Usurpadores - Parte 1

Capítulo 3 - Insuportavelmente Mimada

Às 5 da manhã, Boromir levantou-se de sua cama, arrumou-a, e foi ao banheiro. Tomou aquele banho trincando de gelado, acordaria mais rápido assim. Poderia até ser um jovem meio bruto e mal encarado, mas com a quantidade de banhos que tomava por dia, jamais seria chamado de fedido.

Às 5:30, foi até a precária cozinha que havia no local. Tomou dois copos de uma água de coloração duvidosa, e também mexeu 2 ovos com uma quantidade generosa de banha de porco. Era um jovem parrudo, precisaria de toda a energia daquela gordura.

Boromir sonhava com os pães que sua mãe fazia para o café da manhã, na humilde casinha em que vivia quando criança. Entretanto, não sabia fazê-los com maestria. E mesmo que quisesse fazê-los, seus "companheiros" se incomodavam com o gasto de suprimentos, tentando minimalizar o máximo possível a alimentação de todos, apesar de cada um ter suas próprias necessidades corporais.

Aproximadamente 6 da manhã, o sol mostrava-se bem presente no céu de poucas nuvens, o que ajudava no fornecimento de energia daquela base subterrânea. Naquele mesmo horário, o alarme tocou por toda a base, acordando os "dorminhocos" restantes. Havia uma espécie de horário para acordar e também um "toque de recolher".

Às 6:30, Penny fez um comunicado de que teriam uma breve comemoração naquela noite. Jessie estava completando 16 anos. Uma refeição um pouco mais generosa seria feita para comemorar a festividade, e ela gostaria que todos se reunissem.

Jessie não concordava bem com a afirmação de que "todos se reunissem". Apesar de não ser tão tímida, não queria forçar uma certa intimidade com pessoas que não gostava de conviver. Ainda assim, algumas poucas pessoas naquele local queriam agradá-la naquele dia, mesmo com todas as dificuldades propostas naquele período.

Apesar de querer treinar sozinho naquele dia, Boromir se encaminhou para a arena de treinamento errada. Era uma arena em equipe. Junto a seu "time", estava sua irmã, e o garoto que ela tanto conversava desde que tinha posto os pés naquele local.

Benedita olhava para aquele jovem com um certo brilho nos olhos, como se fosse uma criança olhando chocolates em uma vitrine. De fato, ele era escuro como um chocolate ao leite. Tinha os cabelos um pouco maiores que o convencional para um menino, eram também escuros e bem ondulados. Seus olhos eram castanhos com um fundo esverdeado. Benedita achava-o lindo, entretanto, Boromir o via como "afeminado".

Durante o treinamento, Boromir analisou o físico e o proceder daquele jovem. Era magrinho, não era muito forte, nem muito alto, dispondo de 1,67 de altura, bem mediano. Entretanto, justamente por ser leve, era bem ágil; e apesar de ser magro, tinha as pernas definidas, especialmente as panturrilhas

Naquele treino, Boromir tinha sido extremamente necessário. Digamos que ele tenha "carregado" Benedita e seu "novo amiguinho" nas costas. Benedita não pensava muito, e por isso acatava as ordens dos outros; e o garoto não tinha criado uma estratégia favorável ao time. Em um combate verdadeiro, ele e Benedita correriam sérios riscos.

Antes de ir para outra arena, levando Benedita consigo, o jovem lembrou-se de cumprimentar Boromir. Ele se chamava Leon e tinha 17 anos. Ele também tinha uma irmã, Nita, de 16 anos, que estava na mesma base que eles. Diferente de Boromir e sua irmã, os dois tinham família, mas estavam em expedições em busca de suprimentos.

Após a breve formalidade, Leon virou-se para Benedita e pôs-se a falar com ela, como se Boromir nem mesmo estivesse ali. Aproveitando essa distração, ele foi até a arena de combate duplo. Tinha ido até lá de propósito, sabendo que Jessie se encontrava lá.

Propositalmente, ele foi cumprimentar Jessie, e acabou sendo seu aliado naquele treinamento, mesmo que ela não o quisesse por perto. Os preparativos tinham ocorrido muito rápido. Ainda assim, Jessie tinha se aproveitado da distração dos outros para pegar uma carga extra de tinta, já que não poderiam usar munições de verdade nos treinamentos por questões óbvias de segurança.

Assim que o treinamento começou, Jessie abriu sua bolsa e preparou o resto dos equipamentos. Ela tinha inventado algo que poderia ajudá-los, como um aliado extra. Entretanto, era cedo demais para se distrair com aquilo.

De trás dos arbustos falsos, surgiu Nakoma, a irmã de Leon. Ela era uma adversária difícil de lidar, por ser muito persistente numa luta corpo a corpo. Apesar de ser pequena, apenas um pouco maior que Jessie, Nita tinha pernas compridas e grossas, fazendo com que um chute pudesse ser fatal nas áreas vitais.

Contudo, o que Nita não contava, era que Boromir e Jessie eram uma dupla perfeita. Ele era ótimo em luta livre, e ela tinha uma ótima mira em vários tipos de armas. Bastaram 2 tiros para Nakoma se afastar completamente. Caso tomasse mais 2 tiros, seria eliminada da arena.

Boromir e Jessie continuaram caminhando, até encontrar o centro da arena, que era muito decisivo dependendo da estratégia utilizada. De qualquer forma, uma hora ou outra eles iriam parar ali. Para que o treinamento não se tornasse "infinito", a arena se fechava com o passar dos minutos. Isso era necessário para que as duplas não ficassem "fugindo" uma da outra quando sobrassem apenas duas duplas. Quanto menor a arena, mais rápido a partida terminava.

Após perceber que duas duplas haviam sido eliminadas; ou seja, que restavam apenas três duplas, Jessie retirou de sua bolsa uma espécie de robô, e o colocou bem no meio da arena.

Boromir _ O que é isso?

Jessie _ É uma torreta. Ela tem um sensor, todos que se aproximam dela vão levar tiros continuamente.

Boromir _ E tem alguma possibilidade dela atirar em nós?

Jessie _ Em mim não, ela tem reconhecimento facial. Mas acho melhor você não chegar perto. Ela também não vai com a sua cara.

Boromir _ Verdade, só você gosta de mim, né?

Jessie fez novamente as suas típicas caretas. Não gostaria de dar o braço a torcer para o fato de que Boromir não era assim tão ruim quanto parecia no primeiro dia. Mesmo que não percebesse e dando "tiros no escuro", Boromir estava conquistando aos poucos a simpatia dela.

De fato, a torreta de Jessie tinha sido decisiva para o treinamento. Ao fechar da arena, as outras duplas se aproximaram da torreta, e levaram tiros contínuos tanto dela quanto de Jessie e Boromir. Era justamente para aquilo que Jessie estava na pequena biblioteca, pesquisando sobre as peças necessárias para a torreta.

Jessie _ Bem, eu não sei você, mas eu vou tomar um banho quente, deitar na cama e apagar até quando Deus quiser me acordar.

Boromir _ Não vai aproveitar seu aniversário?

Jessie _ Já tem uma "festa" de noite, não preciso de mais do que isso.

Boromir _ Você não tem cara de quem passa o aniversário dormindo. _ ele ri.

Jessie _  E você não tem cara de que se preocupa em como eu vou passar meu aniversário ou não. _ respondeu rispidamente.

Boromir _ Você é muito sortuda sabia?

Jessie _ Por quê?

Boromir _ As pessoas só te dão atenção pela aparência, porque se fosse apenas pelo conteúdo... Acho que não estaria viva em um mundo como o nosso.

Jessie _ O que quer dizer com isso?

Boromir _ Eu quero dizer que você é insuportavelmente mimada. E que se continuar assim, vai pagar e muito depois. Eu sei que você pode estar "chateada" ou "indignada" comigo, e que apesar de todos os meus conselhos eu possa parecer uma pessoa ruim, mas pela sua "mínima experiência", acredito que sim, concordo com seu irmão, você deve analisar melhor com quem anda ou deixa de andar. Não tem nenhum senso crítico de nada, parece uma criança.

Pela primeira vez, Boromir estava de fato estressado com ela. Nem mesmo Jessie estava entendendo o desenvolvimento daquela conversa e onde ela tinha ido parar. De qualquer forma, apesar de guardar todas as palavras proferidas, Jessie não daria ouvidos a ele, e era isso que deixava Boromir agastado.

Cansado de tentar ajudar aquela menina a arrumar sua postura para com os outros, Boromir pegou suas coisas na arena, sem dizer mais nada, e foi para o seu dormitório. Surpreendentemente, Jessie tinha ficado chateada com aquela atitude dele, mesmo que a estupidez tenha vindo de sua parte.