, dizendo que pago a clínica com a pensão deixada pelos nossos pais. Não tive coragem de dizer que tô trabalhando e que tô com dúvidas até o pescoço quase perdendo nossa casa para pagar o tratamento.

Pensei tanto, que acordei dos meus devaneios na central da recepção. Anne, a moça que vem parcelando minha dívida olhou para mim e sorriu.

-Tenho que te pedir mais um favor - digo e ela me entrega um bilhete.

-O que ? - olho curiosa para ela.

-Seu namorado já pagou as parcelas restantes, mas primeiro fez um monte de perguntas - ela riu meio sem graça e eu abri o bilhete.

De nada ...

O amassei furiosa. Como ele se atreve a achar que eu queria o dinheiro dele ? Tudo bem que com o dinheiro que era para a clínica agora vou pagar dois alugueis atrasados, mas eu não dei a ele o direito de se meter !

-Vamo mana ? - King me olhou preocupado.

Se ele acha que vai me comprar tá muito enganado. Vou trabalhar duro, e devolver cada centavo desse idiota.

-Vamos, a Diane deve estar esperando - envolvi meus braços em seu pescoço.

-Ah tá brincando. . - King segura minhas pernas e me segue carregando nas costas.

A raiva aos poucos foi se diluindo. Comecei a fazer as contas, e com o que sobrar posso até comprar umas besteiras e fazer uma noite do pijama com o King e a Diane. Acho que esse dinheiro veio em ótima hora, só não gostei dele fuçando minha vida.

Quando chegamos em casa. King pegou Diane no colo que para minha surpresa enrolou as pernas na cintura dele e o beijou. Meu queixo foi ao chão. Não dava pra acreditar no que meus olhos viram.

Decidi deixar o jovem casal na sala conversando e fui levar as malas dele para o quarto. Mandei mensagem para o proprietário, Sr. Zeldris informando o pagamento, e finalmente sentei na cama respirando aliviada.

-Nani ... Eu trouxe um dinheiro pra te ajudar ... Com a clínica - Diane entra apreensiva.

-E o King ? - pergunto olhando para ela.

-Ta no banheiro - ele da de ombros.

-Não precisa, a conta já foi quitada - ri cruzando os braços.

-Como você conseguiu ? Deu pro diretor ! - as mãos de Diane tapavam sua boca exasperada.

-Um cara pagou, e eu não transei com ele - revirei os olhos cansada.

-Ah não ... Conta tudo !

𝒜𝑚𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑟𝑎𝑜Onde histórias criam vida. Descubra agora