Amour Fermentant • jjk+pjm

3 • O Abismo Entre Esperanças

🍋 x 🥓

Passaram-se três dias desde que toda aquela confusão aconteceu e, durante todos aqueles longos dias, Jeongguk não viu Jimin, nem mesmo de relance entre uma janela e outra.

Daquela forma, enquanto observava o céu pintar o quarto de seu vizinho em aquarelas tão delicadas pela manhã, de dourado pela tarde e de um vazio tão intenso quando a lua se colocava em seu lugar, ele tamborilava os dedos no apoio de madeira sempre que se perdia naquele pequeno, mas, ao mesmo tempo, tão vasto espaço em frente sua janela.

Suspirava nostálgico a todo momento em que se recordava de alguma guerra de roupas emboladas que ocorreu em um dos cantos daquele quarto; dos sussurros de madrugada quando ninguém podia suspeitar que os dois continuavam empenhados em um quebra cabeça ou um simples jogo de tabuleiro, e das risadas e caretas que trocavam quando a distância de suas janelas e um castigo era tudo o que os separavam.

No decorrer de todos aqueles dias, Jeongguk vasculhou o quarto com os olhos, à procura de um sinal dele ou apenas com a esperança de que ele entrasse ali e o pegasse xeretando suas coisas.

Talvez, daquele modo, todos se esqueceriam do bendito cartão lilás que continha palavras escritas num impulso nauseante, e que só deviam ser lidas diante de um contexto básico sobre uma amizade sincera e bobas piadas internas, ele pensava.

"Você fez muita falta."

Seu rosto se derretia em vergonha todas às vezes que se lembrava daquelas poucas palavras; ele o escondia entre as mãos e, como quem estava submerso em arrependimento, se perguntava sem parar: "onde eu tava com a cabeça?"

Foram três dias infinitos e o seguinte estava apenas começando quando Jeon saiu do quarto, se esforçando para encontrar o buraco da manga de seu moletom e, logo depois, sacudindo o cabelo úmido como um cachorro após o banho.

Ele olhou o relógio uma última vez antes de sair e já se passavam das uma e meia da madrugada.

Quando passou pela porta do fundos, se certificou de que não havia uma única alma vagando pelos arredores naquela noite bonita em que mais uma vez ele traçava o mesmo caminho gramado até a janela estragada do vizinho — aquela que German tentava fechar de todas as formas, mas que na manhã seguinte sempre se encontrava com o mesmo defeito.

Jeongguk evitava pisar sobre os resquícios de madeira e de pétalas murchas ainda espalhadas pelo chão naquele memorável beco entre as casas, e ria nervoso ao se lembrar de que era a principal razão da bagunça daquele cenário.

Ao desviar de tudo aquilo, o encapuzado retirou os sapatos e pisava sobre eles com suas meias azuis. Precisava ser cuidadoso, afinal, que tipo de profissional deixa pegadas?

Ele abria aquela janela com todo o cuidado que possuía em seu ser, mesmo que a adrenalina de estar fazendo algo tão errado o fizesse tremer.

Sempre era como se fosse a primeira vez.

Na medida que entrou e se direcionou ao armário em que o pequeno caderno era guardado, ele ficou de costas para aquele que se escondia atrás de um balcão e possuía em suas mãos a primeira coisa que viu pela frente — Jimin e o cabo daquela panela rasa se tornaram um só assim que ouviu barulhos e percebeu que alguém entraria ali a qualquer momento.

No vislumbre do curto corredor atrás de si, a explicação sobre seu sumiço repentino podia ser encontrada na sala de estar, onde havia uma coberta, um travesseiro e algumas garrafas de limonada no chão.

Jimin passou aqueles dias jogado ali, pois não podia ficar subindo e descendo as escadas e não queria ter que pedir que o ajudassem a chegar até seu quarto.